segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Ainda não posso dizer "home sweet home", mas posso dizer já família doce família. Não vi Lisboa nem amigos, mas estou confortável num meio que domino - apesar de ningém ouvir o que eu digo. Telefonei de propósito para casa, ainda estava no aeroporto de Guarulhos, para avisar que chegava às 12:15, repeti este horário várias vezes, mas o anormal do meu irmão cagou pra mim e foi dizer à minha irmã que e só chegava às 3h da tarde. Por isso, cheguei a Lisboa e ainda fiquei uma horinha no aeroporto à espera de alguém que me buscasse, apesar de ter ligado quando ainda espareva as malas, depois de um voo que ainda atrasou uma horita. O resto da família, só pude ver à noite porque só lhes apeteceu sair de Viseu no final da tarde. E assim fiquei, na Ericeira, a fazer um esforço sobrehumano para aguentar esperar acordada, em mais uma noite de pouco sono.
Mas, enfim, aqui estou, agora já com a família toda, ou quase toda, reunida. Adeus Brasil, adeus Folha, adeus calor, adeus pousada desconfortável e barulhenta, adeus caos de São Paulo. A todos, um Feliz Natal e um Óptimo 2008!!!


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sábado, 22 de dezembro de 2007

No aeroporto de Guarulhos (São Paulo)

Provavelmente... o último post.
Estou aqui neste encantador aeroporto, depois de uma semana que me levou à exaustão. Depois do Rio, dei um salto em Niterói, que é mesmo ao pé, andei muito, muito. Segui para o terminal rodoviário de Niterói, eram umas 8horas da noite, mas já não havia lugares vagos para regressar a São Paulo. Então levaram-me para o Rio, onde já consegui um ônibus. Fiz a viagem durante a noite, mais uma vez mal dormi, e ocupei o dia em São Paulo para visitar coisas que ainda não tinha podido visitar. Depois foi a vez de ir dar um beijinho à Lúcia, coitada, que eu ainda não a tinha visto depois daquele dia no aeroporto... E foi mais uma aventura... grande! Sim, estava lá toda a família reunida... Ai, ai...
Cheguei a casa tarde para ainda fazer as malas. Ou seja, voltei a dormir pouco, depois de mais um dia agitado, e hoje fui muito cedinho para a 25 de Março, uma rua cheia de barraquinhas e lojas bem apetitosas, assim baratinhas... Chegada a casa, no final de uma manhã também cansativa, fiquei à conversa com a Neidinha e até a ajudei numas tarefas. Foi a vez de ir comprar os sapatos da Mónica (e os meus), lá pertinho de casa. Mas o número da Mónica estava esgotado na cor que ela queria. O número seguinte também estava esgotado. Fui procurar net onfirmar o número da Mónica para saber o que ela queria da vida. Apontei o número para ir procurar um "orelhão" ligar à Mónica. Mas atendeu-me o António... que não conhecia a Mónica. Por isso não consegui falar com a Mónica. Regressei à Melissa, experimentei os meus sapatos. E vi que na Melissa calço um pouco mais do que o normal. Pedi para ver os outros sapatos que a Mónica também tinha dito que gostava. Mas também não havia mero da Mónica nem o número a seguir ao da Mónica. Então trouxe uns sapatos que espero que a Mónica goste. Se não gostar, aviso já que não os quero para mim, que não são o meu género.
A fila para pagar era gigante e as meninas sorriam calmamente. Que raiva. O táxi peroporto devia estar quase a chegar à Pousada. Mal consegui corri para a Pousada, mas o taxista já tinha dado o bazo. Carreguei as malas todas e chamei outra vez o taxista, que era muito simpático.
Vim para o aeroporto, para apanhar o avião das 20:35 que aqui me avisaram que tinha mudado para as 00:35. Escrevi uma reclamação, sirandei por aí e estou farta de aqui estar, cheia de dores mosculares e com um soninho desencojador.
Vim para a net caríssima e ainda por cima este computador tem falhas graves: não entra no hotmail fecha as páginas todas quando eu tento entrar), bloqueia e come letras deste texto que eu não estou para reler, mas algum desses "comilanços" deve ter passado sem eu reparar. Que raiva!!
E como tou já a stressar com isto, guardoistoria dos tios para amanhã. Assim acabo em grande.
Sim, Inês, só aventuras lol mas nem sempre pelos melhores motivos... É, só peripécias típicas de uma azarada de primeira. Nem todos têm a sorte de ter azar...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Ao encontro do tenente-coronel

O tenente-coronel Pinheiro Neto esperava-me no alto do seu "posto de vigia". Enquanto isso, eu andava em aventuras mirabolantes para ir dar com o Bope. Peguei o ônibus e dei por mim a dizer à mulher que recebe o dinheiro dos bilhetes: "podjia ávisá pra mim lá nas Laranjeiras?". Não foi a primeira vez que usei este sotaque inconscientemente. Já quando esperava na terminal do Tietê para vir para o Rio fui a correr atrás de uma senhora cujo casaco tinha caído e disse-lhe: "ó aí... o casaco caiu pra você".
Sinceramente, eu não sei se eles fazem tudo "pra mim" ou "pra você", mas devem usar estas expressões com frequência, para que eu já as tenha apanhado. Ridículo. É que cansei de impôr o meu sotaque de portuguesa e ter que repetir as coisas milhões de vezes até que eles percebam (só quando dou uns ares de brazuca).
No entanto, ando também algo surda, sobretudo depois da viagem de autocarro por montes e vales até aqui. Acontece que a senhora que cobra os bilhetes diz que perguntou quem ia sair nas Laranjeiras e ninguém respondeu. Quando lhe pedi que não se esquecesse de "avisar pra mim" (já estava há uma hora e meia no autocarro), ela riu-se e explicou que já tinha perguntado, não se lembrava já quem tinha pedido isso.
Acontece que fui parar à Rodoviária, a última paragem daquele transporte, e tive que pagar a viagem de regresso e estar muito, muito atenta para não perder de novo o objectivo. A senhora que cobra os bilhetes (agora já era outra) lá me avisou. E eu saí. Andei em direcção à Rua das Laranjeiras, nº 150. Deparei-me com um condomínio fechado, um prédio normal... Não, não podia ser aquilo. Nisto, já passavam 10 minutos da hora marcada com o tenente-coronel que me esperava.
Perguntei a várias pessoas se sabiam onde era o Bope, até que, já eu estava desesperada, um senhor da vidreira soube dizer-me. Eu tinha a morada errada, sim. Era lá ao cimo, no morro. Andei uns trinta minutos, o mais rápido possível. Subi a ladeira pelo parquezinho e depois mais umas ruas desertas. Estava um calor desgraçado e eu suava em bica. Estava muito vermelhinha e ofegante, coisa que já não sentia desde as longínquas aulas de educação física. E só pensava "não, eu é que não era boa para ir para o Bope, de certeza".
Enfim, vi a caveira que caracteriza os "caveirinhas". Dois tropas à entrada perguntaram-me quem eu era, avisaram a minha chegada e lamentaram, mas eu ainda tinha bastante para subir. Ainda foram mais uns 10 minutos a pé, sempre a subir, até entrar finalmente na sede do Bope. E o tenente-coronel continuava à espera. Levaram-me até ele. Bem mais simpático e sorridente do que eu esperava, depois de falar com ele por telefone e ouvir aquela forma de falar de tropa.
Mas ele ia ter uma reunião. Por isso sentei-me à espera que a reunião terminasse. Deram-me água porque viram o meu estado de exaustão, além das olheiras que já trazia de uma noite mal dormida (não sei se cheguei a dormir) no autocarro da '1001'.
Enquanto isso, reparei na lindíssima vista que eles têm lá de cima. Vêem o Cristo, o Pão de Açúcar, a Baía de Guanajara, o palacete do governador... Upa, upa! Assim dá gosto! Perdida nesta paisagem lá entrei no gabinete do comandante, o tenente-coronel Pinheiro Neto - já passava das 16 horas... Falei com ele, super simpático, era novinho... Depois subiu comigo ao telhado para me mostrar o outro lado da vista... a favela. E contou-me que eu andei sozinha numa favela, embora fosse a parte mais deserta. Nossa! Descansou-me o facto de ser "a favela mais segura do Rio" e que "os meninos de sete, oito anos, não sabem o que é uma arma, não sabem o que é um traficante, nunca sentiram perigo". Porquê? Foi há sete, oito anos, que o Bope ali se instalou.
Bem, tirei as minhas fotos, admirei o "caveirão" (o blindado deles), e um moço que trabalha para o coronel deu-me boleia para descer a favela no carro do Bope. De volta às Laranjeiras, senti que ficou um monte de gente a olhar para mim, provavelmente a pensar que tipo de crime é que eu tinha cometido para vir naquele carro.
Voltei facilmente a Ipanema, debaixo de uma chuva intensa que começou a cair quando eu estava no telhado do Bope. Sentia-me tão, tão cansada. Ainda por cima, durante a manhã, tinha andado a fazer uma grande passeata pelo paredão de Ipanema até chegar a Copacabana e estar mesmo a chegar a Botafogo. Ainda assim, para aproveitar bem estes momentos cariocas, decidi passear aqui por Ipanema na hora de jantar. Gosto mais do que Copacabana, onde fiquei da outra vez que vim ao Rio. Se alguma vez vierem ao Rio, é... Ipanema é o mais fixe!
Às 21 horas cheguei à pousada, que é estranha, para dormir o mais rapidamente possível. Todas as pousadas aqui são estranhas, parece-me. Cada uma com suas especificidades. Depois mostro a foto da entrada. É que tem uma portinha com um buraco para espreitar. Parece aqueles filmes em que há um guarda do outro lado da porta que pede uma senha de entrada na casa de jogo ilegal. Mas é giro!
Hoje vou passear mais um pouco por aqui, entrevistar mais umas pessoas e, provavelmente, ainda dou um salto a Niterói para ver o famoso Museu de Arte Contemporânea, partindo então de Niterói para São Paulo. Não quero voltar a São Paulo!! É feio, escuro, poluído, instável, stressante... E aqui é tão bonitoooo!!

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Adeus Folha!!

Já disse adeus à Folha. Fiquei contente por alguns me dizerem para ir mandando notícias e para me manter em contacto. Ao menos alguma coisa levo daqui... E, afinal de contas, mesmo não tendo feito assim muitos trabalhos jornalísticos, até aprendi bastante. Ah! E ainda assinei uma peça. Claro que, como irresponsável que sou, não guardei nada dessas coisas. Na altura não liguei e agora até queria ter guardado como recordação e, eventualmente, portfolio. Mas guardei o meu crachá! Já não é mau. Depois, estive quase, quase para andar por lá a tirar fotos da redacção, que é tão impressionante. Mas ainda tenho uma reputação a manter e fiquei acanhada. O mais que consegui foi ir à varanda do 10º piso tirar uma fotografia à vista (que nem é assim tão bonita, não).
Agora estou aqui na Terminal do Tietê a fazer tempo para apanhar o autocarro para o Rio, à 1hora da manhã. Uma vez que a rodoviária do Rio é numa zona muito mázinha, não quis arriscar a chegar cedo demais. Nem ia ter nada para fazer tão cedo. Assim vou refasteladinha na poltrona do autocarro e talvez com um bocadiiiiinho mais de sono para conseguir dormir.
Amanhã lá irei entrevistar o Coronel Pinheiro, o boss. E provavelmente conseguirei subir à favela com eles. Quem sabe dentro do mítico caveirão, que depois vocês poderão ter oportunidade de perceber o que é, um dia que a reportagem seja publicada na Sábado.
O tempo está mesmo a apertar. Já não vou ter tempo para fazer tudo o que queria aqui por São Paulo, acho. Até porque tenho que ir ter com a Tia Lúcia, pela qual a minha mãe me pergunta sempre que fala comigo ao telefone, e que insiste em que eu durma lá em casa. Perdi hoje meia hora ao telefone só para tentar provar-lhe que não era preciso ninguém ir-me buscar porque eu não sei onde vou estar antes de ir para casa dela, porque o metro é mais rápido do que o trânsito infernal que se apanha de carro e porque o metro está em todo o centro e pára a dois quarteirões da casa dela. Ela ainda não entendeu. Queria à força mandar uma das netas ir buscar-me. Mas se isso ia dar mais trabalho a toda a gente, até a mim própria.... para quê??
Ora, só no sábado poderei ir às compras de Natal. Diga-se: estive este fim de semana sem fazer nenhum. Mas foi tão bom!!...
Logo que possa voltar à net vos trarei notícias. Cumprimentos! Já vos vejo para a semana.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Jabá

Jabá. Só jabá, por toda a redacção. Todos falam do jabá e correm com o jabá de um lado para o outro, todos entusiasmados. A mesa da "recepcionista" do 4° piso está cheia de jabá empilhado que é para distribuir. "É Natal, muito jabá", diz um jornalista.
Jabá é o ramo de flores, jabá é o livro, o CD, a planta, a garrafa de vinho ou de licor, é o convite para um espectáculo cultural, é uma passagem para viajar, é o perfume, a caixa de chocolates ou tudo o que se assemelhe a um presente de Natal enviado para a redacção de um jornal. Ainda não conheço a profissão assim tão a fundo em Portugal, mas duvido que seja assim. Não tenho espaço para me mexer nesta mesa porque estou atolhada de jabá dedicado à pessoa que aqui se sentaria não fosse eu estar cá.
O quanto eles gostam deste jabá!! Andam mesmo contentinhos. E queixam-se porque o governo estabeleceu um limite de cem reais para as prendas que eles deviam receber. Por isso já não podem fazer cruzeiros nem viagens familiares a sítios paradisíacos com tudo pago, nem receber telemóveis topo de gama... Coitadinhos! A pena que eu tenho deles!
É neste ambiente jabaleiro que eu me vou embora. É já amanhã, visto que pedi para terminar mais cedo. Tenho aí uns afazeres. A despedida já começa. E, desta vez, ela vai ser feita aos poucos. Primeiro o trabalho, depois o Rio, depois o albergue. E já tive que me despedir da Alicinha, que entrou de férias. Mas anima-me o pensamento do "faltam 5 dias".

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Vou ter saudades disto

Ia eu pela rua abaixo, sempre a direito, sempre a direito, e já via há algum tempo, lá no fundo, uma senhora que passeava qualquer coisa... parecia um cão (pequeninoinoinoino). Passado um pouquinho, porque os meus passos eram mais apressados, alcancei a mulher. E, qual é o meu espanto... quando vejo que a mulher tava com um lencinho a limpar o rabinho do pequenino cãozinho! E ao pormenor! Aninhada, lá espreitava, não fosse algum bocadinho de... cócó... ficar por limpar. Em plena praça pública remexia aquela... nhanha...
Eu ri-me. E foi este momento tão belo que me abriu os olhos. Porque apercebi-me que é destes pequenos momentos que eu vou ter saudades. Cada segundo pode proporcionar surrealidades. Sair à rua é deparar com coisas inacreditáveis. Vou ter saudades da histeria característica de qualquer brasileiro, que teima em fazer dos berros o seu tom de voz normal, que teima em fazer muitos gestos e em usar uma espécie de linguagem física, por vezes agindo quase como aqules coelhinhos da Duracell, que duram e duram e duram. Vou ter saudades de ler em T-shirts, em plaquinhas dentros dos táxis ou em flyers que abundam por aí frases como "Deus nos ama", "Deus nos abençoe" ou "Deus está aqui". Vou ter saudades de não ter paz nem sossego, de estar no meu quarto barulhento onde ouço o telefone da recepção a tocar, a televisão a trabalhar sem ninguém a ver, as pessoas a gritar (ou será falar?) na rua, os autocarros chiadeiros a fazer travagens bruscas na paragem em frente à minha casa, os carros a passar de rajada e as motas, essas, que aqui não têm nenhuma lei que os impeça de quitá-las todas para fazer ainda mais barulho do que o normal e, acima de tudo, onde ouço, todos os dias de manhã, a Alice a chegar e dizer para alguém "Oi! Tudo bom?" e o telefone a tocar logo de seguida (é a Cláudia) e a Alice a atender e a dizer "Alô! Ooooiii", um "oi" meio grunhido que eu não conseguiria jamais imitar...
É destas pequenas coisas que eu vou ter saudades. Vou ter saudades daquele meu processo em que saio do autocarro e imediatamente procuro o crachá da Folha enquanto espero que o semáforo dos carros fique vermelho (porque aquela passadeira, entre outras, não tem semáforo para os peões e então temos que ver como está a cor para os veículos) e, de seguida, andar aquele pedaço de rua até à Folha agitando o crachá numa espécie de acrobacias, empenhá-lo orgulhosamente porque, afinal, "'trabalho' na Folha!".
Vou ter saudades daquelas noites mais frias em que fico demasiado tempo à espera do transporte para casa naquela rua escura e perigosa e fria, com os meus dentes a abanar, não sei se de frio, de medo ou de velhice. Vou ter saudades de ver toda a gente agitada no trabalho e eu aqui, quietinha, caladinha, na maior das calmas quando comparado com os outros. Vou ter saudades de ir ao cinema e, além de não haver pipocas doces, só encontrar filmes que, ou não tenho interesse em ver, ou já vi em Portugal, ou não são passados num horário a jeito.
Apesar das chatices, das saudades, do choque cultural... há coisas que vão ficar para sempre, das quais ainda me vou rir, pelas quais ainda vou chorar e que ficarão para sempre nesta cabecinha, a não ser que, de facto, se confirme que sofro de Alzheimer antecipado.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Mas que ambição!

Impossível não reparar na importância que estes "caras" dão ao corpo. Não há espelho que não tenha alguém a pentear-se ou a compor as roupas. Não há casa de banho que não tenha alguém a lavar os dentes. Até no autocarro as pessoas olham para o vidro para ver se conseguem nele reflectir-se!
Não há sumo que não tenha uma versão light ou zero ou qualquer outra dessas denominações. O normal é o café vir com adoçante, e quem quer açúcar é aqui o coitado que tem que fazer o pedido especial. E os pacotinhos de açúcar são mais pequenos. Eu tenho sempre que pedir dois... e fica toda a gente a olhar para mim! Se quisermos um suco natural temos que referir que é com açúcar, de outra forma eles ou não põe nada ou metem adoçante. Até sandochas com maionese e molhos dizem lá que são light. Até o McDonalds vive mais das saladas, das águas de coco e dos menus light do que de coisas como o Big Mac ou McBacon...
Há uma perseguição qualquer. Até na TV. Das raras vezes que vejo uma televisão ligada só vejo duas coisas: futebol ou aqueles bonecos que passavam aí há alguns anos que é uma família (pai e mãe gordos, avó rabujenta, filho e filha jovens e reverentes e ainda um bébé mimado) de dinossauros verdes com ar asqueroso, mas fofinhos, que usam camizas de flanela, numa versão tipicamente americana do que é divertir as crianças. Não sei se se lembram, mas a popularidade daquilo, ainda, nestes dias, só pode dever-se à necessidade das pessoas o verem... E como, se parece dos anos 80 (talvez seja), se as vozes dos personagens são tão mais irritantes do que aí e se o público-alvo é a criançada? Por que é que há pessoas que vêm isso? Para quê? Cá para mim, só pode significar que aquilo pode fazer as pessoas sentirem-se bem com o seu próprio corpo... uns dinossauros tão horrendos, então, afinal, eu até sou tão bonito (a)...
Por isso, acho que até a televisão reflecte esse cuidado com a aparência. De um lado, esses bonecos terríficos, de outro, o futebol, um incentivo à prática do desporto, mas que também funciona da mesma forma que esses bonecos dos dinossauros (porque, diga-se... jogador de futebol aqui não deve muito à beleza... - ex: Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Pélé... sem ofensa!).
Suponho que haja aí também muitas novelas a dar, mas que eu nunca apanho porque não estou em casa a essa hora. E elas, por sua vez, correspondem ao exemplo a seguir, com as pessoas que o público sempre quis ser...
Mas a eles lhes posso garantir que assim não vão longe! Não é a misturarem arroz com massa e com batata assada e com batata frita e com salada e com carne e com ketchup e com maionese e com mostarda mais o molho de tomate que vão conseguir ter a aparência perfeita! Não é a usarem meias brancas nem aqueles ténis fanhosos sob um fato de treino xungoso, acompanhado de um cruxifixo prateado e um brinquinho douro e óculos de sol made in china bem feios que vão conseguir safar-se! Ai isso eu posso garantir!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Uma questão de português

Já vi que aí chegou finalmente a discussão sobre o acordo ortográfico da língua portuguesa. Esse tema já era aqui muito falado antes de sequer eu aqui ter chegado. E, ao que vejo, há um consenso. Ao menos alguma coisa em que a generalidade de Portugal pense da mesma forma que a generalidade dos brasileiros: esse acordo é ridículo.
O que mais os deixa aqui chateados é o facto de sair o trema. Nós aí não usamos, mas em palavras como seqüência ou eles usam. E, agora, até acho que faz sentido, pois assinala as sílabas que levam "qu" ou "gu" antes de um "e" ou de um "i" em que o "u" também se lê. Aí, deixam-nos frustrados os "h" que vão omitir-se, mas que eles aqui também nem sempre utilizam (reparem: eles escrevem "úmido").
Ou seja, parece que este acordo não passa de uma chachada. Ninguém diz que vai cumprir as regras. E mesmo, se formos ver ao dicionário, diz que a palavra "frauta" existe lá como sinónimo de flauta, porque assim era escrita por Camões. Ora, se "frauta" está no dicionário, então "Húmido" também estará porque assim foi usada, com certeza, por muitos autores.
Mas a mim o que me irrita mesmo é que queiram uniformizar uma língua que, embora a mesma, seja tão diferente nos diferentes países em que é falada. Pelo menos, no que toca a Portugal e Brasil. Acho até que o que deveria ser feito era precisamente o contrário. Nem que fosse como o "british english" e o "american english". Mas, visto que não soa bem "português português" e "português brasileiro", arranjar outra forma de os distinguir.
Senão, vejamos, com esta uniformização... Não imagino o brasileiro a penetrar o nosso país tão facilmente assim. Se analisarmos os nomes das pessoas que aqui conheci e se esses nomes entrassem em Portugal, então nós todos teríamos filhos gozados na escola. Isto falando apenas de brasileiros que conheci, imaginam que dariam algum destes nomes aos vossos filhos? Guto, Gilmar, Gentile, Josmar Jozinho, Vinicius, Natali, Márvio, Ohary ou Wherle, por exemplo, para os meninos, ou Jaqueline, Sida (sim, Sida), Afra, Andrea ou Neide, para as meninas? Certamente que pôr um destes nomes aos vossos filhos geraria traumas graves.
Ora, o que eu acho é que temos que adaptar a língua ao contexto cultural em que nos encontramos. Agora imaginem o que era os portugueses, em Portugal dizerem "esse cara é um boca-suja", "mermão, abraço brother" ou "sabe onde é o ponto de ônibus?". Nunca daria. E os brasileiros, por sua vez, nunca abdicariam dessas expressões.
Concluo, portanto, que isto de uniformização da língua é uma utopia. Apenas uma utopia. Que não é com assinaturas que vai ser conseguida. Se querem realmente uma unifromização, então tratem de controlar as expressões usadas em cada parte do mundo e mandar chapadas a quem usar uma expressão que não seja usada em outro país de língua oficial portuguesa. Aliás, então deveriam também exercer controlo entre o norte e o sul de Portugal, e dos outros países também, porque, dentro do mesmo país, também há regionalismos.
Mas o governo, com certeza, sabe que isto é uma utopia. Porquê tão pouca divulgação em Portugal? Por que é que a bomba só rebentou agora, que já tudo acalmou em terras de Vera Cruz e que já pouco se pode fazer para evadir esta ideia? Não acham que aqui há gato?
Por via das dúvidas, já sei que nome hei-de dar ao meu filho: Afra Jozinho. Que acham? Ou então... Guto Gentile... Bah! Que palhaçada!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

É Natal, é Natal tralitarara

Por aqui, e imagino que por aí também, as decorações natalícias já estão por toda a parte. Presépios bem iluminados em várias esquinas, luzes a enfeitar os prédios proeminentes, pais-natais com sorrisos parvos em todo o lado. Mas o que surpreende aqui é como é que num país tão pobre se pode celebrar tanto o Natal. As decorações são ricas em pormenores, em estrondosidade e iluminação. As crianças andam doidas, sempre a discutir com os pais porque querem tirar fotografias com o "Papai-Noel", mas recebem sempre respostas como "Há outro ali na frente". Então os miúdos fazem ali uma birra porque querem ir ver aquele Pai-Natal e não outro. Eu posso não ser muito velha, mas eu não me lembro de alguma vez ter recebido uma resposta como "há ali outro Pai-Natal à frente"! Então... mas assim não tem graça! Por isso é que aos 3 anos já sabem que o Pai-Natal não existe! (ups! é segredo...)
O Parque do Ibirapuera tem uma árvore de Natal gigante. Às 21horas em ponto, cai neve no Ibirapuera. A galeria Melissa mudou toda a sua fachada e tornou-a toda dourada, sem os cartazes à frente e com um (mais um) sorridente Pai-Natal dourado. Não há shopping que não tenha um belo presépio e muitos Pais-Natais. Na Avenida Paulista, que proporciona talvez as mais ousadas decorações de Natal, todos os domingos há concertos de Natal.
Bom, é muito Natal para, literalmente, dar e vender.
Agora, imaginem, com tanta luz, tanta coisa, tantas pessoas a carregar sacos de compras... imaginem como se sente aqueles pobres apelidados de "pragas". Na verdade, tenho visto menos mendigos. Devem refugiar-se nesta altura do ano... E se eu acho que é um exagero de espírito natalício, que chega a roçar ali a parolice... imaginem-nos a eles!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Planes (podem ler isto como planos ou como aviões, como queiram)

Começo a planear os meus próximos passos e vejo a coisa muito negra. Espanha, me aguarde!! Quem, o quê, quando, onde, porquê? Não sei. Por isso não mais desenvolverei.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Músicas prometidas (a loucuura total!!!)

Bem, meninos, aqui estão as músicas mais famosas da Tropa de Elite:

1) Esta é a mais pesadona, é a trilha inicial.
Osso duro de roer, hein? Também vai pegar vocêêê!!!

2) E aí vai o tão cantado funk.
Hahaha eu ainda não tinha visto o vídeo!!! Vejam este, vale a pena! Back to 80´s!!! Atenção aos pormenores, como os moços que dançam lá atrás! Lindo! Genial! Foi difícil encontrar algum vídeo com este funk cantado pelos originais cantores, e parece-me que este é o único... E vale muito a pena! Tá, a versão actual é um pouco mais moderna... but no video about it!!

Divirtam-se!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Condução´louca na caótica São Paulo

Nem sei como ainda não falei da forma como esta gente conduz. É, sem dúvida, uma grande diferença! Além da falta de civismo e dos exageros de velocidade numa cidade em que há imenso trânsito, que, portanto, só levam a que as travajens sejam bruscas, parece-me que os condutores não precisaram de muitas aulas para poderem guiar um carro - ou então é mesmo o jeito natural que é péssimo. Se, dada a velocidade que por aqui se pratica, percebo por que há grandes nomes brasileiros no automobilismo, não consigo perceber como é que esses grandes nomes conseguiram ainda não ter acidentes de maior.
As primeiras vezes que andei de autocarro aqui foram aventuras em que quase caí umas quantas vezes. Agora já me habituei. Já sei que é preciso agarrarmo-nos muito, muito bem para não cairmos, embora, mesmo assim, os corpos balancem bastante. Ainda ontem, estava eu a vir para o "trabalho", no ônibus de sempre cujo destino final é a Estação da Luz (não, volto a dizer, não é a discoteca de Aveiro), que apanhou ali a descida da Consolação com uma "gáspia" incrível. Ora, não conseguiu travar a tempo no semáforo vermelho que já estava vermelho há que séculos e, por uma questão de milímetros, não atropelou um senhor que estava a atravessar a rua na passadeira. Sucedeu-se que o autocarro parou já até mesmo a traseira tinha passado o sinal. O peão discutia. Os passageiros ficaram assustados e alguns proferiam ums palavras menos adequadas. Ao princípio também me assustei, mas a situação cedo me deu vontade de rir, até porque o motorista prosseguiu caminho como se nada tivesse acontecido.
Já que falo disto, há que referir outras diferenças dos autocarros. Para começar, têm quatro portas, em vez de duas. Duas para entrada (conforme o lado da estrada em que o autocarro parar) e duas para saída. A meio está um guichetzinho com aquelas espécies de porta tipo roldana e um funcionário encarregado por receber o pagamento e deixar ou não que a "porta" rode. Confesso que não sei o nome daquela "porta" que, de certeza, não é uma porta. Depois de passar para a parte de trás do autocarro já não há retorno. Para sair, é nessas duas portas "de saída" traseiras. Vai sempre um monte de gente ali dentro, mas normalmente os senhores são cavalheiros e dão a vez às senhoras para se sentar.
No metro, a única diferença de maior a assinalar é que só a entrada requer um bilhete, enquanto a saída é livre. E usa essas mesmas "portas" de roldana. Parece-me bem mais seguro do que os outros meios de transporte porque há câmaras, não há assim um tão grande excesso de velocidade e falta de civismo e, vejam só, há estações que têm marcado no chão os lugares precisos em que as portas vão ficar paradas.
Já os taxistas, esses, também são loucos. Passar sinais vermelhos é normal, fazer inversões perigosas também, e apitar e gritar com quem também anda na estrada é mais normal do que cumprir alguma regra de trânsito. Mudam de faixas à fartazana, sem olhar para trás, sem fazer um pisquinha que seja e ainda refilam se alguém lhes apitar.
Depois há os motoqueiros. Os piores. Há muitas motas aqui. Têm uma agilidade grande ao passarem por entre os carros, não a uma velocidade estonteante, mas bem rápido para o que eu conseguiria. Quando um semáforo abre, há sempre umas 20 motas que vêm na frente dos outros transportes todos, a jipar.
É engraçado que comentei as minhas impressões com um brasileiro e ele, com toda a razão, disse que eu não tinha muita legitimidade para falar quando estava no segundo país europeu com maior taxa de acidentes nas estradas. E disse que já tinha ido a Portugal e que achava que lá era igual. Mas ele deve estar meio esquecido. Há quem conduza mal, sim. Mas até eu que tenho a carta há pouco tempo acho que conduzo melhor do que esta gente toda. Sério!!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

16 dias

Já só faltam 16 dias para me ir embora. Nem vou acreditar quando entrar no taxi em direcção ao aeroporto de Guarulhos. Ainda mais incrível será o momento em que puser o primeiro pézinho no avião. E quando chegar a Lisboa? Quando vir coisas realmente reconhecíveis?? Quando voltar a ver caras conhecidas, quando voltar a conduzir o meu carinho lindo que a família já usou mais do que eu própria; quando chegar a Viseu e for ao Central tomar um cafézinho enquanto leio o JN.... jogar às cartas e aos dados... ter conversas parvas novamente, sem ser sempre esta coisa chata e séria, que uma pessoas evita dizer baboseiras para não ficar mal vista. Ouvir a nossa língua à nossa maneira vai ser reconfortante e deitar naquele sofá desconfortável para quem se quer deitar e ver televisão, com uma mãe chatinha que também quer deitar-se no mesmo sofá, pelo que ficamos as duas, cada uma para seu lado, naquela posição que já adquirimos para cabermos as duas... as labaredas da fogueira e o avôzinho a dizer "boas nôtes até amanhém se Deus quiser"... em Lisboa, ainda, reunir toda a família, ver sobrinhos que são os bébés mais lindos do mundo, e priminhos lindos, outros já cresicdos que já não têm tanta piada... revisitar a baixa e o Bairro Alto... socializar finalmente! E, acima de tudo, não ter nada em que pensar, nada de stress, nada de horários a cumprir, nada que nos faça ter mais um dia estragado... a não ser que a minha mãe se lembre de dizer "Helga, já enviaste os curriculae?", "E o relatório, já foste entregá-lo ao professor?", "Não te esqueças que tens que ir ao dentista amanhã!" ou "Vem comigo à rua....". Apesar de não querer pensar em nada disso a não ser no momento em que tiver que fazer cada uma das coisas (para isso serve o alarme do telemóvel), no fundo até dessas preocupações constantes da mãezinha tenho saudades (mas, mãe, não é para abusares! ter saudades não significa gostar!!! :) )
Enquanto esses dias não vêm, por aqui estou, a contar cada dia que passa. Dias vazios, dias inúteis pelo dia em si, mas úteis num futuro próximo. Enquanto esses dias não vêm, continuo na minha rotina: acordar às 11horas, arranjar coragem para enfrentar mais um dia chato, estar às 14horas no "trabalho", passar a tarde toda na internet, a trabalhar ou não, ir para casa e dormir.
Hoje é mais um dia assim (ah! hoje até vou ver um concerto da Sinfonia Fantástica, que, dizem, é fantástica), mas de resto, amanhã assim o será e por aí em diante.
16 dias. São só mais 16 dias assim.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

In e out

Está in:
- Usar catupiry em todas as comidas (catupiry é uma coisa estranha, que não é requeijão, não é manteiga, nem é maionese... anda ali no meio)
- Dizer coisas como "que massa", "gringo", "moleque", "ônibus", etc etc etc, essas coisas que se ouvem nas novels - ou não.
- Cantar as músicas de "Tropa de Elite", um filme do qual já aqui falei e que teve muito sucesso, músicas essas que postarei em breve no blog.
- Dizer coisas como "Cadê o baiano?", "Pede prá sair" ou "O Bope vai te pegar", frases retiradas do mesmo filme.
- Usar roupas frescas, que o calor aperta... mas hoje já choveu...
- Ter sempre um guarda-chuva e um casaco na mala.
- Lavar os dentes em locais públicos.
- Sorrir sempre.
- Viajar para todo o lado.
- Dar a ideia de que se vai fazer jogging. Para isso, usar calças de licra bermudas, boné, ténis brancos e, quem sabe, meias brancas.
- Ouvir música de i-Pods, mesmo que se esteja a atravessa a zona mais perigosa de São Paulo.
- Tiroteios vários a ocupar as páginas de jornais.
- Comida italiana, que é a mais típica de São Paulo.
- Piadas sobre portugueses (nunca saem de moda).
- Pôr música tão alta nas lojas (nem que sejam lojas de mecânica) que se ouça em todos os arredores, para que as pessoas notem que ali está a loja. De preferência, uma fila de meninas de pompons a dançar à porta.
- Misturar massa com arroz, feijão, salada, batata... Eles msituram tudo.
- Trabalhar na Folha

Está out:
- Ser do Corintians, que desceu de divisão (imaginem um Sporting a descer de divisão... sem querer fazer prognósticos, claro!)
- Não sair ao sábado à noite.
- Beber caipirinha. Quem bebe caipirinha é o "gringo". Este povo bebe cerveja, só e apenas.
- O estrangeiro morar em lugares chiques. Anda uma onda de forasteiros que preferem ir morar para a favela.
- Humor português. Diz que é ingénuo... (essa doeu!)
- Falar de pobreza e miséria.
- Defender o Hugo Chávez. Aqui tem que se ser contra até ao mais ínfimo pormenor.
- Música popular brasileira (Martinho da Vila e esses todos que a gente conhece).
- Comida saudável ou, por exemplo, um bitoque. Só arroz, batata e carne??? Não! Tem que levar também massa, feijão, salada e o que mais houver. Grão de bico? Pode ser, se houver...
- Não gostar de tomate.
- Calças à boca de sino.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Tios em acção

Fui visitar o Museu da Independência. Adivinhem com quem? Com o tio Anastácio.
Cheguei atrasada (30 minutos atrasada, depois de grandes correrias pela manhã). Entrámos no museu, ele não paga porque é da terceira idade e decidiu pagar a minha entrada. No fundo, não vi nada do museu. O tio Anastácio queria mostrar-me as coisas realmente interessantes ali dentro. Primeiro, subimos a escadaria do edifício que ele jura a pés juntos que nunca foi um palácio. "Que palácio? Isso é um museu, então...!". Mas aquilo para mim era um palácio, com aqueles jardins típicos, os rebicoques sumptuosos. E já confirmei que sim, foi um palácio em tempos. Bom, enquanto subíamos a escadaria observávamos os retratos expostos nas paredes. O tio Anastácio fazia questão de me dizer quem era o D. Pedro I (do Brasil) e a Dona Leopoldina. Como se eu não soubesse ler aquilo que estava lá escrito com letras bem gordas.
Chegámos ao piso superior e entrámos nas várias salinhas. Qualquer que fosse a coisa exposta ele fazia questão de me explicar: "olha, olha aí, isso eram as espadas e as armas... eles antes não tinham pistolas... ah e aquilo ali é aquilo que os soldados vestiam, as arma... arma, já não sei como se chamam". Começavamos bem. De qualquer das formas, ele achava que aquilo não era importante. Queria rapidamente mostrar-me aquilo que ele chama o "quadro da independência". Finalmente entramos na sala onde estava o dito cujo, que afinal não era mais do que um quadro maiorzinho chamado "Independência ou morte", que representava a cena da independência - tal como os outros. E sempre, em todos os quadros, ele dizia-me qual ali daquelas figuras era o Dom Pedro.
O resto do piso era dedicado ao mobiliário da côrte. "Olha a cama da Dona Leopoldina!". Todas aquelas coisas eram, segundo o meu tio, pertencentes à Dona Leopoldina... mesmo que lá estivesse a dizer que pertenciam à condessa santa não sei quê, ou a outra pessoa qualquer.
Até aí tudo bem, apesar de sentir que ele era a entropia principal na informação que recebia (agora percebo mesmo o que é entropia), e apesar de não ter tempo para ler as explicações, porque o tio Anastácio contentava-se com a explicação que ele próprio concebia. Às vezes, ele até lia qualquer coisa - o nome dos quadros, leu-os todos com alguma dificuldade em voz bem alta, para que todos soubessem o quão culto ele é; as datas, essas, também repetia em voz alta, essas já mais rapidamente. Até numa salinha em que havia um filme sobre um quadro com uma voz-off e, além disso, com as legendas daquilo que a voz-off dizia, ele conseguia repetir as datas e explicar o que estava a acontecer: "Olha, quando o filme pára aqui, acende ali a luz no quadro", explicava, conhecedor, quando se apercebeu que isso acontecia (escusado será dizer que já toda a gente tinha percebido isso). Os comentários do tio eram cansativos.
Mas só depois de tudo isto é que as frases mais chocantes foram proferidas. Enquanto víamos o mobiliário, segundo ele, da dona Leopoldina, sai-se com esta pérola: "Ah, mas que interessam os móveis, nunca se sabe se eram desse tempo ou não... eu não acredito, depois de tanto tempo já tinham virado farelos... eles de certeza que fazem uns novos, mas a gente não sabe". Tentei explicar-lhe que havia formas de proteger os móveis, para que não se degradassem tão rapidamente, mas ele disse que "essas coisas pra proteger não servem de nada, filha". Imediatamente a seguir, lá vem com mais uma informação. É que no Museu de Ipiranga há muito turista... Jura? Um museu com turistas?? Não digas!!... "é, essa garotada toda aí não é daqui, quer ver?". Então o tio adoptou uma técnica especial. Podia perguntar simplesmente de onde vinham, para me provar de que estava certo. Mas não. Vejam a aproximação que ele fez a uma miúda: "Oi, chega aqui ó moça!", gritou. Quando ela se aproximou, lá vai disto: "Ocê quer ser minha namorada?". Claro que a garota ficou envergonhada. Mas, ainda assim, em vez de lhe mandar uma chapada, riu-se, disse qualquer coisa que não percebi e só depois o tio perguntou de onde eram. Por acaso eram de São Paulo, ou seja, tanto ele como eu estávamos errados.
Depois de termos já visto a pintura que ele tanto me queria mostrar, apressávamo-nos agora na procura da sala do dinheiro. A partir da parte dos armários, aí é que não vi mesmo mais nada. Já mais nada interessava e o tio afirmou mesmo várias vezes que "interessa ver é o dinheiro, quero ver o dinheiro, pô, onde é que tá?". É... Não vi mais nada porque, afinal, a sala das moedas não apareceu porque, afinal, o museu foi assaltado.
Saímos enfim do museu em direcção a casa dele para encontrar a tia Conceição e lá me oferecerem o almoço. Saímos do jardim anexado ao palácio e fico surpresa quando vejo que o tio conhece toda a gente ali. E então percebi que ele vende ali sucos, refrigerantes, águas, "até água de côco eu vendo ali". Já não tem a padaria! Passámos no supermercado para comprar um frango e seguimos em paz, até ao enfim reencontro com a tia fortona.
As discussões entre os dois são surreais. Cada um mais "cabeça-dura" que o outro. "Você foi buscar o frango aí?? Eu disse pra ir naquele lugar em que também vem a farofa e a batata, Anastácio!". E comenta mais baixo, para mim- "faz tudo ao contrário". Mas prossegue: "aaahhh, você não mandou cortar o frango, meu deus? eles cortam tão direitinho!!! eu não pedi pra você mandar cortar ele?". Uma série de reclamações por aquilo que o tio Anastácio fez naquele dia. Mas o também conhecido por portuga ou Almeida (descobri hoje), não fica atrás nas implicâncias. "Ainda não fez o almoço, mulhé?" ou "Pára de falar bobeira" são algumas das frases mais citadas pelo tio.
Tentei apaziguar o ambiente. "Então, tia, não veio connosco ao museu? Pensei que também ia!". Mas devia ter estado calada. Enquanto ela dizia que o tio não lhe disse pra ir e que ele nunca quer ir passear com ela, o tio dizia que ela tinha que ficar a fazer o almoço, de outra forma, quem o faria? Então, preferi manter-me mais calada. Quando um se ausentava, o outro pedia-me para não ligar às "bobeiras" do outro. Uma confusão.
Entretanto, o tio insistia que eu bebesse cerveja, vinho, cachaça... Mas eu recusava sempre... Se tivesse aguinha preferia, que até estou com sede. Sim, estão a imaginar-me a beber cachaça às 11h30 da manhã... lol "Ah, mas caipirinha você tem que beber... vai beber uma caipirinha como nunca bebeu, que eu faço uma especial". Continuei a recusar, justificando que ia trabalhar à tarde e que não me ia pôr ali a beber. Mas teve que ser... Ele fez mesmo a caipirinha por minha causa, misturou pra lá umas coisas que eu não sei o que é, e ainda me chega a tia Conceição com uma coisa chamada "Pinga da Roça", uma bebida típica de Minas, que eu tinha que provar... Conclusão, ali em jejum já nos copos... Aquela pinga da Roça é forte que dói, tipo cachaça, nem sei se é cachaça, e mais uma data de bebidas na mesma caipirinha muito doce... A minha mãe diz-lhes!! Depois chegou a hora de comer e fui obrigada a comer uma refeição que daria para três ou quatro pessoas... Já empanturradíssima, o tio continuava a pôr-me frango, a tia queria fazer mais massa, depois de um prato a abarrotar. Ainda assim, fui obrigada a comer quatro rodelas de abacaxi na sobremesa e a provar um pouco da carne em vinha de alhos (como um lanche que se cruza com o almoço) super salgada que a tia tinha acabado de fazer.
Alguma coisa má esteve prestes a acontecer. Agora percebo a falta que faz um vomitório... Estava mesmo mal disposta. Fui passear com a tia, a ver se fazia a digestão. O tio ficou de ir ter connosco, mas não o encontrámos. Regressámos a casa, lá estava o tio. A ideia era eu ter ido directa para casa. Mas estou aqui e ainda não fui a casa. Acontece que a tia achava que eu ia passar o dia todo com eles, e até mesmo que lá dormiria. Esta mulher tem um qualquer tipo de problema e, concerteza, sente falta de passear e falar com pessoas. Expliquei-lhe que tinha uma reportagem para fazer e que ainda tinha muitos planos para hoje. Disse-lhe que ia para a Liberdade, e tinha mesmo que lá ir, embora a minha vontade naquele momento fosse ir para casa dormir. Ela fez questão de me acompanhar. Pediu ao tio que nos levasse ao metro de carro. Sim, andei naquele carro fantástico outra vez e voltámos a ficar atravessados na estrada... e percebi que o condutor também não ajuda muito à prestação do bolinhas. A tia fez questão de berrar para dentro da Casa de Portugal (onde eu ia falar com pessoas como jornalista) a dizer "óóóóhhh, vem cá, ela qué fazê umá perguntá prá você". E ausentou-se... Que vergonha!!! Mas quem a mandou? Eu ia despedir-me dela, despachá-la, e depois, aí sim, ia tratar das coisas de forma civilizada. Não queria esta entrada espampanante. Expliquei ao senhor o que queria, ele mandou-me entrar, era de Aguiar da Beira, lá em Viseu, e super simpático. Nem sequer pus em questão chamar a tia para entrar. Para passar vergonha, já chegava. Ela estava a ver qualquer coisa do outro lado do passeio quando eu entrei. Já lá dentro há um pouco, ouvi um berro da tia, do lado de fora. Disse adeus e mandou-me um beijo. Não tem noção das coisas!!! E foi embora...
Ela já sabe que quando eu lá voltar vai fazer bacalhau para mim. Ai, mas eu nem vou perder tempo a ir lá, tenho mais que fazer...

sábado, 1 de dezembro de 2007

Brand news

Antes de mais... Mónica, uns sapatos são 30 e outros 40 euros (os não-sei-quê disney são os mais caros). Até fiquei parva quando vi!! Mas só vou ter espaço na mala para um par lol e mesmo assim... já vais com sorte lol
Depois... tenho em mãos duas reportagens trabalhosas: uma para a Folha (para a editoria onde eu já não estou mais) e outra para a revista Sábado. Não vou ter tempo para nada estes dias, logo agora que são os momentos derradeiros para conseguir visitar tudo.

E ainda... amanhã vou estar com os meus tios outra vez. Serão horas bem duras- desde as 10horas e espero conseguir libertar-me às 14 hora, mas vai ser difícil, que eles vão-me ficar a enrolar e vão querer que eu fique mais e mais... mas tenciono de seguida ir ´ver o mercado municipal, que ainda não pude ver e ainda o MAM (Museu de Arte Moderna) que fica um pouco deslocado... Para depois me pôr a trabalhar. Mas eu não quero trabalhar, eu quero férias!!!!!

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Contrastes

E fui, fui para a favela, aqueles caminhos de terra e os barracos mal-cheirosos. À entrada, a Dona Jozilda vende frutas e milho. Crianças correm atrás de uma pedra e jogam uma espécie de futebol com ela. O senhor Fábio convida-nos a entrar na sua humilde casa. Cheira a podre lá dentro. Tem dois compartimentos: a sala de estar, composta por um sofá, uma banca, uma TV e uma mesa onde a TV está apoiada, e o quarto, onde está uma mini-cama e um balcão. Tem ainda os arrumos, com paus e metais, à porta de casa. O senhor Fábio mora ali com a mulher, a cunhada e os dois filhos pequenos. Cães com sarna passeiam-se pelo Morro Alto (acabei por não ir à Rocinha, fui antes para o Morro Alto). Um grupo já se junta à nossa volta para responder às perguntas do jornalista. Quem por ali passa olha de soslaio para as duas personagens intrusas no seu espaço. Alguns param e ficam ali a olhar. O objectivo é continuar a penetrar a favela, mas o jornalista ainda inexperiente, para minha surpresa, decide pôr-se ali a falar ao telemóvel de forma nervosa. Uma alma penada decide avisar-nos que não deveriamos estar ali e que é melhor não seguirmos mais em frente, que as coisas vão pior. Dezenas de pares de olhos estão fixos em nós. Na verdade, o trabalho está feito. É melhor mesmo voltarmos para trás e chamar o carro rapidamentte. "Tem 20 segundos para estar aqui", diz o jornalista, mais nervoso ainda do que eu.
Dia seguinte...
Acordo de madrugada. Uma longa viagem espera-me até Ilhabela, uma ilha chique, cara e elitista. Durmo durante quase toda a viagem. São 10 horas quando acordo e começo a mirar uma paisagem esplêndida. Lá do alto da montanha, pelo caminho sinuoso, o céu limpo realça um mar azul claro e a área verde protegida. A travessia só pode ser feita de helicóptero, de iate ou no ferry boat que nós apanhamos. Levo o repelente para afastar os insectos. Mas não vejo muitos e eles não me atacam. Carros de grandes marcas, gente da classe alta e poucos moradores humildes preenchem alguns pontos da cidade, ainda com pouca mão-humana, repleta de árcores, com pequenas praias, com palmeiras e coqueiros e aquele mar tão azul. Está calor e sinto aquele dia como uma inspiração de tranquilidade e paz. Somos quatro pessoas e raras são as frases que se soltam. O centrinho é como uma pequena vila. E aquela paisagem hipnotiza-nos a todos.
Este tema também já é recorrente. A miséria e as classes sociais altas. O choque é profundo, garanto-vos. Há uma fatia da população de São Paulo que se movimenta apenas de helicóptero. É como uma gradação. No chão, bem no chão, os mendigos deitados. À medida que vamos erguendo a cabeça chegamos às pessoas de classe média. Se olharmos o céu, aí sim, estão os grandes ricos, naqueles transportes movidos a hélice que frequentemente atravessam os céus e me acordam de noite. Sempre longe, lá bem longe, como se de um trono se tratasse e nós, fiéis submissos, aqui em baixo, fizessemos vénias. Depois há estas ilhas, estes lugares reconfortantes, a que só eles têm acesso. Várias vezes, ao andar de carro nos arredores de São Paulo, vemos imensas favelas e, ao lado, enormes mansões. O problema não está nas favelas. O problema está nas mentalidades. Os grandes ricos vêm as coitadas das pessoas das favelas como uma praga. Dizem coisas como "tirem essa gente daí, já nem se pode estar em paz!". Em vez de comprarem um helicóptero para cada membro da família, por que não comprarem uma casinha humilde a uma família da favela? Não sei quem será pior.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Os brasileiros são trafulhas?

Já havia a ideia de que os brasileiros eram um bocado trafulhas. Admitam que essa característica faz parte do estereotipo que os protugueses criaram dos brazucas. Eu diria que isso não corresponde à verdade, se algumas situações não demonstrassem essa trafulhice.
1) Comprei uns cereais da marca Pão de Açúcar (a marca do supermercado, como é aí a marca Pingo Doce ou Dia). A embalagem era do tamanho por exemplo de umas Estrelitas, mas os cereais eram tipo Nesquick. Eram os cereais mais baratos, coisa que não estranhei por serem da marca que eram. A caixa andou ali uns dias, mas, quando finalmente abri a caixa senti-me enganada. Ok, a caixa era enorme, mas o saquinho que vem dentro da caixa contendo os cereais era do tamanho dum saquinho de Cerelac ou Nestum. Óbvio que bastaram duas taças de cereais para comer tudo. Sim, uma trafulhice!
2) Telefonei para um restaurante chinês que faz entregas ao domicílio para pedir um combinado, que trazia crepe, refeiçao e refrigerante de lata. O papel dizia que isso tudo custava 13.50 reais. Encomendei mas tive que pagar 15.50 reais. Pensei que o papel com a informação do combinado estava desactualizado. Não! Quando abri os sacos de comida vi também um papel (concerteza actual) dos pratos de comida e o combinado que pedi custava mesmo 13.50 reais com o refrigerante incluido e tudinho. Sim, isto é uma trafulhice!
3) Antes de telefonar para o chinês tive que andar à procura de alguém que me desse um CPF (o BI deles) para conseguir fazer chamadas do telemóvel brasileiro. Tinha carregado o cartão com 11 reais. Depois desta chamada com a duração de uns 3 minutos fiquei com 3 reais. Sim, isto é uma trafulhice!

Desculpem não desenvolver mais a minha teoria, mas acontece que acabaram de me informar que vou agora prá Rocinha - uma favela em São Paulo. Também há a Rocinha do Rio, que é muito conhecida (tanto que cheguei a ver anúncios a visitas guiadas à Rocinha enquanto lá estive). Mas é a de São Paulo. Vou prá favela!! Devia ter vindo mais mal vestida.
Give you news later!!!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Erro crasso

Saio da redacção por volta das 19 horas. Caminho em direcção ao "ponto de ônibus". Como sempre, esforço-me por prestar o mínimo de atenção àquilo que me rodeia. Um grupo de homens está reunido ao pé da garagem da Folha. Como sempre, contorno o grupo que me barra o caminho pelo mais longe possível. Regresso ao passeio. Uma miúda farrusca caminha no mesmo passei na direcção oposta à minha. Como sempre, desvio o olhar e, inconscientemente, dou passadas para mais próximo da berma do passeio, para não ter que passar tão perto da condição de pobreza. Como sempre, olho a pequena no intuito de confirmar se estou suficientemente afastada dela.
Nisto, o meu olhar cruza o dela.
- Posso te pedir um favor?, interrompe, num jeito de carência e inocência.
A surpresa não evita que o meu passo abrande nem que os meus olhos fixem os da garota com uns 15 anos, de roupas sujas e andrajosas, que ali espera, tímida e sorridente, alguma resposta.
- Sim., respondo-lhe seca, apreensiva e pouco segura do que fazer.
- Eu tou com fome!, retruca.
Pela pessoa que ali se me apresenta, eu logo percebi que uma esmola seria bem-vinda. Mas dito assim, desta forma, quebra-me o coração.
- Queres comer?, pergunto, ainda abatida.
- Eu queria feijoada!, arrisca a garota, que, logo depois de proferir estas palavras, olha o chão num misto de timidez e desilusão.
- Queres feijoada?
- Sim. Você podia vir comigo. Ali há uma padaria e eles devem ter feijoada lá. Você vem comigo?
Não é assim tão tarde. O que me custa levar a miúda esfomeada e dar-lhe de comer?
Dou meia volta e sigo lado a lado com a garota para lhe tirar a fome e fazer a minha boa acção do dia.
- Posso pedir outro favor?, atreve-se a miúda farrusca.
É preciso ter lata para me pedir ainda mais!! Mas não consigo dizer não.
- Sim, pedir podes...
- Mais ali à frente, que eu aqui tenho vergonha!
Estamos a passar à frente da Folha e, por algum motivo, ela sente-se constrangida. Só depois ela faz o pedido:
- Se pudesse... Eu também gostava de tomar banho. Ó pra mim, tou muito suja!...
Mau! Então mas eu sou quem?
- Sabes, eu moro longe daqui... não tenho como te dar banho!
- Mas não é isso!, explica, Há ali um lugar onde pode tomar banho!
- E quanto custa? Sabes?
- 7 reais...
- Eu não sei se tenho aqui dinheiro para tudo. Mas fazemos assim: eu vou contigo comer e depois vejo se tenho dinheiro para tu ires tomar banho.
- Qual é o seu nome?, dispara a garota.
- Helga. E tu, como te chamas?
- Eu sou a Lara, prazer!
A miúda fica pensativa, até que se manifesta:
- Ah! Então... Se não tiver dinheiro... Então eu preferia tomar banho, que assim aproveitava lavar estas roupas e tudo...
- E é muito longe?, pergunto-lhe, já com uma certa irritação na voz.
- Não... quer dizer, um pouquinho, só. Ia demorar só umas duas horas, mais ou menos, pra secar...
Já estou a ver que vou perder um tempão a ir lá com ela.
- Está. Então olha, eu vou dar-te o dinheiro para ires lá e vais lá tu. Mas promete que vais usar esse dinheiro para comer ou tomar banho!
Saco de uma nota de 10 reais e dou-lhe, para assim ajudar uma criança que mete dó. Dou meia volta outra vez e faço novamente o percurso até ao autocarro, enquanto penso no sucedido. Mas que raio me passou pela cabeça? Que estúpida!! Nunca lhe devia ter dado o dinheiro. Devia ter ido com ela e pronto. Como será que ela vai usar o meu precioso dinheiro? Ah! Mas ela era tão querida... Ou então sabe-a toda!... Nem chegou a prometer usar bem o dinheiro.
Adúvida assombra-me durante todo o percurso até acasa. E, cada vez mais, acho que a miúda inocente se aproveitou da pouco menos miúda com ar um pouco mais maduro (não muito). Cada vez mais acho que a inocente ali fui eu. Até porque - não sei como não me lembrei disso antes - havia ali lugares mais próximos para comer feijoada. Por que me levaria ela para tão longe?
Chegada a casa, conto à Neide aquilo que se passou, meramente para tentar perceber se este caso é normal. Ardi em fúria porque a Neide confirmou que era normal para quem quer comprar droga.
- É... Eu já morei perto ali do seu trabalho e ali há muito disso. Muito pedinte, muito menino na droga, cheirando cocaína... Eles já sabem como iludir as pessoa. Mas a gente fica sempre na dúvida, né, esses meninos metem pena...

sábado, 24 de novembro de 2007

Portugal (sábado)

Primeiro, vi a actriz Maria João Bastos na capa de uma revista, tipo sex symbol. Depois, falam-me do Scolari e da selecção portuguesa. Parece que hoje Portugal faz questão em estar na minha mente.
Ainda estava em casa, de manhã, sim, que hoje felizmente é sábado, e pensava distraidamente numa série de momentos engraçados da vida. Daquelas coisas que aconteceram e que eu nem nunca mais tinha pensado nelas, por terem sido momentos tão fugazes. Mas coisas como "o meu pópó no teu pipi (piiiipiii, piiipiii)" ou o remix "Avé Maria" do dia da morte de Sua Santidade o Papa João Paulo II animaram bastante o dia. Claro... Também me ocorreu a regueifa, o "Pão com Manteiga" à porta da padaria, entre os demais momentos, daqueles momentos que, embora não pareça, vão perdurar ainda muito tempo nesta cabecinha.
Agora estou na livraria Saraiva. Nunca tinha aqui entrado, apesar de ela estar espalhada por todo o Brasil. É uma megastore, a Fnac daqui da zona. E vi umas coisas baratinhas! CD's até bacanos a preços razoáveis. Lenine custa 16 reais (6 euritos). E achei engraçado. Percorri toda a loja e não vi nada de grande interesse. Mas na parte de reggae/pop-rock/rap (que, só por si, é uma área demasiado vasta, não?), encontrei coisas como Pitty, Lenine e Marcelo D2, mas também, vejam só como se insere aqui tão bem, Sepultura, Djavan, entre outros. Isto é, aqui há, realmente, divisões, mas, no fundo, é uma "salganhada" total. E, vejam só, descobri uma banda chamada Tia Nastácia. Claro que imaginei o meu tio Anastácio numa banda de reggae, aquela pancinha a dar a dar, o bigodaço, aos saltos loucos no palco. Esta imagem envergonhou-me. Na tabela dos mais vendidos, qual é meu espanto quando vejo Nelly Furtado.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Anedotas de portugueses (sinceramente não acho piada)

- A Caixa de fósforos
A Dona Conceição e o Senhô Joaquim são casado, mas a vida não tá faciu. Um djia, djicidem que, para conseguir melhorá suas vidas, a Dona Conceição tem qui viajar pró Brasiu. Aí, ela chega no Brásiu e encontra um montji de coisa que ela nunca tjinha visto. Meu Deus, era televisão, elévádô, um montji dji máquina isquesita... A Dona Conceição vai no supémercádo e também encontra muita novidadji. Quando ela liga pró Senhô Joaquim ela fala qui o Brásiu é muito légau, qui éxiste tanta coisa djiferentji... "Joaquim, eles têm até uma caixinha com uns pauzinhos lá dentro, que chamam fósforos, acho eu, e aquilo... se riscares um pauzinho na caixa faz fogo!!". "Como é isso, Conceição? Fogo?", respondji o Senhô Joaquim. "Sim, fogo, Joaquim! Não acreditas em mim? É, eu vou enviar aí pra Portugal uma caixinha dessas e vais ver como eu falo verdade! Espera aí que tu vais ver!"
Passado algum tempo, o Senhô Joaquim liga a Conceição, depois dji récébé a tal caixa de fósforos. "Olá Conceição! Olha, experimentei os pauzinhos e aquilo não está a funcionar!". "Como assim, não funciona? Eu expliquei tudo direitinho para ti. Tiras um dos pauzinhos e depois, com alguma força, sem partir o pau, raspas naquela parte vermelha...". "Sim, Conceição, mas eu não consigo, cá para mim isso não é verdade, não acredito nisso! Já experimentei várias vezes e nada!". "Joaquim, mas não é possível isso! És tu que estás a fazer mal! Como é que não funciona se eu experimentei todos os fósforos antes de enviá-los?"


- Alunos portugueses em sala de aula
Você sabe diferenciar um aluno português burro e um aluno português inteligente?
O aluno português burro copia em seu caderno tudo o que aprofessora escreve no quadro e depois, quando a professora apaga o quadro, o aluno apaga tudo em seu caderno.
Já o aluno português inteligente não copia nada que aprofessora escreve no quadro pois já sabe que ela vai apagar tudo quando acabar a aula.


- Seguro de vida
O gerente da famosa seguradora fica indignado ao receber o primeiro contrato de venda do seu mais recente funcionário (um português): - Pô, Manoel! Como aceitou fazer seguro de vida para um homem de 96 anos de idade?E o Manoel, com toda a tranqüilidade:- Não se preocupe, chefe! Antes de fechar o negócio eu consultei as estatísticas e constatei que morre pouquíssima gente com essa idade!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Falta um mes!

Oi gente! Ando a descurar as novidades por aqui, é verdade, mas não tenho tido tempo nem paciência. Agora que o sol chegou sempre fico com mais energia. Descobri que a rua onde moro é mesmo fashion. Encontrei por lá lojas de variadas marcas: a Guess, a Diesel, a Eastpack, a Miss Sixty, a Reebok, a Adidas, a Nike, entre outras, e um monte de lojas alternativas - entre as quais a galeria Melissa, uma sapataria bem gira que a minha irmã me andava há que tempos a mandar procurar.
Parece-me que os brazucas gostam muito de lojas de desporto. Sobretudo daqueles ténizinhos todos brancos, normalmente horrorosos. E toda a gente usa esses ténis durante o fim de semana. E o fato de treino, como constatou a Marina. E com cores báriazzz. São todos muito simpáticos, mas muito diferentes de qualquer portugues ou mesmo europeu.
No Rio conheci muitas pessoas. Um argentino que mora no Rio há 5 anos compartilhou a minha opinião de que os brasileiros não são felizes - apenas tentam se-lo (desculpem, este teclado é diferente e ainda não encontrei os acentos circunflexos), ou demonstrar que o são para transmitirem boas energias. Além disso, uma opinião desse argentino ficou-me na memória: ''O Brasil é o único país do mundo em que a mulher é vista como carne. E as mulheres gostam de ser assim tratadas.'' Eu nunca tinha pensado nisso, mas acho que posso concordar. Nunca vi gente que se preocupasse tanto com a aparencia como as mulheres brasileiras (mesmo que o resultado final nem sempre seja o melhor). E nunca vi povo que se preocupasse tanto com os homens ou as mulheres bonitas que se encontram no mesmo espaço. Dá-me a sensação de que eles frequentam determinado lugar pela quantidade de pessoas bonitas que estão lá. Apenas. Não olham às outras coisas. Talvez à música. Nunca à beleza do local em si. Nem ao conforto. O importante são as caras larocas que por ali se passeiam. Apenas. Mas eu acho piada aos brasileiros precisamente por estas diferenças culturais. That's it!
Entretanto, estou a ver se consigo fazer uns trabalhitos tipo freelancer para ganhar uns trocos. A minha cabeça já está cheia de ideias. Só preciso de luz verde e de encontrar energia no mais ínfimo do meu ser para começar. Para depois chegar a Portugal e poder, finalmente, deitar-me naquele sofá enroladinha num cobertor e com a fogueira bem acesa enquanto vejo os programas de TV mais estúpidos. Ir ao Central beber aquele cafézinho enquanto leio o JN para depois jogar umas cartas com pessoas e conversar até não ter mais assunto (se bem que acho que nunca fico sem assunto :D).
Falta um mes!

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Cansada, mas ainda me faltava

De volta a São Paulo. Cansada. Cansada demais para exercitar o corpo ou a mente. Cansada demais para ter coragem de acordar todos os dias de manhã para sair de casa, esperar o autocarro, apanhar o autocarro apinhado, sem nenhum lugar suficientemente livre para me agarrar, evitar cair com os solavancos e ondulações destes motoristas que conduzem doidos, fazem travagens bruscas, não se desviam dos buracos da estrada e, muito menos, andam devagar. Cansada demais para entrar na Folha, ser sempre simpática, sorrir sempre e ver sempre pessoas novas que nunca sei se já me foram apresentadas ou não. Cansada demais para parecer calma, quando tudo o que eu queria neste momento era estar deitada na caminha, bem enroladinha nos cobertores, com um aquecedor ou uma lareira que me trouxessem mais calor. Ah, em Viseu, de pijama, deitada no sofazinho a ver TV, a comer castanhas assadas com a minha mãe, com a fogueira de Novembro a irradiar-me a alma. Cansada demais para falar com pessoas que não me são nada, que não percebem metade daquilo que eu digo, e continuar a achar piada a essas diferenças vocabulares que já me irritam.
O Rio foi muito bom! Queria ter ficado mais tempo. Ainda me faltava ir caminhar à beira-mar de Copacabana até Ipanema. Ainda me faltava ir sair para a Lapa. Ainda me faltava ir assistir a um espectáculo da escola de samba. Ainda me faltava fazer umas comprinhas por lá. Ainda me faltava um mergulhinho naquele mar, nem que fosse apenas um. Não pude fazer nada disso. Eu sei que é um tema recorrente, a temperatura, a chuva, etc. Mas tenho que voltar a manifestar-me, a demonstrar toda a revolta abrigada dentro de mim. Saí de São Paulo, estava frescote, cheguei ao Rio, chovia torrencialmente, e chovia, todos os dias, até que, no domingo, ontem, quando me vim embora, ficou bom tempo, ideal para a praia com calor. Claro que isso só da parte da tarde, quando eu estava a chegar de uma subida ao Cristo Redentor, com uma panorâmica nublada. Sim, o céu ficou muito azul quando fui apanhar o autocarro de volta para um São Paulo onde esteve sol e calor, cerca de 31 graus durante todo o fim de semana. Cheguei de noite, não vi esse sol, mas o taxista contou-me. Hoje acordei, sem forças, logo pela manhã, para vir trabalhar. E, adivinhem? Chovia torrencialmente!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Depois de... Tou viajando

"Tou viajando". No sentido literal e no sentido figurativo. Esta terra é muito "fora", as pessoas são "fora", tudo o que tem acontecido é "fora".
Não posso contar tudo aqui porque há quem se preocupe comigo (ainda há...), gente que poderia ficar preocupada. Mas posso assegurar que vivi a aventura mais surreal da minha vida no Rio. A bem dizer, nada ainda me pareceu totalmente real. Ainda estou em choque. Depois de partir de São Paulo sem nada definido em concreto; depois de uma viagem num autocarro espectacular até cá, que, em vez de cadeiras, tinha autênticas poltronas, almofadas, mantinhas e um saquinho com comida e bebida para cada um dos viajantes; depois de parar durante 30 minutos sabe Deus onde era; depois de chegar ao Rio e ter que procurar um transporte até ao hostel(com a duração de 45 minutos) num autocarro também muito bom; depois de sair na paragem mais próxima e andar, de malas e bagagens, à procura do tal hostel, sob chuva bem pesadona e chegar totalmente ensopada (já para não falar da arquitectura, digamos, diferente e irreverente do hostel); depois de (esta foi grave e tem muitos pormenores que só com tempo contarei) aventuras que envolveram um casal alucinado, místico e, no final da noite, bêbedo, em que a mulher se revelou bissexual, chorava, ria, bebia, e o homem acreditava piamente que as cartas já lhe tinham avisado que eu ia aparecer e que nós nos conhecemos noutra vida - atenção que eu era espanhola; depois de ficar até às tantas da manhã em conversas imperceptíveis com um francês e um colombiano, numa linguagem um tudo nada aproximada ao português; depois de apanhar um transporte muito fora, que era uma carrinha de 12 lugares branca (chamada van), em que o motorista conduzia como um doido, por entre curvas e contracurvas de precipícios, a música ia bem alta e havia um moço responsável por gritar da janela qualquer coisa que não percebi, terminada em "é aí, ó!", que suponho que fossem as paragens que a "van" fazia; depois de ver uma favela gigante - nunca imaginei que uma favela pudesse ser tão grande - quando estava à procura de um taxi e tinha, atrás de mim, uma montanha enorme por onde subiam os casebres (será que posso chamar casebres?) até perder de vista, mas, simultaneamente, por incrível que possa parecer, davam uma imagem belíssima, digna de foto que a minha máquina se recusou a tirar porque, vim depois a perceber, a bateria estava ao contrário; depois de ir visitar a Casa das Canoas, do Niemeyer, e não haver transporte até lá e eu ter então que "pegar" um taxi e subir a colina, tocar à campainha, ser atendida por pessoas estranhas, ter que preencher um termo de responsabilidade sobre as fotografias para mero uso privado, e pagar 5 reais para ir ao andar de baixo, que, afinal de contas, se resumia a três escritórios, e não poder ver o jardim a preceito porque, afinal de contas, também no Rio se abate uma chuva torrencial. Depois de tudo isto em menos de 24 horas, aqui estou eu a esrever um post e a reflectir sobre o assunto.
Não sei se é só comigo, ou se toda a gente que vem ao Rio reconhece esta estranheza que eu só acreditaria ser possível num outro mundo que não o nosso. Há mais favelas do que locais ditos normais. As pessoas são tão hospitaleiras que mais facilmente demonstram insanidade mental. Não sei quem disse que havia aqui sol, mas não me parece veradade, uma vez que nem um raiozinho eu vi. Queria subir ao Cristo Redentor, entre outras coisas que requerem céu limpo. Está difícil. E haviam de ver o meu quarto. Ou melhor, não é o quarto, mas sim o percurso até ao quarto. Nada como a nossa casinha, não é?

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

De partida

Hey! Não tenho escrito, que isto as coisas andam mais agitadas.
Estou neste momento de partida para o Rio. Parto dentro de 10 minutos, por isso não vou escrever muito mais, que tenho que ir andando para pegar o ônibus :D
Não sei quando vou ter net de novo, mas sinceramente agora só tenho em mente o Rio. Lá deve estar bom tempo pelo menos, e sempre é o puro "Bráássiiiiuuu".
Gosto em ouvir-vos!

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Nova editoria

Deixem que vos diga que a nova secção onde estou a "trabalhar" vai ser, sem dúvida, bastante mais útil em termos de aprendizagem e bastante mais interessante do que a anterior. E as pessoas são mais simpáticas. E estão a fazer os possíveis para que eu aprenda alguma coisa e, simultaneamente, me divirta e conheça coisas novas.
Já conheci pessoas bastante importantes, jornalistas/escritores, de imprensa, rádio, TV... Isto só ao acompanhar um jornalista ontem num caso de polícia. Hoje não sei o que vou fazer, mas amanhã vou para o litoral do estado de São Paulo (praia iuppiiii, a 2 horas daqui) para acompanhar um processo de desfavelização. Vou entrar nas favelas, agressivo. Mas as favelas daqui ñão são como as do Rio. Quando quiser, posso propor coisas para fazer. Posso acompanhar o jornalista que eu quiser... posso fazer textos, reportagens. Inclusivamente, posso fazer uma noticia sobre aquilo que eu for acompanhar, para ver se fica muito diferente da do jornalista mesmo... "eu faço o que eu quero", como a frase já célebre da Carina.
Parece-me bem. E, como faço o que eu quero, talvez vá ao Rio este fim de semana. Não sei é se tenho dinheiro!!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Que vergonha!

Mas que otário é que se lembrou de fazer um filmezinho com as opiniões de Nel Monteiro, essa vergonha da própria música pimba, sobre a arquitectura em Portugal e a pobreza e miséria do nosso país, dizendo coisas como "Centro Cultural de Belém, um exagero, Casa da Música, um exagero..." e a mostrar notícias sobre os problemas que advieram de infraestruturas como a Expo 98, os estádios de futebol para o Euro 2004, a Casa da Música e o CCB, problemas reportados tendo como música de fundo "Puta Vida Merda Cagalhões" e os seus "s"s de Viseu, bem assobiadinhos, uma música tão intervencionista quanto estúpida e com a letra mais fanhosinha que deve haver na nossa terra, com uma cambada de asneiras, pelas quais o Nel Monteiro, o próprio, pede desculpa, na própria música, tudo isto no vídeo que apresenta e representa Portugal numa sala muito malcheirosa da Bienal de Arquitectura de São Paulo?Para já, tratando-se de uma Bienal, porquê falar de infraestruturas feitas há 10 anos? Depois, porquê escolher o Nel Monteiro como rosto de Portugal? E ainda, porquê falar da nossa pequenez quando é suposto sobrevalorizar-se o bom da arquitectura portugues?Quando cheguei à representação de Portugal, tudo me pareceu, logo à partida, muito estranho. Imagens das obras de arquitectura eram acompanhadas com um televisor que mostrava a participação portuguesa no Festival da Eurovisão, que faziam ecoar, por exemplo´, "Uma da manhã hey!" das Doce, que ali se afiguravam em coreografias ridículas e tristes figurinos que mereciam ser escondidos de qualquer cidadão. Mas, vá, mesnos mau, apesar de ser uma Bienal e não uma história de Portugal. Representados estavam, entre outros, Siza Vieira (ou Álvaro Siza), o terrível Taveira, e o Távora. Obras como uma universidade do Barreiro e coisas até com algum interesse das quais eu nunca tinha ouvido falar. Por fim, decidi ir à salinha escura. A primeira imagem que vi foi do novo estádio do Benfica, o que me agradou, e até me sentei. Logo a seguir apareceu aquela coisa horrorosa que é a sede do Sporting e apercebi-me imediatamente que as coisas não iam correr bem. As pessoas entravam e saíam. Ninguém aguentava um cheiro esquisitivo que ali estava e, muito menos, ouvir aquela música fura-tímpanos do Nel Monteiro, muito menos as suas opiniões. Em vez de mostrarem a complexidade das obras, aparecia apenas uma fotografia na qual os olhos sentidos dessa personagem da música portuguesa eram projectados. Tive vergonha de ser portuguesa. Cheguei mesmo, tal como qualquer um dos que tentou assistir ao filme, a abandonar a sala. Mas a curiosidade matava-me, por isso tive que regressar e assistir a tudo até ao fim, inclusivé ouvir os comentários de escárnio daqueles que por ali passavam.Depois ainda chegou o pior, que foi ver as representações bem interessantes de outros países e ali me sentir pequeniiiina, pequeniina, e muito constrangida. A Itália aliava moda a arquitectura, a França tinha uns pc's minis que podiamos usar... E nós tinhamos o Nel Monteiro e as, na sua maioria, vergonhosas aparições no Festival da Canção??Só a minha cidade me fez feliz. Qual é o meu espanto quando, na parte em que um arquitecto espanhol estava representado e apareciam umas 6 obras dele, estava o Fórum de Viseu, ali apelidado de Centro Cívico de Viseu? Não que o Fórum esteja assim tão bem conseguido, mas ali até parecia uma coisa muito à frente...De qualquer forma, vou averiguar o porquê daquele vídeo do Nel Monteiro. Caso para dizer "Puta Vida Merda Cagalhões".

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Nada de novo neste panorama

Para ser sincera, a minha vida anda a tornar-se tão monótona, que nem sei o que vos diga. Amanhã vou telefonar aos meus queridos tios fortões a ver se isto ganha algum ânimo. Senão isto nem tem graça!
Bem, de novo há a padaria que, de repente, começou a fazer parte da minha vida. É mesmo aqui à frente do jornal. E o dono, como o qualquer dono de padarias do Brasil, é português. Bom, aquilo a que eles chamam padaria, chamemos-lhe nós pastelaria. Eu nunca tinha reparado nela. Parecia-me um mini-mercado. É... À entrada vende-se pão, carne, tabaco, chocolates, pastilhas elásticas, bebidas... Só depois de entrar e dar alguns passos é que se vêem bolinhos e as mesinhas para nos sentarmos. Não me parecia nunca uma pastelaria! Mais facilmente diria que era um talho.
O senhor é de Coimbra e ficou muito contente por saber que eu também era portuguesa e que estava a trabalhar aqui tão perto da padaria. E tenho que admitir que ainda aqui não tinha comido um tão delicioso croissant misto, ou, como aqui chamam, um "presunto e queijo" - expressão que eu não entendo, primeiro porque aquilo não é presunto - é fiambre; depois porque há tantas coisas diferentes que levam "presunto e queijo", que não percebo como podem generalizar; um croissant misto é muito diferente de uma sandes mista. Eles não entendem bem estas diferenças. Ainda ontem se discutia lá na residência o que era bolacha e o que era biscoito. E, lol, concluiram que biscoito era recheado e a bolacha não... E outros dois na rua, que discutiam a diferença entre "pobrema" e "poblema". Concluiram que "poblema" era de saúde e "pobrema" era o que tinha a ver com as outras coisas do dia a dia. A ignorância para mim é triste, mas estas pessoas riem-se disso.
E hoje é, finalmente, o meu último dia na secção mundo. Talvez venha a ter saudades dos berros de fera da editora e das discussões que ela promove. Mas, por agora, sinto-me muito feliz por mudar. Segunda-feira estreio-me na Ciência, com três outros jornalistas (sim é uma editoria muito, muito pequena). E já me avisaram "boa sorte para aturares os nerds". Há-de correr melhor do que aqui, certamente.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Primeiro contacto com a classe alta... e culta... e intelectual

Intelectuais, pseudo-intelectuais, classe alta do Brasil. No Teatro de São Pedro reunia-se uma multidão que assistia ao uma ópera interpretada por jovens melhores alunos de várias universidades. Natali reuniu aquilo a que chama "a turma da ópera" ao intervalo. Apresentou-me os professores dos alunos, os directores das escolas e dos teatros, veteranos da Folha de São Paulo. E a conversa estava "animada" com piadas intelectuais e observações sobre a prestação dos artistas.
A ópera era cómica, regada de bom humor, mas, pelo que ouvi, eles não eram muito bons. Se bem que não imagino nenhuma escola portuguesa que consiga obter tão elevado nível de actuação, quer ao nível do canto, como dos instrumentos, como da cenografia, como da representação, como das vestimentas. Tudo feito por alunos. Uma grande equipa. E intelectuais ricos a assistir.
As conversas com Natali não tinham as características de uma conversa normal. Eu ficava boqueaberta a ouvi-lo falar. Ele fala das coisas com todos os pormenores - datas, percentagens, estudos, tudo o que rodeia o assunto - , encavalitando então os temas de conversa uns nos outros. Tenho a certeza que ele descobre erros nas enciclopédias.
Todos extremamente bem vestidos, com classe e com roupas de marcas caras. Eu, coitadinha, ida directa do trabalho, na zona em que nem uma bandolete se deve usar, quanto mais um fio, uma pulseira, um brinco ou um relógio, ou, ainda pior, roupas de marca e de categoria. Bom, há quem use essas coisas para vir trabalhar, mas eles têm carro e estacionamento aqui à porta. Eu sou pobre, apanho a carreira para casa.
Os jornalistas daqui têm melhores condições que os portugueses. Aliás, este joranl começou a ter dívidas uma altura por causa da qualidade de vida dos seus trabalhadores. O jornal dava carros, dava um cartão de crédito a todos os jornalistas, que tinham também direito a um jantar ou almoço num restaurante de luxo com toda a família uma vez por semana. O que acontecia é que muitos jornalistas, se não tivessem dinheiro para a mais fútil coisa que fosse, usavam o cartão de crédito da Folha. Assim vale a pena, não é? Agora consta que lhes foram retiradas algumas dessas vantagens. Já não vão ao restaurante de luxo à pala do jornal, e só os mais velhos e quem tem cargos mais altos tem direito a carros novos. No entanto, há muita facilidade para viajar, de qualquer forma. Qualquer um dos jornalistas da Folha, se se lembrar agora de fazer um curso no outro ponto do mundo, pode fazê-lo. Basta, para isso, que façam um requerimento e expliquem de que forma esse curso pode ajudar na profissão. E a Folha paga a viagem e o curso (não sei se também a alimentação). Claro que assim os jornalistas estão motivados... claro que assim se consegue construir um grande jornal.
Algum voluntário para criar um jornal português assim?? E para me dar empreguito quando eu chegar, não? Um qualquer emprego...

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Planos para um país tropical

"I'm singing in the rain... I'm siiiinging in the raain...". Ou melhor "I'm running under a big storm... I'm ruunniing under a big storrrm". Venho para um país tropical a pensar que o clima é uma maravilha. Nunca se sabe se no segundo seguinte vai chover, fazer muito calor, parar de chover, fazer frio... Gostava que as coisas aqui me dessem mais estabilidade!
Entretanto, com a chuva, nunca se sabe bem o que fazer. Ir à maluca para a rua? Ficar em casa? Bom, ontem fui visitar o museu da Língua Portuguesa. Um museu parece-me a melhor solução para me abrigar. Bem giro, o museu da LP, por acaso... Futurista! Interactivo! Dinâmico! Mas não pude disfrutar bem de tudo. Tive o azar de ir ao mesmo tempo do que umas cinco escolas. Só criançada a correr e a gritar. Nem pude jogar as palavras cruzadas futuristas porque as mesas estavam cheias...
Por aqui, já passei muitas fases de "ainda falta tanto tempo para ir embora". Mas, recentemente, recebi duas propostas para ir passar o Natal em Minas Gerais ou no Pará. E aí apercebo-me que, afinal, a minha estadia é bem curtinha. Já nem vou poder fazer essas coisas. Nem vou poder visitar quase nada, agora que "trabalho". Sem dúvida, e já pensei bastante nisso, um dia mais tarde tenho que voltar ao Brasil e aos países da América Latina. O nordeste do Brasil é, segundo consta, a zona mais bonita. Mas eu não vou poder ir lá, visto que demoro umas 20horas de São Paulo até lá. Por isso, vou-me ficar por São Paulo (que não é assim tããããooo bonito de morrer), Rio de Janeiro e, eventualmente, Belo Horizonte. E alguma praita aqui perto, se apanhar um sia de sol.


Prometo para breve um punhado de anedotas sobre portugueses, tão populares aqui no Brasil. Vou iniciar o processo de recolha. Conforme nós gozamos com o Tibúrcio, eles gozam com o Joaquim e o Manoel. Diz que são os nomes mais vulgares em Portugal. Já lhes expliquei que era mais o José, o António...

terça-feira, 6 de novembro de 2007

São Paulo é um lugar estranho

Uma mulher, decerto possuída, corre na rua e grita coisas incompreensíveis, como quem lança uma espécie de um mau olhado a alguém, nas suas vestes andrajosas e uns lenços que lhe cobrem parcialmente a cabeça e o corpo.
Um homem sentado no metro faz caretas estranhas, de meter medo. É parecido com o Incrível Hulk, mas não é verde. E as carteas não ajudam!
Num "concerto ao vivo", uma mulher esganiça a sua voz, movimenta-se como um vocalista de uma banda rock e agarra um microfone imaginário com as duas mãos bem entrelaçadas perto da boca. A acompanhar, um "guitarrista" desafina a viola, limitando-se a fazer tremer uma corda ou outra, sem se esforçar por fazer qualquer acorde ou nenhuma nota específica.
Um moço caminha na rua. As passadas são dadas ao mesmo ritmo que a cabeça abana. Os headphones denunciam de onde vem a música. O moço canta e berra, emite uns grunhidos metaleiros, como se estivesse sozinho em casa.
Um miúdo que aparenta 10 anos deambula a altas horas pela rua. A cara está toda farrusca. As roupas também. Com agressividade, pede-me um cigarro. Digo que não tenho, mas ele insiste. Não queria mostrar-lhe a minha mala porque, precisamente nesse dia, tinha comprado a máquina fotográfica e todo o material acessório. Estava tudo dentro de uma mala que eu não queria mostrar, muito menos porque todo o dinheiro que tinha para o resto da semana estava comigo. Mas felizemente chegou um senhor que lhe deu um cigarro.
Aqui há coisas estranhas. Tudo isto vi-o apenas no caminho para casa. Um caminho atribulado porque saí mais tarde do trabalho e fiquei à espera do autocarro durante uma hora, até me aperceber que o meu autocarro já não devia passar àquela hora. Um caminho em que tive que ir a pé até ao metro, trocar de linha três vezes e ainda ir a pé até casa (demorei 1h30m).
É isto que se pode ver à noite em sítios estranhos de um estranho São Paulo. Além de se sentir um medo constante e desconfiança perante todas as pessoas que passam na rua: "será que me vão assaltar?".
Mas nem tudo é assim. Confesso que estou nervosa porque amanhã vou assistir a um concerto de música clássica com o Natali. Ele é o repórter mais acarinhado da Folha. Antes de o conhecer, já me tinham falado dele. Quando é apresentado a alguém, é apresentado como "o melhor repórter do Brasil". Um senhor grande. Óptima pessoa. Tão culto... mais ainda do que os outros. Impõe respeito. E não tinha ninguém para ir com ele ao concerto, eu sou a única que pode sair mais cedo. Opa!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Cidade imparável

A cidade de São Paulo não pára, faça chuva ou faça sol. Hoje descobri que há mais um festival de cinema- desta vez de cinema francês, que não é muito o meu género-, há mais um festival de música - este mais barato que o anterior, com nomes como Cansei de Ser Sexy, Lilly Allen, Kasabian... - e descobri ainda um montão de feirinhas. Vão haver uns domingos com feira de troca de livros (acho que vou lá trocar os que já acabei de ler cá) e há feirinhas de artesanato que eu não imaginava que existiam. Já sem falar que descobri que há uma data de parques botanicos e jardins gigantes, que podem ser interessantes. Ah! E, claro, um dia que arranje companhia talvez vá ao Hopi Hari, que eles consideram uma "mini disneyland". Vamos lá ver o que será aquilo - pelo menos, sei que tem montanhas russas bem assustadooooras.
Em dois dias, a temperatura desceu quase 20°. Ou seja, estou com amigdalite e uns outros sintomas maus. Ora, passei o fim de semana em casa na caminha, até porque chovia intensamente.
Já ando com saudades de uma noite em grande. Coisa que já há muito não tenho, nem em Portugal, e aqui muito menos, que é perigoso. Às vezes, uma pessoa ou outra aqui do jornal dizem-me que "temos que combinar um dia aí à noite para tomar uma cerveja". Primeiro, pergunto, como sabem eles que eu gosto de sair à noite? Segundo, porquê uma cerveja se estamos no país do chopinho, da água de coco, e da caipirinha? Mas eu lá digo, sim, sim, temos que combinar. O que é certo é que nunca mais ninguém combinou.
Na sexta feira fui a um bar perto de casa (caríssimo!). Íamos todos numa de experimentar a caipirinha original. E pedimos. "Cachaça, vodka, rum?...", perguntava o empregado (e ainda outras bebidas que eu nem percebi, tal foi o espanto). Bem , a original é com cachaça. "Cachaça" foi a resposta. "Cachaça mineira, não sei de onde ou não sei de onde?". Sei lá, para mim é tudo cachaça, "A mineira é a melhor", dizia o moço. Pronto venha essa. "E que fruta quer? Lima, morango, frustas vermelhas, ..." e cantarolou um sem fim de frutas. Bom, eu gosto de frutas vermelhas, e acho que nunca vi disso em Portugal. Venha uma de frutas vermelhas. Horrorosa por sinal! Atrevo-me a dizer nojenta! Mas provei a de limão, a normal, e realmente era melhor.
Epa, mas tanta "tenetice", como diria a minha mãe, porquê? Não imaginam a quantidade de opções que existem para fazer uma caipirinha... Ele ainda perguntou mais coisas: "grande ou pequena? açucar amarelo?", sei lá, montes de coisas, já nem podia ver o senhor na minha frente...
É... mas parece que aqui o normal é sair á noite e ir "beber uma cerveja". Qual tomar café?? Isso é para meninos, pá... tsss, café... ha!

domingo, 4 de novembro de 2007

A Pousada

Como já devem ter reparado, se leram os meus posts, moro num lugar um pouco estranho. Sim, havia um pássaro lá dentro, a porta não destrancou e a cama caiu a meio da noite, tal como já vos contei. A Dona Alice tenta sempre resolver os problemas. Mas a porta já teve mais vezes o mesmo problema. É um jeito que tem que se dar que eu não sei dar.
As pessoas chegam e vão, e eu vejo-as sempre a chegar e a ir. E eu fico sempre. Incrível é que nem a Dona Alice nem a Neide (que entra mais tarde e fica até mais tarde) sabem uma palavra de inglês ou espanhol. Aqui no Brasil, não há muita gente que fale inglês, embora se safem bem melhor que eu em espanhol (também não é muito difícil safarem-se melhor que eu). Então eu já desempenhei por várias vezes o papel de tradutora oficial. Um russo que chegou de noite e a Neide andava desaparecida. Um moço da Malásia (embora o pai seja do Sri Lanka e a mãe seja chinesa, e embora ele tenha morado quase toda a sua vida na França, algum tempo na Holanda e agora ande há uns meses a dar a volta ao mundo - fala pelo menos 6 línguas: Malaio, Inglês, Francês, Holandês, Chinês e Espanhol - isso é que é vida!!) que chegou no feriado e não havia ninguém na recepção porque era feriado e eu era a única que estava na residência para lhe abrir a porta e também a única que falava inglês durante todo o fim de semana em que ele aqui esteve, um moço polaco... Já pedi que me fizessem um descontinho :D

As personagens da residência:

A Neide:
Trabalha há pouco tempo nesta pousada. Eu fui mesmo a primeira pessoa que ela recebeu. É novinha, simpática e tem poucos estudos. Um pouco tímida e ainda inexperiente nestas lides, e muito boa pessoa. E pede-me sempre para a ajudar com as línguas, quando eu ando por ali (aliás, a seguir vou já para casa, que ela perguntou, se eu estivesse lá, que ia chegar um gringo - um gringo aqui é tudo o que tem inglês como língua materna haha).

A Alice:
Esta senhora é um amor. Fala muito alto, o que me faz acordar todos os dias de manhã quando ela chega à residência e dá aqueles sorrisos que eu acho imensa piada, que parece um miúdo que está a fazer alguma traquinice nas aulas e manda aqueles risos à socapa da professora, típico de quem está a fazer asneiras. A mulher é o máximo. Não sabe inglês, mas entende-se com os turistas. Ela é esperta. Eles dizem "bagage" e ela pergunta "bagagem?", e assim se vão entendendo. No outro dia perguntou-me como se escrevia oitocentos e quarente e três em algarismos. Tinha dúvida se era "800 e 43" ou se era "80043". Lá lhe expliquei que era "843". Coitadinha! E montes de vezes pergunta-me se quero almoçar com ela, mas eu já estou sempre de saída.

A Cláudia:
É a dona. Nunca a conheci pessoalmente. Mas toda a gente a conhece! Troquei e-mails com ela quando foi para reservar o quarto e já falei mesmo ao telefone com ela. Toda a gente diz que é porreira, mas eu não a conheço. A única pessoa que fala inglês.

A mãe da Cláudia:
Mas já conheci a mãe da Cláudia. Veio no dia em que era feriado e não havia ninguém para receber o malasiano. Estava extasiada por eu ser da Europa. "É... Portugal... Mas é um país rico, hein!?". Claro que me ri da constatação da senhora... Expliquei-lhe que estava enganada.


Bem, e como já parou de trovejar, já posso ir para casa :D

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Olhem para o chão!

E neste dia de finados... em Portugal, que aqui é só amanhã (ainda bem, que assim fico com fim de semana prolongado)... regresso para mais um post.
Venho aqui partilhar situações tristes, pá. É verdade! É um dia triste, portanto... só se pode falar de coisas tristes e deprimir e essas coisas, senão até parece mal e as pessoas falam... E é para que não digam que eu vos dou vontade de rir. :) Se algum dia vierem a São Paulo, tenho que alertar-vos para que não andem com a cabeça na lua. Não estejam constantemente a olhar os pormenores dos edifícios gigantones desta cidade. Lembrem-se de olhar para o chão. Mesmo. Custou-me a adaptar a isso, mas agora quase que sou um ser sem sentimentos, que já quase não se arrepia ao ver a quantidade de mendigos que dormem nas calçadas. E esses mendigos não têm grande preocupação em passar despercebidos, encostando-se a um cantinho confortável enrolados na mantinha. Aqui há calor, portanto eles estão bem esticados no meio do chão "batendo um ronquinho". Não vão vocês pisá-los, olhem para o chão.
No fundo, temos que ter sempre um olho no chão, outro no freguês em todo o lado. Por umas razões ou por outras. Sim, em Lisboa, por exemplo, temos que ter cuidado com os cócós porcos, feios e malcheirosos... C'est la vie! Aqui isso já não acontece, porque há imensos varredores do lixo que todos os dias limpam os passeios.
Mas é chocante esta história dos mendigos. Aqui na zona do jornal, então... podem ser um grande obstáculo às passadas firmes e livres na rua. Depois, há os caixotes do lixo. Todos os dias, quando saio do trabalho, passo por um mega caixote do lixo, onde há sempre alguém a rebuscar comida. Normalmente, eles estão aos pares. Um sentado no chão, com um saco do lixo aberto, já a comer os restos que encontra nesse saco, e outra pessoa de pé, fazendo os sacos saltitar, na ânsia de encontrar algum que pareça ter comida, para dar ao que está sentado no chão, que vê tudo mais detalhadamente. Até os mendigos são organizados, já viram?
E eu ali fico a observar aquilo - o único espaço onde decorre alguma acção enquanto espero o autocarro para voltar para casa. E, mesmo quando chego a casa, costumo ver isso. Também há um caixote na esquina da minha casa, alvo de algumas investidas mendigueiras.
E, claro, vêm pedir dinheiro. No primeiro dia em que saí tarde do trabalho (portanto, o segundo dia de trabalho, e, a partir daí, foi sempre, todos os dias, a sair tarde), vieram 3 pessoas diferentes pedir esmola. Eu, à primeira pedinte, que dizia "por favor, já todos me conhecem aqui, não vou fazer mal", saquei das moedas todas que tinha e dei. Mas ela queria dois reais à força, e insistia. Dois reais já é uma nota. A medo, lá abri o espaço das notas (tinha muitas lá, que isto de pagar por cada levantamento que faço, obriga-me a levantar mais dinheiro de uma vez do que numa situação normal). Como não pude remecher bem esse espaço, não fosse ela perceber que eu estava ali cheia de guita, tirei uma nota qualquer. Saiu uma de 5 reais e lá lhe dei (sim, acabei por dar aí uns 2euros, no total). E foi-se embora. Ainda encontrei mais dois mendigos que me vieram pedir uns trocos. E, aí distribuí mais um tanto. Sabia lá se eles me faziam mal, se eu não desse dinheiro?
Mas agora já percebi. Nunca mais tive que distribuir prendinhas a ninguém. O meu passo é rápido, já não olho em redor. Foco um ponto qualquer na minha frente, determinada, e finjo nem me aperceber que as pessoas vêm ter comigo. Senão ia à falência, não? (Ai, que egoísta... sim, eu tenho pena de ser assim, mas primeiro a minha sobrevivência, depois a dos outros... se não tiver dinheiro para mim, como terei para os outros? e acho que nós, da sociedade (pós)moderna, somos todos iguais nesse aspecto... mas, vá, condenem-me!!!).
Pensava que isto acontecia em todo o Brasil. Ao que parece, não. O Wherle, um brasileiro do nordeste lá da residência, confessou estar alarmado perante o número exorbitante de mendicidade. Bom, mas ele não é muito de fiar, porque também disse que achava que as pessoas aqui andavam muito rápido! Haha! Rápido? As pessoas estão todas paradas em escadas rolantes, na maior das calmas passeando no metro, em longas conversas, daquelas em que há pessoas que páram quando têm que falar e param consequentemente a circulação do trânsito, que também não está muito apressado. Eu disse-lhe para ir à Europa para ver o que era pessoas a correr... Ou ainda melhor, a uma cidade tipo Tóquio ou assim... não que eu já lá tenha ido, mas imagino... Se não me engano, a constatação dos mendigos foi a única em que concordamos, mas não interessa. Acreditem em mim, que é escandaloso!

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Ambientes paulistas

Confesso que ainda não me informei sobre as leis daqui. Mas fiquei espantada hoje! Fui ao quiosque comprar "chiclas" e um senhor na minha frente na fila olhava de forma suspeita para qualquer coisa. O senhor do quiosque correu subitamente a esconder uns maços de tabaco que estavam em cima do balcão. "Ai, sabe, acabaram de chegar!". Como eu não percebi o que se passava e ele topou a minha cara de "não tou entendeendo!", explicou-me que no Brasil, as marcas de tabaco mais fortes não podem estar expostas; têm que estar escondidas de baixo do balcão e não pode haver publicidades. Realmente eu nunca vi charutos à venda, mas já tinha visto cigarros, nunca pensei que não pudesse estar exposto. "São só os mais fortes", replicou o senhor do quiosque. Depois mostrou-me que mesmo o tabaco mais fraco não está exposto directamente. Chamou-me atrás do balcão e lá me mostrou que o que se vê são apenas papéis, e não as caixas reais. (Aqui, eu não percebi por que é que isso acontece). O senhor do quiosque rematou com uma informação bruxa: "Sabe o que é que vai acontecer daqui a um tempo? Vai desaparecer tudinho, nem isso se vai poder afixar... Vai tudo ser vendido tipo tráfico, sabe?". Bom, mas eu só queria as minhas pastilhas e estava com pressa, até... Então não lhe respondi e pedi as chiclettes.
Uma coisa que eu já tinha constatado foi que é raro ver alguém a fumar em cafés ou qualquer sítio público, a não ser em esplanadas. Acho que é proibido fumar em sítios públicos. Mas isso poderia levar a que nas ruas houvesse muita gente "fumante", como eles chamam aqui. Não! Acho incrível e admiro: Poucas pessoas fumam, não tem nada a ver com a Europa!
Poder-se-ia daqui depreender que eles aqui são uns protectores do ambiente, amantes da natureza. Mas se pensaram isso, desenganem-se! Acho que o comentário de uma rapariga que partilhava o quarto comigo, na outra residência onde eu estava, basta para exemplificar. Ela estava a tomar um duche extremamente demorado e a Mariah, americana, disse qualquer coisa naquela pronúncia de adolescentes americanos armados em bons, que parece que têm dificuldade em pronunciar as consoantes, e falam daquela forma irritantemente enrolada e anasalada, extremamente rápido, que quando parece que meramente disseram um "hey", afinal o que disseram foi "i went to the beach and i had so much fun there" ou qualquer coisa do género, que passa como um flash e, se não estivermos preparados, não vamos entender nada e temos que perguntar o que disseram e, mesmo assim, quando repetirem, vamos ter dificuldade em entender porque eles também não facilitam nada... Bom, a Mariah disse qualquer coisa como "so much time for a shower?" Mas a brasuca respondeu-lhe desta linda seguinte forma: "Brazil has a lot of water, so I can spend all the water I want. Here we won't have problems because of water, for sure... pfff so much water!!". Sim, eles também são muitíssimo altruístas. E espertos que são... Espertos!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Éuga

Por que é que estes caramelos insistem em chamar-me Éuga? Não conseguem mesmo dizer os "éles" (l). Ou seja, a configuração do meu nome transforma-se totalmente. Éuga é bem diferente de Helga!! E isso revolta-me, até porque a nova configuração do meu nome me faz lembrar um animal chamado égua. É como o meu avô, que diz áuga em vez de água...

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Weekend/Weekstart

Durante os fins de semana não tenho acesso à net, por isso hoje actualizo o sucedido no fim de semana. Bom, deixem-me que cvos diga que fui a duas sessões de cinema. Vi "O Passado", com esse grande actor que é o Gael Garcia Bernal, e "Tropas de Elite", sem dúvida o filme mais falado este ano aqui no Brasil, embora interpretado de forma bem diferente da interpretação de pessoas de outros pontos do mundo - aliás, fiquei bastante chocada, enquanto aqui o pessoal se diverte e as crianças já utilizam expressões do filme no dia a dia e já rodam filmes no YouTube imitando as cenas mais dramáticas de forma supostamente cómica.
Entretanto, perdi os concertos de Björk e Arctic Monkeys. Era caríssimo e não há dinheiro que aguente. Acabei finalmente de ler a Conspiração, do Dan Brown, e confesso que não fiquei fascinada. Dan Brown não me convenceu!
E tive umas 24horas daquelas:
Estava alegremente a sair do banho. Tinha que passar pelo hall, descer as escadas e percorrer o corredor até chegar ao quarto. Quando abri a porta do quarto de banho, vi um pássaro feio no chão. A minha fobia a estes animais descontrola-me, pelo que regressei para dentro da divisão do banho e fechei a porta bem fechadinha. Não havia ninguém por perto. Tive que tomar uma atitude e enfrentar este medo. Abri novamente a porta, dei um passo, e o pássaro começou a voar incontrolavelmente. Voltei, assustada, para dentro da casa de banho. Repeti a acção corajosa, convencida de que era desta. Mas não, o pássaro assustava-se comigo e começava a voar. Por conseguinte, eu assustava-me com ele e regressava ao sítio de onde tinha saído. Isto repetiu-de uma série vezes, alguns gritinhos meus de vez em quando. Ainda tentei chegar só ao corrimão para chamar alguém que eventualmente estivesse no andar de baixo, mas nem isso conseguia. Uma hora depois, chegou a Dona Alice, a recepcionista. Com a porta entreaberta, emiti um "oi" estranho e ela percebeu logo que eu estava com medo e encaminhou o pássaro para outro compartimento. Imaginem só o quão assutada eu estava, que me escorreu uma lágrima, tão agradecida que estava à Dona Alice. Ridículo! Pior que uma criancinha de 3 anos... Um dia hei-de consegui enfrentar este medo.
O dia passou, sem mais percalços. Mas quando regressei à residência e tentei abrir a porta do meu quarto, não consegui. Uma senhora que estava a ver TV no hall foi ajudar-me a tentar destrancar a porta, mas os esforços dela também não se revelaram eficazes. Por sorte, o meu quarto é no rés-do-chão e, por sorte, a janela não estava trancada. Saltei a janela e fiz, novamente, figuras ridículas para entrar e sair don quarto, visto que a porta não mais abriu naquela noite. Mas o dia ainda não tinha terminado e, de noite, virei-me (ando a movimentar-me muito durante a noite, já não sou a pedra que era antes). Essa viragem provocou a queda de uma tábua da cama. Nunca pensei que o meu peso fosse assim tãããão exagerado. Dormi muito bem, como podem imaginar, com a cama partida ao meio, tanto que, quando acordei, já eram 3 tábuas as quie estavam partidas.
A Dona Alice, mais uma vez, resolveu estes problemas mal eu lhe falei deles. Abriu a porta à terceira tentativa e imediatamente pediu a um carpinteiro que me compusesse aquilo. Quanto à cama, faltava uma peça e daí estar mais insegura. A Dona Alicinha compôs logo tudo.
Depois disto, saí de casa. A temperatura estava muito alta e, suponho que por isso, ia desmaiando em pleno autocarro. Nunca desmaiei na vida, mas senti mesmo que ia desmaiar. Tontura, enjoo e palidez invadiram-me. Uma senhora que ia ao meu lado apercebeu-se quando eu me virei para ela e, com dificuldade, pronunciei um "Tem água? Estou me sentindo mal!". Ela obrigou um senhor a levantar-se para eu me sentar, obrigou-me a encostar a cabeça aos joelhos, respirar fundo e a ir comer um salgadinho quando chegasse ao destino... Melhorei. E depois compreendi que ela era profissional de saúde e por isso teve uma atitude tão rápida. Sim, ela contou-me a vida toda.
Eu sei que estas histórias foram deveras interessantes. Desculpem, mas este blog é mesmo para contar a minha vida por cá. Quase tipo diário de criança de 8 anos. Ah! E cortei o cabelo. Num acesso de loucura... Andava a odiar o meu cabelo. Estava uma tesoura na mesa de cabeceira. Ela estava a chamar-me! Está muito curto... Não dá para atar. Mas aqui na redacção já me disseram que está óptimo!! Que pareço uma adolescente! (ao que eu respondi que ainda sou uma adolescente... mas depois de o dizer percebi que não... e isso é uma constatação que me deixa muito triste.)