segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Ainda não posso dizer "home sweet home", mas posso dizer já família doce família. Não vi Lisboa nem amigos, mas estou confortável num meio que domino - apesar de ningém ouvir o que eu digo. Telefonei de propósito para casa, ainda estava no aeroporto de Guarulhos, para avisar que chegava às 12:15, repeti este horário várias vezes, mas o anormal do meu irmão cagou pra mim e foi dizer à minha irmã que e só chegava às 3h da tarde. Por isso, cheguei a Lisboa e ainda fiquei uma horinha no aeroporto à espera de alguém que me buscasse, apesar de ter ligado quando ainda espareva as malas, depois de um voo que ainda atrasou uma horita. O resto da família, só pude ver à noite porque só lhes apeteceu sair de Viseu no final da tarde. E assim fiquei, na Ericeira, a fazer um esforço sobrehumano para aguentar esperar acordada, em mais uma noite de pouco sono.
Mas, enfim, aqui estou, agora já com a família toda, ou quase toda, reunida. Adeus Brasil, adeus Folha, adeus calor, adeus pousada desconfortável e barulhenta, adeus caos de São Paulo. A todos, um Feliz Natal e um Óptimo 2008!!!


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sábado, 22 de dezembro de 2007

No aeroporto de Guarulhos (São Paulo)

Provavelmente... o último post.
Estou aqui neste encantador aeroporto, depois de uma semana que me levou à exaustão. Depois do Rio, dei um salto em Niterói, que é mesmo ao pé, andei muito, muito. Segui para o terminal rodoviário de Niterói, eram umas 8horas da noite, mas já não havia lugares vagos para regressar a São Paulo. Então levaram-me para o Rio, onde já consegui um ônibus. Fiz a viagem durante a noite, mais uma vez mal dormi, e ocupei o dia em São Paulo para visitar coisas que ainda não tinha podido visitar. Depois foi a vez de ir dar um beijinho à Lúcia, coitada, que eu ainda não a tinha visto depois daquele dia no aeroporto... E foi mais uma aventura... grande! Sim, estava lá toda a família reunida... Ai, ai...
Cheguei a casa tarde para ainda fazer as malas. Ou seja, voltei a dormir pouco, depois de mais um dia agitado, e hoje fui muito cedinho para a 25 de Março, uma rua cheia de barraquinhas e lojas bem apetitosas, assim baratinhas... Chegada a casa, no final de uma manhã também cansativa, fiquei à conversa com a Neidinha e até a ajudei numas tarefas. Foi a vez de ir comprar os sapatos da Mónica (e os meus), lá pertinho de casa. Mas o número da Mónica estava esgotado na cor que ela queria. O número seguinte também estava esgotado. Fui procurar net onfirmar o número da Mónica para saber o que ela queria da vida. Apontei o número para ir procurar um "orelhão" ligar à Mónica. Mas atendeu-me o António... que não conhecia a Mónica. Por isso não consegui falar com a Mónica. Regressei à Melissa, experimentei os meus sapatos. E vi que na Melissa calço um pouco mais do que o normal. Pedi para ver os outros sapatos que a Mónica também tinha dito que gostava. Mas também não havia mero da Mónica nem o número a seguir ao da Mónica. Então trouxe uns sapatos que espero que a Mónica goste. Se não gostar, aviso já que não os quero para mim, que não são o meu género.
A fila para pagar era gigante e as meninas sorriam calmamente. Que raiva. O táxi peroporto devia estar quase a chegar à Pousada. Mal consegui corri para a Pousada, mas o taxista já tinha dado o bazo. Carreguei as malas todas e chamei outra vez o taxista, que era muito simpático.
Vim para o aeroporto, para apanhar o avião das 20:35 que aqui me avisaram que tinha mudado para as 00:35. Escrevi uma reclamação, sirandei por aí e estou farta de aqui estar, cheia de dores mosculares e com um soninho desencojador.
Vim para a net caríssima e ainda por cima este computador tem falhas graves: não entra no hotmail fecha as páginas todas quando eu tento entrar), bloqueia e come letras deste texto que eu não estou para reler, mas algum desses "comilanços" deve ter passado sem eu reparar. Que raiva!!
E como tou já a stressar com isto, guardoistoria dos tios para amanhã. Assim acabo em grande.
Sim, Inês, só aventuras lol mas nem sempre pelos melhores motivos... É, só peripécias típicas de uma azarada de primeira. Nem todos têm a sorte de ter azar...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Ao encontro do tenente-coronel

O tenente-coronel Pinheiro Neto esperava-me no alto do seu "posto de vigia". Enquanto isso, eu andava em aventuras mirabolantes para ir dar com o Bope. Peguei o ônibus e dei por mim a dizer à mulher que recebe o dinheiro dos bilhetes: "podjia ávisá pra mim lá nas Laranjeiras?". Não foi a primeira vez que usei este sotaque inconscientemente. Já quando esperava na terminal do Tietê para vir para o Rio fui a correr atrás de uma senhora cujo casaco tinha caído e disse-lhe: "ó aí... o casaco caiu pra você".
Sinceramente, eu não sei se eles fazem tudo "pra mim" ou "pra você", mas devem usar estas expressões com frequência, para que eu já as tenha apanhado. Ridículo. É que cansei de impôr o meu sotaque de portuguesa e ter que repetir as coisas milhões de vezes até que eles percebam (só quando dou uns ares de brazuca).
No entanto, ando também algo surda, sobretudo depois da viagem de autocarro por montes e vales até aqui. Acontece que a senhora que cobra os bilhetes diz que perguntou quem ia sair nas Laranjeiras e ninguém respondeu. Quando lhe pedi que não se esquecesse de "avisar pra mim" (já estava há uma hora e meia no autocarro), ela riu-se e explicou que já tinha perguntado, não se lembrava já quem tinha pedido isso.
Acontece que fui parar à Rodoviária, a última paragem daquele transporte, e tive que pagar a viagem de regresso e estar muito, muito atenta para não perder de novo o objectivo. A senhora que cobra os bilhetes (agora já era outra) lá me avisou. E eu saí. Andei em direcção à Rua das Laranjeiras, nº 150. Deparei-me com um condomínio fechado, um prédio normal... Não, não podia ser aquilo. Nisto, já passavam 10 minutos da hora marcada com o tenente-coronel que me esperava.
Perguntei a várias pessoas se sabiam onde era o Bope, até que, já eu estava desesperada, um senhor da vidreira soube dizer-me. Eu tinha a morada errada, sim. Era lá ao cimo, no morro. Andei uns trinta minutos, o mais rápido possível. Subi a ladeira pelo parquezinho e depois mais umas ruas desertas. Estava um calor desgraçado e eu suava em bica. Estava muito vermelhinha e ofegante, coisa que já não sentia desde as longínquas aulas de educação física. E só pensava "não, eu é que não era boa para ir para o Bope, de certeza".
Enfim, vi a caveira que caracteriza os "caveirinhas". Dois tropas à entrada perguntaram-me quem eu era, avisaram a minha chegada e lamentaram, mas eu ainda tinha bastante para subir. Ainda foram mais uns 10 minutos a pé, sempre a subir, até entrar finalmente na sede do Bope. E o tenente-coronel continuava à espera. Levaram-me até ele. Bem mais simpático e sorridente do que eu esperava, depois de falar com ele por telefone e ouvir aquela forma de falar de tropa.
Mas ele ia ter uma reunião. Por isso sentei-me à espera que a reunião terminasse. Deram-me água porque viram o meu estado de exaustão, além das olheiras que já trazia de uma noite mal dormida (não sei se cheguei a dormir) no autocarro da '1001'.
Enquanto isso, reparei na lindíssima vista que eles têm lá de cima. Vêem o Cristo, o Pão de Açúcar, a Baía de Guanajara, o palacete do governador... Upa, upa! Assim dá gosto! Perdida nesta paisagem lá entrei no gabinete do comandante, o tenente-coronel Pinheiro Neto - já passava das 16 horas... Falei com ele, super simpático, era novinho... Depois subiu comigo ao telhado para me mostrar o outro lado da vista... a favela. E contou-me que eu andei sozinha numa favela, embora fosse a parte mais deserta. Nossa! Descansou-me o facto de ser "a favela mais segura do Rio" e que "os meninos de sete, oito anos, não sabem o que é uma arma, não sabem o que é um traficante, nunca sentiram perigo". Porquê? Foi há sete, oito anos, que o Bope ali se instalou.
Bem, tirei as minhas fotos, admirei o "caveirão" (o blindado deles), e um moço que trabalha para o coronel deu-me boleia para descer a favela no carro do Bope. De volta às Laranjeiras, senti que ficou um monte de gente a olhar para mim, provavelmente a pensar que tipo de crime é que eu tinha cometido para vir naquele carro.
Voltei facilmente a Ipanema, debaixo de uma chuva intensa que começou a cair quando eu estava no telhado do Bope. Sentia-me tão, tão cansada. Ainda por cima, durante a manhã, tinha andado a fazer uma grande passeata pelo paredão de Ipanema até chegar a Copacabana e estar mesmo a chegar a Botafogo. Ainda assim, para aproveitar bem estes momentos cariocas, decidi passear aqui por Ipanema na hora de jantar. Gosto mais do que Copacabana, onde fiquei da outra vez que vim ao Rio. Se alguma vez vierem ao Rio, é... Ipanema é o mais fixe!
Às 21 horas cheguei à pousada, que é estranha, para dormir o mais rapidamente possível. Todas as pousadas aqui são estranhas, parece-me. Cada uma com suas especificidades. Depois mostro a foto da entrada. É que tem uma portinha com um buraco para espreitar. Parece aqueles filmes em que há um guarda do outro lado da porta que pede uma senha de entrada na casa de jogo ilegal. Mas é giro!
Hoje vou passear mais um pouco por aqui, entrevistar mais umas pessoas e, provavelmente, ainda dou um salto a Niterói para ver o famoso Museu de Arte Contemporânea, partindo então de Niterói para São Paulo. Não quero voltar a São Paulo!! É feio, escuro, poluído, instável, stressante... E aqui é tão bonitoooo!!

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Adeus Folha!!

Já disse adeus à Folha. Fiquei contente por alguns me dizerem para ir mandando notícias e para me manter em contacto. Ao menos alguma coisa levo daqui... E, afinal de contas, mesmo não tendo feito assim muitos trabalhos jornalísticos, até aprendi bastante. Ah! E ainda assinei uma peça. Claro que, como irresponsável que sou, não guardei nada dessas coisas. Na altura não liguei e agora até queria ter guardado como recordação e, eventualmente, portfolio. Mas guardei o meu crachá! Já não é mau. Depois, estive quase, quase para andar por lá a tirar fotos da redacção, que é tão impressionante. Mas ainda tenho uma reputação a manter e fiquei acanhada. O mais que consegui foi ir à varanda do 10º piso tirar uma fotografia à vista (que nem é assim tão bonita, não).
Agora estou aqui na Terminal do Tietê a fazer tempo para apanhar o autocarro para o Rio, à 1hora da manhã. Uma vez que a rodoviária do Rio é numa zona muito mázinha, não quis arriscar a chegar cedo demais. Nem ia ter nada para fazer tão cedo. Assim vou refasteladinha na poltrona do autocarro e talvez com um bocadiiiiinho mais de sono para conseguir dormir.
Amanhã lá irei entrevistar o Coronel Pinheiro, o boss. E provavelmente conseguirei subir à favela com eles. Quem sabe dentro do mítico caveirão, que depois vocês poderão ter oportunidade de perceber o que é, um dia que a reportagem seja publicada na Sábado.
O tempo está mesmo a apertar. Já não vou ter tempo para fazer tudo o que queria aqui por São Paulo, acho. Até porque tenho que ir ter com a Tia Lúcia, pela qual a minha mãe me pergunta sempre que fala comigo ao telefone, e que insiste em que eu durma lá em casa. Perdi hoje meia hora ao telefone só para tentar provar-lhe que não era preciso ninguém ir-me buscar porque eu não sei onde vou estar antes de ir para casa dela, porque o metro é mais rápido do que o trânsito infernal que se apanha de carro e porque o metro está em todo o centro e pára a dois quarteirões da casa dela. Ela ainda não entendeu. Queria à força mandar uma das netas ir buscar-me. Mas se isso ia dar mais trabalho a toda a gente, até a mim própria.... para quê??
Ora, só no sábado poderei ir às compras de Natal. Diga-se: estive este fim de semana sem fazer nenhum. Mas foi tão bom!!...
Logo que possa voltar à net vos trarei notícias. Cumprimentos! Já vos vejo para a semana.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Jabá

Jabá. Só jabá, por toda a redacção. Todos falam do jabá e correm com o jabá de um lado para o outro, todos entusiasmados. A mesa da "recepcionista" do 4° piso está cheia de jabá empilhado que é para distribuir. "É Natal, muito jabá", diz um jornalista.
Jabá é o ramo de flores, jabá é o livro, o CD, a planta, a garrafa de vinho ou de licor, é o convite para um espectáculo cultural, é uma passagem para viajar, é o perfume, a caixa de chocolates ou tudo o que se assemelhe a um presente de Natal enviado para a redacção de um jornal. Ainda não conheço a profissão assim tão a fundo em Portugal, mas duvido que seja assim. Não tenho espaço para me mexer nesta mesa porque estou atolhada de jabá dedicado à pessoa que aqui se sentaria não fosse eu estar cá.
O quanto eles gostam deste jabá!! Andam mesmo contentinhos. E queixam-se porque o governo estabeleceu um limite de cem reais para as prendas que eles deviam receber. Por isso já não podem fazer cruzeiros nem viagens familiares a sítios paradisíacos com tudo pago, nem receber telemóveis topo de gama... Coitadinhos! A pena que eu tenho deles!
É neste ambiente jabaleiro que eu me vou embora. É já amanhã, visto que pedi para terminar mais cedo. Tenho aí uns afazeres. A despedida já começa. E, desta vez, ela vai ser feita aos poucos. Primeiro o trabalho, depois o Rio, depois o albergue. E já tive que me despedir da Alicinha, que entrou de férias. Mas anima-me o pensamento do "faltam 5 dias".

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Vou ter saudades disto

Ia eu pela rua abaixo, sempre a direito, sempre a direito, e já via há algum tempo, lá no fundo, uma senhora que passeava qualquer coisa... parecia um cão (pequeninoinoinoino). Passado um pouquinho, porque os meus passos eram mais apressados, alcancei a mulher. E, qual é o meu espanto... quando vejo que a mulher tava com um lencinho a limpar o rabinho do pequenino cãozinho! E ao pormenor! Aninhada, lá espreitava, não fosse algum bocadinho de... cócó... ficar por limpar. Em plena praça pública remexia aquela... nhanha...
Eu ri-me. E foi este momento tão belo que me abriu os olhos. Porque apercebi-me que é destes pequenos momentos que eu vou ter saudades. Cada segundo pode proporcionar surrealidades. Sair à rua é deparar com coisas inacreditáveis. Vou ter saudades da histeria característica de qualquer brasileiro, que teima em fazer dos berros o seu tom de voz normal, que teima em fazer muitos gestos e em usar uma espécie de linguagem física, por vezes agindo quase como aqules coelhinhos da Duracell, que duram e duram e duram. Vou ter saudades de ler em T-shirts, em plaquinhas dentros dos táxis ou em flyers que abundam por aí frases como "Deus nos ama", "Deus nos abençoe" ou "Deus está aqui". Vou ter saudades de não ter paz nem sossego, de estar no meu quarto barulhento onde ouço o telefone da recepção a tocar, a televisão a trabalhar sem ninguém a ver, as pessoas a gritar (ou será falar?) na rua, os autocarros chiadeiros a fazer travagens bruscas na paragem em frente à minha casa, os carros a passar de rajada e as motas, essas, que aqui não têm nenhuma lei que os impeça de quitá-las todas para fazer ainda mais barulho do que o normal e, acima de tudo, onde ouço, todos os dias de manhã, a Alice a chegar e dizer para alguém "Oi! Tudo bom?" e o telefone a tocar logo de seguida (é a Cláudia) e a Alice a atender e a dizer "Alô! Ooooiii", um "oi" meio grunhido que eu não conseguiria jamais imitar...
É destas pequenas coisas que eu vou ter saudades. Vou ter saudades daquele meu processo em que saio do autocarro e imediatamente procuro o crachá da Folha enquanto espero que o semáforo dos carros fique vermelho (porque aquela passadeira, entre outras, não tem semáforo para os peões e então temos que ver como está a cor para os veículos) e, de seguida, andar aquele pedaço de rua até à Folha agitando o crachá numa espécie de acrobacias, empenhá-lo orgulhosamente porque, afinal, "'trabalho' na Folha!".
Vou ter saudades daquelas noites mais frias em que fico demasiado tempo à espera do transporte para casa naquela rua escura e perigosa e fria, com os meus dentes a abanar, não sei se de frio, de medo ou de velhice. Vou ter saudades de ver toda a gente agitada no trabalho e eu aqui, quietinha, caladinha, na maior das calmas quando comparado com os outros. Vou ter saudades de ir ao cinema e, além de não haver pipocas doces, só encontrar filmes que, ou não tenho interesse em ver, ou já vi em Portugal, ou não são passados num horário a jeito.
Apesar das chatices, das saudades, do choque cultural... há coisas que vão ficar para sempre, das quais ainda me vou rir, pelas quais ainda vou chorar e que ficarão para sempre nesta cabecinha, a não ser que, de facto, se confirme que sofro de Alzheimer antecipado.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Mas que ambição!

Impossível não reparar na importância que estes "caras" dão ao corpo. Não há espelho que não tenha alguém a pentear-se ou a compor as roupas. Não há casa de banho que não tenha alguém a lavar os dentes. Até no autocarro as pessoas olham para o vidro para ver se conseguem nele reflectir-se!
Não há sumo que não tenha uma versão light ou zero ou qualquer outra dessas denominações. O normal é o café vir com adoçante, e quem quer açúcar é aqui o coitado que tem que fazer o pedido especial. E os pacotinhos de açúcar são mais pequenos. Eu tenho sempre que pedir dois... e fica toda a gente a olhar para mim! Se quisermos um suco natural temos que referir que é com açúcar, de outra forma eles ou não põe nada ou metem adoçante. Até sandochas com maionese e molhos dizem lá que são light. Até o McDonalds vive mais das saladas, das águas de coco e dos menus light do que de coisas como o Big Mac ou McBacon...
Há uma perseguição qualquer. Até na TV. Das raras vezes que vejo uma televisão ligada só vejo duas coisas: futebol ou aqueles bonecos que passavam aí há alguns anos que é uma família (pai e mãe gordos, avó rabujenta, filho e filha jovens e reverentes e ainda um bébé mimado) de dinossauros verdes com ar asqueroso, mas fofinhos, que usam camizas de flanela, numa versão tipicamente americana do que é divertir as crianças. Não sei se se lembram, mas a popularidade daquilo, ainda, nestes dias, só pode dever-se à necessidade das pessoas o verem... E como, se parece dos anos 80 (talvez seja), se as vozes dos personagens são tão mais irritantes do que aí e se o público-alvo é a criançada? Por que é que há pessoas que vêm isso? Para quê? Cá para mim, só pode significar que aquilo pode fazer as pessoas sentirem-se bem com o seu próprio corpo... uns dinossauros tão horrendos, então, afinal, eu até sou tão bonito (a)...
Por isso, acho que até a televisão reflecte esse cuidado com a aparência. De um lado, esses bonecos terríficos, de outro, o futebol, um incentivo à prática do desporto, mas que também funciona da mesma forma que esses bonecos dos dinossauros (porque, diga-se... jogador de futebol aqui não deve muito à beleza... - ex: Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Pélé... sem ofensa!).
Suponho que haja aí também muitas novelas a dar, mas que eu nunca apanho porque não estou em casa a essa hora. E elas, por sua vez, correspondem ao exemplo a seguir, com as pessoas que o público sempre quis ser...
Mas a eles lhes posso garantir que assim não vão longe! Não é a misturarem arroz com massa e com batata assada e com batata frita e com salada e com carne e com ketchup e com maionese e com mostarda mais o molho de tomate que vão conseguir ter a aparência perfeita! Não é a usarem meias brancas nem aqueles ténis fanhosos sob um fato de treino xungoso, acompanhado de um cruxifixo prateado e um brinquinho douro e óculos de sol made in china bem feios que vão conseguir safar-se! Ai isso eu posso garantir!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Uma questão de português

Já vi que aí chegou finalmente a discussão sobre o acordo ortográfico da língua portuguesa. Esse tema já era aqui muito falado antes de sequer eu aqui ter chegado. E, ao que vejo, há um consenso. Ao menos alguma coisa em que a generalidade de Portugal pense da mesma forma que a generalidade dos brasileiros: esse acordo é ridículo.
O que mais os deixa aqui chateados é o facto de sair o trema. Nós aí não usamos, mas em palavras como seqüência ou eles usam. E, agora, até acho que faz sentido, pois assinala as sílabas que levam "qu" ou "gu" antes de um "e" ou de um "i" em que o "u" também se lê. Aí, deixam-nos frustrados os "h" que vão omitir-se, mas que eles aqui também nem sempre utilizam (reparem: eles escrevem "úmido").
Ou seja, parece que este acordo não passa de uma chachada. Ninguém diz que vai cumprir as regras. E mesmo, se formos ver ao dicionário, diz que a palavra "frauta" existe lá como sinónimo de flauta, porque assim era escrita por Camões. Ora, se "frauta" está no dicionário, então "Húmido" também estará porque assim foi usada, com certeza, por muitos autores.
Mas a mim o que me irrita mesmo é que queiram uniformizar uma língua que, embora a mesma, seja tão diferente nos diferentes países em que é falada. Pelo menos, no que toca a Portugal e Brasil. Acho até que o que deveria ser feito era precisamente o contrário. Nem que fosse como o "british english" e o "american english". Mas, visto que não soa bem "português português" e "português brasileiro", arranjar outra forma de os distinguir.
Senão, vejamos, com esta uniformização... Não imagino o brasileiro a penetrar o nosso país tão facilmente assim. Se analisarmos os nomes das pessoas que aqui conheci e se esses nomes entrassem em Portugal, então nós todos teríamos filhos gozados na escola. Isto falando apenas de brasileiros que conheci, imaginam que dariam algum destes nomes aos vossos filhos? Guto, Gilmar, Gentile, Josmar Jozinho, Vinicius, Natali, Márvio, Ohary ou Wherle, por exemplo, para os meninos, ou Jaqueline, Sida (sim, Sida), Afra, Andrea ou Neide, para as meninas? Certamente que pôr um destes nomes aos vossos filhos geraria traumas graves.
Ora, o que eu acho é que temos que adaptar a língua ao contexto cultural em que nos encontramos. Agora imaginem o que era os portugueses, em Portugal dizerem "esse cara é um boca-suja", "mermão, abraço brother" ou "sabe onde é o ponto de ônibus?". Nunca daria. E os brasileiros, por sua vez, nunca abdicariam dessas expressões.
Concluo, portanto, que isto de uniformização da língua é uma utopia. Apenas uma utopia. Que não é com assinaturas que vai ser conseguida. Se querem realmente uma unifromização, então tratem de controlar as expressões usadas em cada parte do mundo e mandar chapadas a quem usar uma expressão que não seja usada em outro país de língua oficial portuguesa. Aliás, então deveriam também exercer controlo entre o norte e o sul de Portugal, e dos outros países também, porque, dentro do mesmo país, também há regionalismos.
Mas o governo, com certeza, sabe que isto é uma utopia. Porquê tão pouca divulgação em Portugal? Por que é que a bomba só rebentou agora, que já tudo acalmou em terras de Vera Cruz e que já pouco se pode fazer para evadir esta ideia? Não acham que aqui há gato?
Por via das dúvidas, já sei que nome hei-de dar ao meu filho: Afra Jozinho. Que acham? Ou então... Guto Gentile... Bah! Que palhaçada!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

É Natal, é Natal tralitarara

Por aqui, e imagino que por aí também, as decorações natalícias já estão por toda a parte. Presépios bem iluminados em várias esquinas, luzes a enfeitar os prédios proeminentes, pais-natais com sorrisos parvos em todo o lado. Mas o que surpreende aqui é como é que num país tão pobre se pode celebrar tanto o Natal. As decorações são ricas em pormenores, em estrondosidade e iluminação. As crianças andam doidas, sempre a discutir com os pais porque querem tirar fotografias com o "Papai-Noel", mas recebem sempre respostas como "Há outro ali na frente". Então os miúdos fazem ali uma birra porque querem ir ver aquele Pai-Natal e não outro. Eu posso não ser muito velha, mas eu não me lembro de alguma vez ter recebido uma resposta como "há ali outro Pai-Natal à frente"! Então... mas assim não tem graça! Por isso é que aos 3 anos já sabem que o Pai-Natal não existe! (ups! é segredo...)
O Parque do Ibirapuera tem uma árvore de Natal gigante. Às 21horas em ponto, cai neve no Ibirapuera. A galeria Melissa mudou toda a sua fachada e tornou-a toda dourada, sem os cartazes à frente e com um (mais um) sorridente Pai-Natal dourado. Não há shopping que não tenha um belo presépio e muitos Pais-Natais. Na Avenida Paulista, que proporciona talvez as mais ousadas decorações de Natal, todos os domingos há concertos de Natal.
Bom, é muito Natal para, literalmente, dar e vender.
Agora, imaginem, com tanta luz, tanta coisa, tantas pessoas a carregar sacos de compras... imaginem como se sente aqueles pobres apelidados de "pragas". Na verdade, tenho visto menos mendigos. Devem refugiar-se nesta altura do ano... E se eu acho que é um exagero de espírito natalício, que chega a roçar ali a parolice... imaginem-nos a eles!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Planes (podem ler isto como planos ou como aviões, como queiram)

Começo a planear os meus próximos passos e vejo a coisa muito negra. Espanha, me aguarde!! Quem, o quê, quando, onde, porquê? Não sei. Por isso não mais desenvolverei.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Músicas prometidas (a loucuura total!!!)

Bem, meninos, aqui estão as músicas mais famosas da Tropa de Elite:

1) Esta é a mais pesadona, é a trilha inicial.
Osso duro de roer, hein? Também vai pegar vocêêê!!!

2) E aí vai o tão cantado funk.
Hahaha eu ainda não tinha visto o vídeo!!! Vejam este, vale a pena! Back to 80´s!!! Atenção aos pormenores, como os moços que dançam lá atrás! Lindo! Genial! Foi difícil encontrar algum vídeo com este funk cantado pelos originais cantores, e parece-me que este é o único... E vale muito a pena! Tá, a versão actual é um pouco mais moderna... but no video about it!!

Divirtam-se!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Condução´louca na caótica São Paulo

Nem sei como ainda não falei da forma como esta gente conduz. É, sem dúvida, uma grande diferença! Além da falta de civismo e dos exageros de velocidade numa cidade em que há imenso trânsito, que, portanto, só levam a que as travajens sejam bruscas, parece-me que os condutores não precisaram de muitas aulas para poderem guiar um carro - ou então é mesmo o jeito natural que é péssimo. Se, dada a velocidade que por aqui se pratica, percebo por que há grandes nomes brasileiros no automobilismo, não consigo perceber como é que esses grandes nomes conseguiram ainda não ter acidentes de maior.
As primeiras vezes que andei de autocarro aqui foram aventuras em que quase caí umas quantas vezes. Agora já me habituei. Já sei que é preciso agarrarmo-nos muito, muito bem para não cairmos, embora, mesmo assim, os corpos balancem bastante. Ainda ontem, estava eu a vir para o "trabalho", no ônibus de sempre cujo destino final é a Estação da Luz (não, volto a dizer, não é a discoteca de Aveiro), que apanhou ali a descida da Consolação com uma "gáspia" incrível. Ora, não conseguiu travar a tempo no semáforo vermelho que já estava vermelho há que séculos e, por uma questão de milímetros, não atropelou um senhor que estava a atravessar a rua na passadeira. Sucedeu-se que o autocarro parou já até mesmo a traseira tinha passado o sinal. O peão discutia. Os passageiros ficaram assustados e alguns proferiam ums palavras menos adequadas. Ao princípio também me assustei, mas a situação cedo me deu vontade de rir, até porque o motorista prosseguiu caminho como se nada tivesse acontecido.
Já que falo disto, há que referir outras diferenças dos autocarros. Para começar, têm quatro portas, em vez de duas. Duas para entrada (conforme o lado da estrada em que o autocarro parar) e duas para saída. A meio está um guichetzinho com aquelas espécies de porta tipo roldana e um funcionário encarregado por receber o pagamento e deixar ou não que a "porta" rode. Confesso que não sei o nome daquela "porta" que, de certeza, não é uma porta. Depois de passar para a parte de trás do autocarro já não há retorno. Para sair, é nessas duas portas "de saída" traseiras. Vai sempre um monte de gente ali dentro, mas normalmente os senhores são cavalheiros e dão a vez às senhoras para se sentar.
No metro, a única diferença de maior a assinalar é que só a entrada requer um bilhete, enquanto a saída é livre. E usa essas mesmas "portas" de roldana. Parece-me bem mais seguro do que os outros meios de transporte porque há câmaras, não há assim um tão grande excesso de velocidade e falta de civismo e, vejam só, há estações que têm marcado no chão os lugares precisos em que as portas vão ficar paradas.
Já os taxistas, esses, também são loucos. Passar sinais vermelhos é normal, fazer inversões perigosas também, e apitar e gritar com quem também anda na estrada é mais normal do que cumprir alguma regra de trânsito. Mudam de faixas à fartazana, sem olhar para trás, sem fazer um pisquinha que seja e ainda refilam se alguém lhes apitar.
Depois há os motoqueiros. Os piores. Há muitas motas aqui. Têm uma agilidade grande ao passarem por entre os carros, não a uma velocidade estonteante, mas bem rápido para o que eu conseguiria. Quando um semáforo abre, há sempre umas 20 motas que vêm na frente dos outros transportes todos, a jipar.
É engraçado que comentei as minhas impressões com um brasileiro e ele, com toda a razão, disse que eu não tinha muita legitimidade para falar quando estava no segundo país europeu com maior taxa de acidentes nas estradas. E disse que já tinha ido a Portugal e que achava que lá era igual. Mas ele deve estar meio esquecido. Há quem conduza mal, sim. Mas até eu que tenho a carta há pouco tempo acho que conduzo melhor do que esta gente toda. Sério!!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

16 dias

Já só faltam 16 dias para me ir embora. Nem vou acreditar quando entrar no taxi em direcção ao aeroporto de Guarulhos. Ainda mais incrível será o momento em que puser o primeiro pézinho no avião. E quando chegar a Lisboa? Quando vir coisas realmente reconhecíveis?? Quando voltar a ver caras conhecidas, quando voltar a conduzir o meu carinho lindo que a família já usou mais do que eu própria; quando chegar a Viseu e for ao Central tomar um cafézinho enquanto leio o JN.... jogar às cartas e aos dados... ter conversas parvas novamente, sem ser sempre esta coisa chata e séria, que uma pessoas evita dizer baboseiras para não ficar mal vista. Ouvir a nossa língua à nossa maneira vai ser reconfortante e deitar naquele sofá desconfortável para quem se quer deitar e ver televisão, com uma mãe chatinha que também quer deitar-se no mesmo sofá, pelo que ficamos as duas, cada uma para seu lado, naquela posição que já adquirimos para cabermos as duas... as labaredas da fogueira e o avôzinho a dizer "boas nôtes até amanhém se Deus quiser"... em Lisboa, ainda, reunir toda a família, ver sobrinhos que são os bébés mais lindos do mundo, e priminhos lindos, outros já cresicdos que já não têm tanta piada... revisitar a baixa e o Bairro Alto... socializar finalmente! E, acima de tudo, não ter nada em que pensar, nada de stress, nada de horários a cumprir, nada que nos faça ter mais um dia estragado... a não ser que a minha mãe se lembre de dizer "Helga, já enviaste os curriculae?", "E o relatório, já foste entregá-lo ao professor?", "Não te esqueças que tens que ir ao dentista amanhã!" ou "Vem comigo à rua....". Apesar de não querer pensar em nada disso a não ser no momento em que tiver que fazer cada uma das coisas (para isso serve o alarme do telemóvel), no fundo até dessas preocupações constantes da mãezinha tenho saudades (mas, mãe, não é para abusares! ter saudades não significa gostar!!! :) )
Enquanto esses dias não vêm, por aqui estou, a contar cada dia que passa. Dias vazios, dias inúteis pelo dia em si, mas úteis num futuro próximo. Enquanto esses dias não vêm, continuo na minha rotina: acordar às 11horas, arranjar coragem para enfrentar mais um dia chato, estar às 14horas no "trabalho", passar a tarde toda na internet, a trabalhar ou não, ir para casa e dormir.
Hoje é mais um dia assim (ah! hoje até vou ver um concerto da Sinfonia Fantástica, que, dizem, é fantástica), mas de resto, amanhã assim o será e por aí em diante.
16 dias. São só mais 16 dias assim.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

In e out

Está in:
- Usar catupiry em todas as comidas (catupiry é uma coisa estranha, que não é requeijão, não é manteiga, nem é maionese... anda ali no meio)
- Dizer coisas como "que massa", "gringo", "moleque", "ônibus", etc etc etc, essas coisas que se ouvem nas novels - ou não.
- Cantar as músicas de "Tropa de Elite", um filme do qual já aqui falei e que teve muito sucesso, músicas essas que postarei em breve no blog.
- Dizer coisas como "Cadê o baiano?", "Pede prá sair" ou "O Bope vai te pegar", frases retiradas do mesmo filme.
- Usar roupas frescas, que o calor aperta... mas hoje já choveu...
- Ter sempre um guarda-chuva e um casaco na mala.
- Lavar os dentes em locais públicos.
- Sorrir sempre.
- Viajar para todo o lado.
- Dar a ideia de que se vai fazer jogging. Para isso, usar calças de licra bermudas, boné, ténis brancos e, quem sabe, meias brancas.
- Ouvir música de i-Pods, mesmo que se esteja a atravessa a zona mais perigosa de São Paulo.
- Tiroteios vários a ocupar as páginas de jornais.
- Comida italiana, que é a mais típica de São Paulo.
- Piadas sobre portugueses (nunca saem de moda).
- Pôr música tão alta nas lojas (nem que sejam lojas de mecânica) que se ouça em todos os arredores, para que as pessoas notem que ali está a loja. De preferência, uma fila de meninas de pompons a dançar à porta.
- Misturar massa com arroz, feijão, salada, batata... Eles msituram tudo.
- Trabalhar na Folha

Está out:
- Ser do Corintians, que desceu de divisão (imaginem um Sporting a descer de divisão... sem querer fazer prognósticos, claro!)
- Não sair ao sábado à noite.
- Beber caipirinha. Quem bebe caipirinha é o "gringo". Este povo bebe cerveja, só e apenas.
- O estrangeiro morar em lugares chiques. Anda uma onda de forasteiros que preferem ir morar para a favela.
- Humor português. Diz que é ingénuo... (essa doeu!)
- Falar de pobreza e miséria.
- Defender o Hugo Chávez. Aqui tem que se ser contra até ao mais ínfimo pormenor.
- Música popular brasileira (Martinho da Vila e esses todos que a gente conhece).
- Comida saudável ou, por exemplo, um bitoque. Só arroz, batata e carne??? Não! Tem que levar também massa, feijão, salada e o que mais houver. Grão de bico? Pode ser, se houver...
- Não gostar de tomate.
- Calças à boca de sino.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Tios em acção

Fui visitar o Museu da Independência. Adivinhem com quem? Com o tio Anastácio.
Cheguei atrasada (30 minutos atrasada, depois de grandes correrias pela manhã). Entrámos no museu, ele não paga porque é da terceira idade e decidiu pagar a minha entrada. No fundo, não vi nada do museu. O tio Anastácio queria mostrar-me as coisas realmente interessantes ali dentro. Primeiro, subimos a escadaria do edifício que ele jura a pés juntos que nunca foi um palácio. "Que palácio? Isso é um museu, então...!". Mas aquilo para mim era um palácio, com aqueles jardins típicos, os rebicoques sumptuosos. E já confirmei que sim, foi um palácio em tempos. Bom, enquanto subíamos a escadaria observávamos os retratos expostos nas paredes. O tio Anastácio fazia questão de me dizer quem era o D. Pedro I (do Brasil) e a Dona Leopoldina. Como se eu não soubesse ler aquilo que estava lá escrito com letras bem gordas.
Chegámos ao piso superior e entrámos nas várias salinhas. Qualquer que fosse a coisa exposta ele fazia questão de me explicar: "olha, olha aí, isso eram as espadas e as armas... eles antes não tinham pistolas... ah e aquilo ali é aquilo que os soldados vestiam, as arma... arma, já não sei como se chamam". Começavamos bem. De qualquer das formas, ele achava que aquilo não era importante. Queria rapidamente mostrar-me aquilo que ele chama o "quadro da independência". Finalmente entramos na sala onde estava o dito cujo, que afinal não era mais do que um quadro maiorzinho chamado "Independência ou morte", que representava a cena da independência - tal como os outros. E sempre, em todos os quadros, ele dizia-me qual ali daquelas figuras era o Dom Pedro.
O resto do piso era dedicado ao mobiliário da côrte. "Olha a cama da Dona Leopoldina!". Todas aquelas coisas eram, segundo o meu tio, pertencentes à Dona Leopoldina... mesmo que lá estivesse a dizer que pertenciam à condessa santa não sei quê, ou a outra pessoa qualquer.
Até aí tudo bem, apesar de sentir que ele era a entropia principal na informação que recebia (agora percebo mesmo o que é entropia), e apesar de não ter tempo para ler as explicações, porque o tio Anastácio contentava-se com a explicação que ele próprio concebia. Às vezes, ele até lia qualquer coisa - o nome dos quadros, leu-os todos com alguma dificuldade em voz bem alta, para que todos soubessem o quão culto ele é; as datas, essas, também repetia em voz alta, essas já mais rapidamente. Até numa salinha em que havia um filme sobre um quadro com uma voz-off e, além disso, com as legendas daquilo que a voz-off dizia, ele conseguia repetir as datas e explicar o que estava a acontecer: "Olha, quando o filme pára aqui, acende ali a luz no quadro", explicava, conhecedor, quando se apercebeu que isso acontecia (escusado será dizer que já toda a gente tinha percebido isso). Os comentários do tio eram cansativos.
Mas só depois de tudo isto é que as frases mais chocantes foram proferidas. Enquanto víamos o mobiliário, segundo ele, da dona Leopoldina, sai-se com esta pérola: "Ah, mas que interessam os móveis, nunca se sabe se eram desse tempo ou não... eu não acredito, depois de tanto tempo já tinham virado farelos... eles de certeza que fazem uns novos, mas a gente não sabe". Tentei explicar-lhe que havia formas de proteger os móveis, para que não se degradassem tão rapidamente, mas ele disse que "essas coisas pra proteger não servem de nada, filha". Imediatamente a seguir, lá vem com mais uma informação. É que no Museu de Ipiranga há muito turista... Jura? Um museu com turistas?? Não digas!!... "é, essa garotada toda aí não é daqui, quer ver?". Então o tio adoptou uma técnica especial. Podia perguntar simplesmente de onde vinham, para me provar de que estava certo. Mas não. Vejam a aproximação que ele fez a uma miúda: "Oi, chega aqui ó moça!", gritou. Quando ela se aproximou, lá vai disto: "Ocê quer ser minha namorada?". Claro que a garota ficou envergonhada. Mas, ainda assim, em vez de lhe mandar uma chapada, riu-se, disse qualquer coisa que não percebi e só depois o tio perguntou de onde eram. Por acaso eram de São Paulo, ou seja, tanto ele como eu estávamos errados.
Depois de termos já visto a pintura que ele tanto me queria mostrar, apressávamo-nos agora na procura da sala do dinheiro. A partir da parte dos armários, aí é que não vi mesmo mais nada. Já mais nada interessava e o tio afirmou mesmo várias vezes que "interessa ver é o dinheiro, quero ver o dinheiro, pô, onde é que tá?". É... Não vi mais nada porque, afinal, a sala das moedas não apareceu porque, afinal, o museu foi assaltado.
Saímos enfim do museu em direcção a casa dele para encontrar a tia Conceição e lá me oferecerem o almoço. Saímos do jardim anexado ao palácio e fico surpresa quando vejo que o tio conhece toda a gente ali. E então percebi que ele vende ali sucos, refrigerantes, águas, "até água de côco eu vendo ali". Já não tem a padaria! Passámos no supermercado para comprar um frango e seguimos em paz, até ao enfim reencontro com a tia fortona.
As discussões entre os dois são surreais. Cada um mais "cabeça-dura" que o outro. "Você foi buscar o frango aí?? Eu disse pra ir naquele lugar em que também vem a farofa e a batata, Anastácio!". E comenta mais baixo, para mim- "faz tudo ao contrário". Mas prossegue: "aaahhh, você não mandou cortar o frango, meu deus? eles cortam tão direitinho!!! eu não pedi pra você mandar cortar ele?". Uma série de reclamações por aquilo que o tio Anastácio fez naquele dia. Mas o também conhecido por portuga ou Almeida (descobri hoje), não fica atrás nas implicâncias. "Ainda não fez o almoço, mulhé?" ou "Pára de falar bobeira" são algumas das frases mais citadas pelo tio.
Tentei apaziguar o ambiente. "Então, tia, não veio connosco ao museu? Pensei que também ia!". Mas devia ter estado calada. Enquanto ela dizia que o tio não lhe disse pra ir e que ele nunca quer ir passear com ela, o tio dizia que ela tinha que ficar a fazer o almoço, de outra forma, quem o faria? Então, preferi manter-me mais calada. Quando um se ausentava, o outro pedia-me para não ligar às "bobeiras" do outro. Uma confusão.
Entretanto, o tio insistia que eu bebesse cerveja, vinho, cachaça... Mas eu recusava sempre... Se tivesse aguinha preferia, que até estou com sede. Sim, estão a imaginar-me a beber cachaça às 11h30 da manhã... lol "Ah, mas caipirinha você tem que beber... vai beber uma caipirinha como nunca bebeu, que eu faço uma especial". Continuei a recusar, justificando que ia trabalhar à tarde e que não me ia pôr ali a beber. Mas teve que ser... Ele fez mesmo a caipirinha por minha causa, misturou pra lá umas coisas que eu não sei o que é, e ainda me chega a tia Conceição com uma coisa chamada "Pinga da Roça", uma bebida típica de Minas, que eu tinha que provar... Conclusão, ali em jejum já nos copos... Aquela pinga da Roça é forte que dói, tipo cachaça, nem sei se é cachaça, e mais uma data de bebidas na mesma caipirinha muito doce... A minha mãe diz-lhes!! Depois chegou a hora de comer e fui obrigada a comer uma refeição que daria para três ou quatro pessoas... Já empanturradíssima, o tio continuava a pôr-me frango, a tia queria fazer mais massa, depois de um prato a abarrotar. Ainda assim, fui obrigada a comer quatro rodelas de abacaxi na sobremesa e a provar um pouco da carne em vinha de alhos (como um lanche que se cruza com o almoço) super salgada que a tia tinha acabado de fazer.
Alguma coisa má esteve prestes a acontecer. Agora percebo a falta que faz um vomitório... Estava mesmo mal disposta. Fui passear com a tia, a ver se fazia a digestão. O tio ficou de ir ter connosco, mas não o encontrámos. Regressámos a casa, lá estava o tio. A ideia era eu ter ido directa para casa. Mas estou aqui e ainda não fui a casa. Acontece que a tia achava que eu ia passar o dia todo com eles, e até mesmo que lá dormiria. Esta mulher tem um qualquer tipo de problema e, concerteza, sente falta de passear e falar com pessoas. Expliquei-lhe que tinha uma reportagem para fazer e que ainda tinha muitos planos para hoje. Disse-lhe que ia para a Liberdade, e tinha mesmo que lá ir, embora a minha vontade naquele momento fosse ir para casa dormir. Ela fez questão de me acompanhar. Pediu ao tio que nos levasse ao metro de carro. Sim, andei naquele carro fantástico outra vez e voltámos a ficar atravessados na estrada... e percebi que o condutor também não ajuda muito à prestação do bolinhas. A tia fez questão de berrar para dentro da Casa de Portugal (onde eu ia falar com pessoas como jornalista) a dizer "óóóóhhh, vem cá, ela qué fazê umá perguntá prá você". E ausentou-se... Que vergonha!!! Mas quem a mandou? Eu ia despedir-me dela, despachá-la, e depois, aí sim, ia tratar das coisas de forma civilizada. Não queria esta entrada espampanante. Expliquei ao senhor o que queria, ele mandou-me entrar, era de Aguiar da Beira, lá em Viseu, e super simpático. Nem sequer pus em questão chamar a tia para entrar. Para passar vergonha, já chegava. Ela estava a ver qualquer coisa do outro lado do passeio quando eu entrei. Já lá dentro há um pouco, ouvi um berro da tia, do lado de fora. Disse adeus e mandou-me um beijo. Não tem noção das coisas!!! E foi embora...
Ela já sabe que quando eu lá voltar vai fazer bacalhau para mim. Ai, mas eu nem vou perder tempo a ir lá, tenho mais que fazer...

sábado, 1 de dezembro de 2007

Brand news

Antes de mais... Mónica, uns sapatos são 30 e outros 40 euros (os não-sei-quê disney são os mais caros). Até fiquei parva quando vi!! Mas só vou ter espaço na mala para um par lol e mesmo assim... já vais com sorte lol
Depois... tenho em mãos duas reportagens trabalhosas: uma para a Folha (para a editoria onde eu já não estou mais) e outra para a revista Sábado. Não vou ter tempo para nada estes dias, logo agora que são os momentos derradeiros para conseguir visitar tudo.

E ainda... amanhã vou estar com os meus tios outra vez. Serão horas bem duras- desde as 10horas e espero conseguir libertar-me às 14 hora, mas vai ser difícil, que eles vão-me ficar a enrolar e vão querer que eu fique mais e mais... mas tenciono de seguida ir ´ver o mercado municipal, que ainda não pude ver e ainda o MAM (Museu de Arte Moderna) que fica um pouco deslocado... Para depois me pôr a trabalhar. Mas eu não quero trabalhar, eu quero férias!!!!!