sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Depois de... Tou viajando

"Tou viajando". No sentido literal e no sentido figurativo. Esta terra é muito "fora", as pessoas são "fora", tudo o que tem acontecido é "fora".
Não posso contar tudo aqui porque há quem se preocupe comigo (ainda há...), gente que poderia ficar preocupada. Mas posso assegurar que vivi a aventura mais surreal da minha vida no Rio. A bem dizer, nada ainda me pareceu totalmente real. Ainda estou em choque. Depois de partir de São Paulo sem nada definido em concreto; depois de uma viagem num autocarro espectacular até cá, que, em vez de cadeiras, tinha autênticas poltronas, almofadas, mantinhas e um saquinho com comida e bebida para cada um dos viajantes; depois de parar durante 30 minutos sabe Deus onde era; depois de chegar ao Rio e ter que procurar um transporte até ao hostel(com a duração de 45 minutos) num autocarro também muito bom; depois de sair na paragem mais próxima e andar, de malas e bagagens, à procura do tal hostel, sob chuva bem pesadona e chegar totalmente ensopada (já para não falar da arquitectura, digamos, diferente e irreverente do hostel); depois de (esta foi grave e tem muitos pormenores que só com tempo contarei) aventuras que envolveram um casal alucinado, místico e, no final da noite, bêbedo, em que a mulher se revelou bissexual, chorava, ria, bebia, e o homem acreditava piamente que as cartas já lhe tinham avisado que eu ia aparecer e que nós nos conhecemos noutra vida - atenção que eu era espanhola; depois de ficar até às tantas da manhã em conversas imperceptíveis com um francês e um colombiano, numa linguagem um tudo nada aproximada ao português; depois de apanhar um transporte muito fora, que era uma carrinha de 12 lugares branca (chamada van), em que o motorista conduzia como um doido, por entre curvas e contracurvas de precipícios, a música ia bem alta e havia um moço responsável por gritar da janela qualquer coisa que não percebi, terminada em "é aí, ó!", que suponho que fossem as paragens que a "van" fazia; depois de ver uma favela gigante - nunca imaginei que uma favela pudesse ser tão grande - quando estava à procura de um taxi e tinha, atrás de mim, uma montanha enorme por onde subiam os casebres (será que posso chamar casebres?) até perder de vista, mas, simultaneamente, por incrível que possa parecer, davam uma imagem belíssima, digna de foto que a minha máquina se recusou a tirar porque, vim depois a perceber, a bateria estava ao contrário; depois de ir visitar a Casa das Canoas, do Niemeyer, e não haver transporte até lá e eu ter então que "pegar" um taxi e subir a colina, tocar à campainha, ser atendida por pessoas estranhas, ter que preencher um termo de responsabilidade sobre as fotografias para mero uso privado, e pagar 5 reais para ir ao andar de baixo, que, afinal de contas, se resumia a três escritórios, e não poder ver o jardim a preceito porque, afinal de contas, também no Rio se abate uma chuva torrencial. Depois de tudo isto em menos de 24 horas, aqui estou eu a esrever um post e a reflectir sobre o assunto.
Não sei se é só comigo, ou se toda a gente que vem ao Rio reconhece esta estranheza que eu só acreditaria ser possível num outro mundo que não o nosso. Há mais favelas do que locais ditos normais. As pessoas são tão hospitaleiras que mais facilmente demonstram insanidade mental. Não sei quem disse que havia aqui sol, mas não me parece veradade, uma vez que nem um raiozinho eu vi. Queria subir ao Cristo Redentor, entre outras coisas que requerem céu limpo. Está difícil. E haviam de ver o meu quarto. Ou melhor, não é o quarto, mas sim o percurso até ao quarto. Nada como a nossa casinha, não é?

Nenhum comentário: