terça-feira, 6 de novembro de 2007

São Paulo é um lugar estranho

Uma mulher, decerto possuída, corre na rua e grita coisas incompreensíveis, como quem lança uma espécie de um mau olhado a alguém, nas suas vestes andrajosas e uns lenços que lhe cobrem parcialmente a cabeça e o corpo.
Um homem sentado no metro faz caretas estranhas, de meter medo. É parecido com o Incrível Hulk, mas não é verde. E as carteas não ajudam!
Num "concerto ao vivo", uma mulher esganiça a sua voz, movimenta-se como um vocalista de uma banda rock e agarra um microfone imaginário com as duas mãos bem entrelaçadas perto da boca. A acompanhar, um "guitarrista" desafina a viola, limitando-se a fazer tremer uma corda ou outra, sem se esforçar por fazer qualquer acorde ou nenhuma nota específica.
Um moço caminha na rua. As passadas são dadas ao mesmo ritmo que a cabeça abana. Os headphones denunciam de onde vem a música. O moço canta e berra, emite uns grunhidos metaleiros, como se estivesse sozinho em casa.
Um miúdo que aparenta 10 anos deambula a altas horas pela rua. A cara está toda farrusca. As roupas também. Com agressividade, pede-me um cigarro. Digo que não tenho, mas ele insiste. Não queria mostrar-lhe a minha mala porque, precisamente nesse dia, tinha comprado a máquina fotográfica e todo o material acessório. Estava tudo dentro de uma mala que eu não queria mostrar, muito menos porque todo o dinheiro que tinha para o resto da semana estava comigo. Mas felizemente chegou um senhor que lhe deu um cigarro.
Aqui há coisas estranhas. Tudo isto vi-o apenas no caminho para casa. Um caminho atribulado porque saí mais tarde do trabalho e fiquei à espera do autocarro durante uma hora, até me aperceber que o meu autocarro já não devia passar àquela hora. Um caminho em que tive que ir a pé até ao metro, trocar de linha três vezes e ainda ir a pé até casa (demorei 1h30m).
É isto que se pode ver à noite em sítios estranhos de um estranho São Paulo. Além de se sentir um medo constante e desconfiança perante todas as pessoas que passam na rua: "será que me vão assaltar?".
Mas nem tudo é assim. Confesso que estou nervosa porque amanhã vou assistir a um concerto de música clássica com o Natali. Ele é o repórter mais acarinhado da Folha. Antes de o conhecer, já me tinham falado dele. Quando é apresentado a alguém, é apresentado como "o melhor repórter do Brasil". Um senhor grande. Óptima pessoa. Tão culto... mais ainda do que os outros. Impõe respeito. E não tinha ninguém para ir com ele ao concerto, eu sou a única que pode sair mais cedo. Opa!

Um comentário:

Anônimo disse...

que bom!! contactos, contactos...