quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Olhem para o chão!

E neste dia de finados... em Portugal, que aqui é só amanhã (ainda bem, que assim fico com fim de semana prolongado)... regresso para mais um post.
Venho aqui partilhar situações tristes, pá. É verdade! É um dia triste, portanto... só se pode falar de coisas tristes e deprimir e essas coisas, senão até parece mal e as pessoas falam... E é para que não digam que eu vos dou vontade de rir. :) Se algum dia vierem a São Paulo, tenho que alertar-vos para que não andem com a cabeça na lua. Não estejam constantemente a olhar os pormenores dos edifícios gigantones desta cidade. Lembrem-se de olhar para o chão. Mesmo. Custou-me a adaptar a isso, mas agora quase que sou um ser sem sentimentos, que já quase não se arrepia ao ver a quantidade de mendigos que dormem nas calçadas. E esses mendigos não têm grande preocupação em passar despercebidos, encostando-se a um cantinho confortável enrolados na mantinha. Aqui há calor, portanto eles estão bem esticados no meio do chão "batendo um ronquinho". Não vão vocês pisá-los, olhem para o chão.
No fundo, temos que ter sempre um olho no chão, outro no freguês em todo o lado. Por umas razões ou por outras. Sim, em Lisboa, por exemplo, temos que ter cuidado com os cócós porcos, feios e malcheirosos... C'est la vie! Aqui isso já não acontece, porque há imensos varredores do lixo que todos os dias limpam os passeios.
Mas é chocante esta história dos mendigos. Aqui na zona do jornal, então... podem ser um grande obstáculo às passadas firmes e livres na rua. Depois, há os caixotes do lixo. Todos os dias, quando saio do trabalho, passo por um mega caixote do lixo, onde há sempre alguém a rebuscar comida. Normalmente, eles estão aos pares. Um sentado no chão, com um saco do lixo aberto, já a comer os restos que encontra nesse saco, e outra pessoa de pé, fazendo os sacos saltitar, na ânsia de encontrar algum que pareça ter comida, para dar ao que está sentado no chão, que vê tudo mais detalhadamente. Até os mendigos são organizados, já viram?
E eu ali fico a observar aquilo - o único espaço onde decorre alguma acção enquanto espero o autocarro para voltar para casa. E, mesmo quando chego a casa, costumo ver isso. Também há um caixote na esquina da minha casa, alvo de algumas investidas mendigueiras.
E, claro, vêm pedir dinheiro. No primeiro dia em que saí tarde do trabalho (portanto, o segundo dia de trabalho, e, a partir daí, foi sempre, todos os dias, a sair tarde), vieram 3 pessoas diferentes pedir esmola. Eu, à primeira pedinte, que dizia "por favor, já todos me conhecem aqui, não vou fazer mal", saquei das moedas todas que tinha e dei. Mas ela queria dois reais à força, e insistia. Dois reais já é uma nota. A medo, lá abri o espaço das notas (tinha muitas lá, que isto de pagar por cada levantamento que faço, obriga-me a levantar mais dinheiro de uma vez do que numa situação normal). Como não pude remecher bem esse espaço, não fosse ela perceber que eu estava ali cheia de guita, tirei uma nota qualquer. Saiu uma de 5 reais e lá lhe dei (sim, acabei por dar aí uns 2euros, no total). E foi-se embora. Ainda encontrei mais dois mendigos que me vieram pedir uns trocos. E, aí distribuí mais um tanto. Sabia lá se eles me faziam mal, se eu não desse dinheiro?
Mas agora já percebi. Nunca mais tive que distribuir prendinhas a ninguém. O meu passo é rápido, já não olho em redor. Foco um ponto qualquer na minha frente, determinada, e finjo nem me aperceber que as pessoas vêm ter comigo. Senão ia à falência, não? (Ai, que egoísta... sim, eu tenho pena de ser assim, mas primeiro a minha sobrevivência, depois a dos outros... se não tiver dinheiro para mim, como terei para os outros? e acho que nós, da sociedade (pós)moderna, somos todos iguais nesse aspecto... mas, vá, condenem-me!!!).
Pensava que isto acontecia em todo o Brasil. Ao que parece, não. O Wherle, um brasileiro do nordeste lá da residência, confessou estar alarmado perante o número exorbitante de mendicidade. Bom, mas ele não é muito de fiar, porque também disse que achava que as pessoas aqui andavam muito rápido! Haha! Rápido? As pessoas estão todas paradas em escadas rolantes, na maior das calmas passeando no metro, em longas conversas, daquelas em que há pessoas que páram quando têm que falar e param consequentemente a circulação do trânsito, que também não está muito apressado. Eu disse-lhe para ir à Europa para ver o que era pessoas a correr... Ou ainda melhor, a uma cidade tipo Tóquio ou assim... não que eu já lá tenha ido, mas imagino... Se não me engano, a constatação dos mendigos foi a única em que concordamos, mas não interessa. Acreditem em mim, que é escandaloso!

3 comentários:

i disse...

que triste...eu nem sequer me habituei aos mendigos de lisboa. apesar de passar por eles imensas vezes, faz-me SP impressão e fico sempre a pensar nisso... imagino aí =S

Anônimo disse...

Pobre mundo este... Mundo onde o pobre é cada vez mais pobre e o rico cada vez mais rico. A Banca aumenta os lucros e a pobreza, a fome, a miséria aumenta a olhos vistos. Nesse belo país de praias e paisagens lindissimas, impera o roubo , a fraude, o crime a droga... Tudo isso perante o olhar atento dos governantes e dos "donos" do mundo! Ou pelo menos daqueles que se acham donos dele... Sim porque não o são...ja que hoje e sempre o povo é quem mais ordena.

Anônimo disse...

Ai amiga, acho que estou sensivel hoje, sei la... Sonhei com Amsterdam a noite inteira, e de repente me deu uma vontade de saber de vocês todos desse erasmus que me faz tanta falta. E Pela primeira vez entro no seu blog. Li alguns dos seus posts, e pelo visto você já está se acostumando a ser uma autêntica moradora de Sampa. A verdade é que Sampa é muito mesmo, mas mendigo tem em qualquer lugar. Pode confiar nesse seu amigo aí. Vc foi pra capital da mendigagem. Mas não pude deixar de me horrozizar ao voltar para casa. Pois a gente acostuma com coisa boa rápido demais. Em Haia, eu já não me lembrava como era ruim ter que olhar sempre para o chão. C'est la vie!
Amiga, aparece, viu. A saudade tá grande mesmo. Quero te ver! Beijos

Carol