quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Ambientes paulistas

Confesso que ainda não me informei sobre as leis daqui. Mas fiquei espantada hoje! Fui ao quiosque comprar "chiclas" e um senhor na minha frente na fila olhava de forma suspeita para qualquer coisa. O senhor do quiosque correu subitamente a esconder uns maços de tabaco que estavam em cima do balcão. "Ai, sabe, acabaram de chegar!". Como eu não percebi o que se passava e ele topou a minha cara de "não tou entendeendo!", explicou-me que no Brasil, as marcas de tabaco mais fortes não podem estar expostas; têm que estar escondidas de baixo do balcão e não pode haver publicidades. Realmente eu nunca vi charutos à venda, mas já tinha visto cigarros, nunca pensei que não pudesse estar exposto. "São só os mais fortes", replicou o senhor do quiosque. Depois mostrou-me que mesmo o tabaco mais fraco não está exposto directamente. Chamou-me atrás do balcão e lá me mostrou que o que se vê são apenas papéis, e não as caixas reais. (Aqui, eu não percebi por que é que isso acontece). O senhor do quiosque rematou com uma informação bruxa: "Sabe o que é que vai acontecer daqui a um tempo? Vai desaparecer tudinho, nem isso se vai poder afixar... Vai tudo ser vendido tipo tráfico, sabe?". Bom, mas eu só queria as minhas pastilhas e estava com pressa, até... Então não lhe respondi e pedi as chiclettes.
Uma coisa que eu já tinha constatado foi que é raro ver alguém a fumar em cafés ou qualquer sítio público, a não ser em esplanadas. Acho que é proibido fumar em sítios públicos. Mas isso poderia levar a que nas ruas houvesse muita gente "fumante", como eles chamam aqui. Não! Acho incrível e admiro: Poucas pessoas fumam, não tem nada a ver com a Europa!
Poder-se-ia daqui depreender que eles aqui são uns protectores do ambiente, amantes da natureza. Mas se pensaram isso, desenganem-se! Acho que o comentário de uma rapariga que partilhava o quarto comigo, na outra residência onde eu estava, basta para exemplificar. Ela estava a tomar um duche extremamente demorado e a Mariah, americana, disse qualquer coisa naquela pronúncia de adolescentes americanos armados em bons, que parece que têm dificuldade em pronunciar as consoantes, e falam daquela forma irritantemente enrolada e anasalada, extremamente rápido, que quando parece que meramente disseram um "hey", afinal o que disseram foi "i went to the beach and i had so much fun there" ou qualquer coisa do género, que passa como um flash e, se não estivermos preparados, não vamos entender nada e temos que perguntar o que disseram e, mesmo assim, quando repetirem, vamos ter dificuldade em entender porque eles também não facilitam nada... Bom, a Mariah disse qualquer coisa como "so much time for a shower?" Mas a brasuca respondeu-lhe desta linda seguinte forma: "Brazil has a lot of water, so I can spend all the water I want. Here we won't have problems because of water, for sure... pfff so much water!!". Sim, eles também são muitíssimo altruístas. E espertos que são... Espertos!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Éuga

Por que é que estes caramelos insistem em chamar-me Éuga? Não conseguem mesmo dizer os "éles" (l). Ou seja, a configuração do meu nome transforma-se totalmente. Éuga é bem diferente de Helga!! E isso revolta-me, até porque a nova configuração do meu nome me faz lembrar um animal chamado égua. É como o meu avô, que diz áuga em vez de água...

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Weekend/Weekstart

Durante os fins de semana não tenho acesso à net, por isso hoje actualizo o sucedido no fim de semana. Bom, deixem-me que cvos diga que fui a duas sessões de cinema. Vi "O Passado", com esse grande actor que é o Gael Garcia Bernal, e "Tropas de Elite", sem dúvida o filme mais falado este ano aqui no Brasil, embora interpretado de forma bem diferente da interpretação de pessoas de outros pontos do mundo - aliás, fiquei bastante chocada, enquanto aqui o pessoal se diverte e as crianças já utilizam expressões do filme no dia a dia e já rodam filmes no YouTube imitando as cenas mais dramáticas de forma supostamente cómica.
Entretanto, perdi os concertos de Björk e Arctic Monkeys. Era caríssimo e não há dinheiro que aguente. Acabei finalmente de ler a Conspiração, do Dan Brown, e confesso que não fiquei fascinada. Dan Brown não me convenceu!
E tive umas 24horas daquelas:
Estava alegremente a sair do banho. Tinha que passar pelo hall, descer as escadas e percorrer o corredor até chegar ao quarto. Quando abri a porta do quarto de banho, vi um pássaro feio no chão. A minha fobia a estes animais descontrola-me, pelo que regressei para dentro da divisão do banho e fechei a porta bem fechadinha. Não havia ninguém por perto. Tive que tomar uma atitude e enfrentar este medo. Abri novamente a porta, dei um passo, e o pássaro começou a voar incontrolavelmente. Voltei, assustada, para dentro da casa de banho. Repeti a acção corajosa, convencida de que era desta. Mas não, o pássaro assustava-se comigo e começava a voar. Por conseguinte, eu assustava-me com ele e regressava ao sítio de onde tinha saído. Isto repetiu-de uma série vezes, alguns gritinhos meus de vez em quando. Ainda tentei chegar só ao corrimão para chamar alguém que eventualmente estivesse no andar de baixo, mas nem isso conseguia. Uma hora depois, chegou a Dona Alice, a recepcionista. Com a porta entreaberta, emiti um "oi" estranho e ela percebeu logo que eu estava com medo e encaminhou o pássaro para outro compartimento. Imaginem só o quão assutada eu estava, que me escorreu uma lágrima, tão agradecida que estava à Dona Alice. Ridículo! Pior que uma criancinha de 3 anos... Um dia hei-de consegui enfrentar este medo.
O dia passou, sem mais percalços. Mas quando regressei à residência e tentei abrir a porta do meu quarto, não consegui. Uma senhora que estava a ver TV no hall foi ajudar-me a tentar destrancar a porta, mas os esforços dela também não se revelaram eficazes. Por sorte, o meu quarto é no rés-do-chão e, por sorte, a janela não estava trancada. Saltei a janela e fiz, novamente, figuras ridículas para entrar e sair don quarto, visto que a porta não mais abriu naquela noite. Mas o dia ainda não tinha terminado e, de noite, virei-me (ando a movimentar-me muito durante a noite, já não sou a pedra que era antes). Essa viragem provocou a queda de uma tábua da cama. Nunca pensei que o meu peso fosse assim tãããão exagerado. Dormi muito bem, como podem imaginar, com a cama partida ao meio, tanto que, quando acordei, já eram 3 tábuas as quie estavam partidas.
A Dona Alice, mais uma vez, resolveu estes problemas mal eu lhe falei deles. Abriu a porta à terceira tentativa e imediatamente pediu a um carpinteiro que me compusesse aquilo. Quanto à cama, faltava uma peça e daí estar mais insegura. A Dona Alicinha compôs logo tudo.
Depois disto, saí de casa. A temperatura estava muito alta e, suponho que por isso, ia desmaiando em pleno autocarro. Nunca desmaiei na vida, mas senti mesmo que ia desmaiar. Tontura, enjoo e palidez invadiram-me. Uma senhora que ia ao meu lado apercebeu-se quando eu me virei para ela e, com dificuldade, pronunciei um "Tem água? Estou me sentindo mal!". Ela obrigou um senhor a levantar-se para eu me sentar, obrigou-me a encostar a cabeça aos joelhos, respirar fundo e a ir comer um salgadinho quando chegasse ao destino... Melhorei. E depois compreendi que ela era profissional de saúde e por isso teve uma atitude tão rápida. Sim, ela contou-me a vida toda.
Eu sei que estas histórias foram deveras interessantes. Desculpem, mas este blog é mesmo para contar a minha vida por cá. Quase tipo diário de criança de 8 anos. Ah! E cortei o cabelo. Num acesso de loucura... Andava a odiar o meu cabelo. Estava uma tesoura na mesa de cabeceira. Ela estava a chamar-me! Está muito curto... Não dá para atar. Mas aqui na redacção já me disseram que está óptimo!! Que pareço uma adolescente! (ao que eu respondi que ainda sou uma adolescente... mas depois de o dizer percebi que não... e isso é uma constatação que me deixa muito triste.)

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Eldorado- love at first sight

Beeeemmmm, fui ao Shopping esta manhã! Finalmente parou de chover - o São Pedro sempre ouviu as minhas preces - e consegui, sem custo, ir comprar o telemóvel. Fui ao Shopping Eldorado. Fiquei fascinada! Afinal, há por aqui mais coisas que reconheço. Pizza Hut, SubWay, Burger King, C&A e, imaginem, até uma Mango!!! Bem, não é uma Zara ou assim, mas já é reconhecível. Senti-me, pela primeira vez, próxima de casa. Um Centro Comercial é sempre uma boa forma de nos alegrar. Ou talvez não, mas neste caso foi.
Estava a comprar o telemóvel, quando descobri que precisava de ter nacionalidade brasileira para obter a "nota fiscal" (aka factura). Ou metia aquilo em nome de alguém brasileiro, com respectivos dados de identificação, ou então não podia comprar o dito aparelho, porque é obrigatório passar nota fiscal, e é assim que o sistema está programado. A senhora que me atendeu teve que pôr em nome dela ou sei lá de quem. Que estupidez!!! E o facto foi-me confirmado em diversas lojas.
Mãe, amanhã ligo-te e dou-te o número. Não queiras que eu divulgue isto em praça pública! Senão o telefone não pára de tocar, tal é a quantidade de pessoas que têm insistentemente tentado comunicar comigo (isto é uma ironia). Quanto mais não seja, não vão os tios "fortões" descobrir este blog... Eles deserdavam-me!, e isso até que não era mau de todo.
Tenho feito umas breves aqui para o jornal, e agora pediram-me para procurar coisas sobre Portugal para propor algum trabalho mais extenso. Eu já tinha proposto e disseram-me que não queriam saber disso para nada; agora já querem. Quem os entende! Por isso, na próxima semana já devo fazer alguma coisa de jeito por aqui. Obaaa!

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Está de chuva... allez metro!

Jabaquara, Tatuapé, Morumbi, Bresser-Moóca, Tucuruvi, Carandiru, Tietê, Trianon, Sumaré, Itaquera, Anhangabaú.

Parece que estou a cantar, não é? A trautear qualquer coisa... Mas são mesmo palavras que existem. Já viram isto? Isto são nomes de paragens do metro. Escolhi a dedo aquelas cujo nome não faço ideia de onde vem. Mas há outros nomes que eu diria engraçados: Vila das Belezas, Guilhermina-Esperança, Carrão, Barra Funda, Chácara Klabin, Brigadeiro, Consolação, Paraíso, Vergueiro, Tiradentes, Armênia, Parada Inglesa... Uns nomes que, por um motivo ou por outro, a mim me provocam sempre um leve sorriso. Não, agora já não dou gargalhadas sozinha, já consigo conter-me. Alguns destes nomes já começam a ser-me familiares. Trianon é um jardim perto donde eu morava, Brigadeiro é a rua ao pé de onde eu morava, Consolação é ao pé de onde moro agora, Tiradentes também já lá passei, assim como Tietê, Anhangabaú, Paraíso, Armênia e Vergueiro. Ou seja, no fundo, ainda há muitos destes nomes por conhecer.

Quanto ao ônibus, ainda não me consigo orientar. E, quando é de noite, tenho medo de perguntar, sobretudo porque a zona aqui do jornal é mázinha. Então nunca consegui ir para casa directa. Estando a chover como está (ainda não parou de chover desde que a temperatura subiu quase aos 40° e trovejou toda a noite- falei da subida de temperatura aqui no blog), eu não consigo ver onde ando. Nas janelas do autocarro, só se ve água e umas coisas desfocadas lá fora. Tenho ido sempre até à Paulista e depois volto para trás, para a Rebouças. Estava aqui a tentar deslindar como funcionam os sites onde, dizem, é possível descobrir o melhor autocarro que vai para o destino à escolha, partindo de uma origem à escolha. Mas nem com os sites estou a conseguir ver nada... Só se for a pé!!

Quero sol! Quero ir passear!! Esta chuva não dá com nada! São Pedro, onde andas tu, pá? Por outras bandas, de certeza...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Frases longas e complexas

O meu 50° telemóvel foi para o galheiro. É só isto que vos quero dizer. Se tentaram contactar-me (de certeza que recebi centenas de chamadas e mensagens) e não conseguiram, é porque o meu telemóvel pura e simplesmente deixou de ligar. Conforme ficou sem bateria, assim ficou desligado para sempre.
Estou a vingar-me. Depois de tanto tempo sem vir à internet calmamente, hoje estou a recuperar todo o tempo perdido. Uma vez que não há nada que eu possa fazer hoje nesta redacção, chegou o momento da vingança! Uma vez que tenho medo de propor coisas para fazer nesta redacção, porque eles são extremamente cultos e eu me sinto profundamente ignorante no que se refere à secção mundo, sobretudo quando estou rodeada por pessoas que sabem tudo sobre tudo, que até dá vontade de perguntar se têm vida social além de se limitarem a estudar as mais diversas matérias todos os dias (só pode!), então aproveito para me vingar na net.
Já não tenho muito mais para fazer, nem enquanto cibernauta, e estou prestes, prestes, prestes, prestes a perguntar se posso ir embora porque quero ir ao Shopping Dourado comprar um telemóvel novo devido ao facto de ter estragado o meu anterior e, por isso, estar totalmente incontactável, até porque perdi o cartão de chamadas internacionais, que também convinha ir comprar e, já que vou ter um telemóvel brazuca, também já comprava um cartão SIM brasileiro. Seria uma justificação muito má?
E não sei o que está a acontecer comigo, mas está-me a apetecer escrever frases longas e complexas, como quem não fala com ninguém há séculos e séculos e como quem quer contrariar toda e qualquer (isto não é uma redundância?) regra jornalística, ao contrário daquilo que um jornalista decente deveria fazer, seguindo assim os princípios fundamentais estudados ao longo da história da comunicação.
E, sem mais demoras, visto que hoje não estou para textos "pipis" demonstrando toda a minha alegria, ou tristeza, ou excitação por estar num país diferente a absorver diaria e anti-rotineiramente novos hábitos culturais, novos conhecimentos e novas coisas, vá, posso dizer coisas (e não há palavra mais abrangente do que coisa... ou talvez haja- merda se calhar ainda é mais abrangente), e parando portanto com todas as baboseiras que estou para aqui a digitar, despeço-me com um beijo (epá... respiração ofegante...), aproveito para (respiração ofegante) mandar um (respiração ofegante) mandar um grande beijo (respiração ofegante) para a minha mãe (respiração ofegante... enquanto se ouve um "búúúúú" do púlpito), outro para toda a minha família (respiração ofegante... e mais um "búúúúú" do púlpito - não sei porque estão a fazer isso!!!!) e também para (respiração ofegante) todos os meus amigos ("búúúúú"), por me terem apoiado nos momentos mais difíceis ("búúúú" e respiração ofegante... e a lágrima no canto do olho).
"Boa noite, obrigadooo!"

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Helga em folha

Tantas coisas para dizer e tão pouco tempo para escrever. Pelo menos, já não pago a net. Já posso, um destes dias, corrigir as gralhas todas dos textos anteriores. Sim, que a minha mãe disse: "A tua irmã já me mostrou o teu blog", - "Ai foi?" -, "Istá xeio de errux hortográficux". Claro, o melhor comentário que uma mãezinha pode fazer ao blog da filhinha...
Mães à parte, aproveito para vos dizer que estou na Folha de São Paulo. O programa que eles utilizam para escrever é bastante retrógrado. Por isso, tive uma aula individual de 3 horas com um dos professores do treinamento para perceber o programa chamado SDE. Um programa argentino (já ouviram falar de algum programa argentino???). Claro que não é de confiar. É preciso decorar códigos, passos a seguir. Só por isso, já posso dizer que sinto a falta do JN, com um programa que eu criticava tanto, mas que agora vejo que era fantástico.
E o que é o treinamento? O treinamento é um programa que ensina estudantes, jornalistas, médicos, professores, políticos, varredores de escadas, engenheiros, whatever, a exercer o jornalismo. De manhã à noite, dez alunos têm aulas, exercícios e a redacção do próprio jornal, assim como colaborações com diferentes editorias (secções) da Folha. Depois de meses de aprendizagem (acho que são 3 meses), têm a oportunidade de ficar como jornalistas da Folha. "Quem não fica é porque tem alguma coisa melhor para fazer", contava ali uma rapariga do treinamento, que confesso não me lembrar do nome. Bom, mas para essas 10 vagas, há milhares de candidatos!...
Estou a escrever a minha primeira notícia da Folha. Eles aqui são muito mais organizados e têm uma maneira de trabalhar muito diferente da portuguesa. Há reuniões pelo menos três vezes por dia. Às 9horas (não sei que reunião é), às 14horas (secções) e às 17horas (editores). Eu tenho que ir sempre à das duas horas, que é quando a secção Mundo reúne. São agora 18.20 horas. As páginas ainda não estão feitas, não sei quanto espaço a minha notícia vai ocupar, mas toda a gente trabalha como se as páginas já estivessem feitas. Quem trabalhou comigo, sabe que detesto escrever quando não há um espaço definido para o que eu vou fazer. Por isso aqui estou, a escrever no blog, tentando evitar que alguém repare (mas parece-me que toda a gente já notou). E vou ter que me habituar a fazer texto e apagar depois, ou ter que acrescentar, cortar daqui, colar dali...
A redacção é enorme. A Folha ocupa quatro edifícios, embora eu ainda só tenha passado por dois. E perco-me com frequência! Tenho que pedir informações sobre para onde ir, como quando procuro um monumento em específico nas ruas de São Paulo.
Ontem pediram-me para escrever dois parágrafos com a minha apresentação. Primeiro, pensei escrever qualquer coisa do género "Helga loirinha, bem gostosa (etc, não me vou alongar)". Depois achei melhor não me armar em parva logo a abrir. Choveram e-mails com pessoas que querem ajudar-me a conhecer a cidade, ou que estão em situações minimamente parecidas, ou de pessoas que conhecem Viseu, ou que são descendentes de portugueses. À partida, parecia-me que ia ser uma sala de engate e estava com um certo receio. Mas não. Foi tudo malta extremamente prestável, como qualquer bom brasileiro.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Meu Deus!!! Estou na Folha!!!!

domingo, 21 de outubro de 2007

Onde está o Vitaminas e Cia?

Finalmente é Verão. Até aqui tinha estado sempre a chover. De um dia para o outro, a temperatura subiu mais de 10°. Ontem já estavam 32°!!! E hoje esperam-se 38°...
Começo a ter saudades de alguma coisa que eu reconheça. Só vejo arranha-céus. Nota-se logo que sou turista porque ando com a cabeça sempre bem erguida, observando os pormenores dos prédios enormes. Só o McDonald's me faz sentir próxima de casa. É a única coisa que reconheço de algum lado. Embora seja mais barato do que em Portugal e tenha ma forma de atendimento ligeiramente diferente. Os gelados também são outros e os hamburgueres não são confeccionados da mesma forma. Mas não deixa de ser o McDonald's. Já vi aí uns 4 só na zona onde moro, e desconfio que há mais. Esta gente só come porcarias. Não há grandes hipóteses. Pizza é o mais tradicional, pelo que dizem... Quem diria... Depois, bota cachorros, hamburgueres, fast food, tudo bem oleadinho. Ando a precisar de coisas mais saudáveis, mas ainda não encontrei. Um Vitaminas e Companhia faz falta a esta cidade... E eu que pensava que era um país da fruta, da salada...
De resto, fui ontem a uma Fnac irreconhecível. Parece-me mais cara do que aí em Portugal. Ou então sou eu que já estou habituada a ver tudo muito baratinho por cá. E tem pouca gente lá, ao contrário dos outros países. Normal... Tinha ido com uma amiga comprar um cabo USB a uma lojinha, onde custou 35 reais (cerca de 13 euros). Na Fnac, um cabo semelhante, mas nem era tão xpto, custava 100 reais (cerca de 40 euros). Que escândalo!
Não há aqui mais nada que se assemelhe às coisas de Portugal. Tenho saudades de ver umas casinhas pequeninas, áreas onde se possa alcançar um espírito mais calmo. Sinto-me uma formiguinha no meio de milhões de outras formiguinhas, que, por mais que corram, não saem do mesmo sítio... Olhando para o mapa, acho que demoraria dias e dias para atravessar as ruas todas desta cidade. Quanto mais do Brasil!!
Eu também não tenho os melhores exemplos. Escolhi sempre países bem pequeninos para morar... Portugal não é nada grande, mas a Holanda, diga-se, é uma coisa minúscula... Até na redacção eu me vou sentir perdida. Consta que, não fugindo do padrão do que é este país, é uma coisa gigante. O nervoso também já ataca. Afinal de contas, não é todos os dias que se entra numa das maiores redacções do mundo!!

sábado, 20 de outubro de 2007

Primeiras impressões

Nutro um carinho especial pela Rua dos Holandeses. Mas, aqui na minha zona, todas as ruas são dedicadas a outros povos. Eu moro na Rua dos Franceses, numa pousada / residência / albergue da juventude / hostel. O jardim é acolhedor e as pessoas muito simpáticas. Há por aqui muitos brasileiros, mas também muitos estrangeiros. Conheci um rapaz que era brasileiro, morou muitos anos nos Estados Unidos e naturalizou-se português na semana passada. Enquanto me contava isto e mostrava, orgulhoso, o passaporte português, o Flávio, um dos recepcionistas, contou-me que os antepassados dele são portugueses. Qual é o meu espanto quando descubro que é descendente do Salazar. Encavacada, tentando esconder o ódio que tenho a essa personagem da história portuguesa, lá lhe contei do programa que o elegeu como o português de sempre.
Já conheço as principais áreas da cidade. Quanto aos museus, ainda só visitei o MASP - Museu de Arte de São Paulo - , onde tem obras dos vários pontos do mundo, da pintura à escultura, e uma exposição especial sobre a Bauhaus. Passei horas naquele museu.
É incrível como uma cidade pode ter tanta oferta cultural. Isso deixa-me extasiada. Há o TIM Festival, um festival que traz a São Paulo vários concertos, como Björk, Artic Monkeys, entre outros. Não posso perder! Simultaneamente, há o festival internacional de cinema. Ainda não sei bem como funciona. E muitas outras coisas, a qualquer esquina da rua, cafés, teatros, etc.
Em breve, a bienal de arquitectura, dedicada a um dos arquitectos que mais admiro, Oscar Niemeyer. Este arquitecto é, aliás, o responsável pelo edifício mais incrível que eu vi até agora aqui em São Paulo: o edifício Cópan, onde moram cerca de 5000 pessoas e onde existe também um shopping. É, segundo o moço do posto de turismo, o edifício que abriga mais pessoas em todo o mundo.
A rapariga que me falou dos escândalos policiais, do Rio, tem sempre imensas coisas para dizer. Bastante melga. Mas agora também me dou bem com uma colombiana, a Viviana, e fomos hoje passear por aí. Caminhamos como se o amanhã não existisse. Entretanto, já tenho estadia se for a Bogotá. E no Rio de Janeiro também. Que pessoas simpáticas que eu conheço.
Quanto à simpatia brasileira, confesso que estou um pouco desiludida. Parecem pessoas muito alegres e simpáticas. Mas, no fundo, não deixando de mostrar alegria e agitação, acho que são muito depressivos e levam a mal qualquer coisa. Talvez isso aconteça só em São Paulo.
E por falar em brasileiros... a história dos meus tios não acabou. Ontem, ligaram-me para me vir buscar e eu passar o fim de semana em casa deles. Ofereceram-me fruta e dinheiro, 'ninguém precisa de saber!', comentavam. Faltou pouco para ser mal educada com eles... Consegui livrar-me dessa. Mas, não tinham passado dois minutos, a tia fortona ligou outra vez... Desta feita, para pedir desculpa por ter oferecido dinheiro. Hoje, quando cheguei à residencia, a tia Lurdes já tinha ligado. Eu começo a achar que, afinal de contas, sou famosa aqui no Brasil. Ninguém recebe tantas chamadas como eu!! A gerente também já me conhece. Por causa dos meus tios, obviamente. Mas até ela é muito simpática e todos compreendem o meu drama.
Segunda-feira já estou a trabalhar, e, aí, começo a ter coisas mais importantes com que me preocupar. Está quase! E estou ansiosa!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

A saga continua

Acordei cedo, depois de poucas horas de sono. Não perdi tempo para ir passear... conhecer as redondezas. Tinha ficado de ligar à tia Conceição, mas precisava de tempo para mim, por isso pensei ligar-lhe ao fim do dia. Troquei dinheiro, fui ao posto turístico, visitei tudo o que há para visitar na Avenida Paulista e, eram 18horas locais quando cheguei à residência. Ia ligar à minha mãe do telefone da residência, quando deparo com o tio Anastácio e a tia Conceição a sairem da recepção.
Claro, não podia deixar de ser! A tia pediu-me para ir com ela lá fora, porque queria falar comigo. Eu lá pedi desculpa tinha-me ¨esquecido¨ de ligar-lhe. Ela estava muito preocupada, porque não sabia se estava tudo bem e já tinha tentado telefonar, mas eu não estava. ¨Sabe, eu quando vi aqueles homens na recepção e aquele negrão nos atendendo... é que há negrão bonito, mas aquele...¨, contava a tia. ¨O tio Anastácio até trouxe uma faca¨.
Ai, não. Eu nem queria saber. Limitava-me a dizer que estava tudo bem e que não queria que eles se preocupassem. ¨Não, mas agora estou mais descansada. Andei perguntando nas redondeza e me disseram que era bom aqui, que até vem estrangeiro...¨. Posto isto, passaram à parte do próximo encontro. No dia seguinte o tio ia passar lá para me levar fruta. E depois passava o fim de semana em casa deles. Ah! E se precisasse de sabonete, estava à vontade. Não sei porque tiraram esta ideia do sabão, mas cá para mim eles acham que os portugueses são uns sabujos e que, portanto, sendo eu sabuja, não tinha trazido nada para me lavar. (até porque eu disse que tinha comprado uma toalha, porque me tinha esquecido de trazer). Desmarquei-me.
Bom, foi complicado, mas lá consegui despachar os senhores. Queria ligar à minha mãe. Essa sim, tinha razões para estar preocupada (se bem que não estava muito, acho eu).
Depois de telefonar-lhe fui à cozinha e toda a gente ficou a olhar para mim com ar estranho. Não estava a perceber. 'Olha ela aí, ó...', dizia a senhora a cozinha, que acho que é cozinheira. Por amor de Deus, o que é que era agora? Os meus tios tinham estado lá e perguntaram a toda a gente se me tinham visto. Por várias vezes, perguntaram à minha companheira de quarto se eu já tinha chegado. Cheguei à conclusão que eles já estavam à minha espera há cerca de 2 horas. E pior... Também lá tinham estado de manhã. Para além de terem telefonado várias vezes. Ninguém sabia dizer se eu estava bem, porque ninguém ainda sabia o meu nome. Agora já sabem... pelos piores motivos, mas... agora já sabem. Não tardava a ter um mandato de captura... sei lá!!
Depois desta conversa, passei pelo recepcionista que tinha um recado para mim. A tia Lurdes tinha telefonado. Sim, a tia Lurdes também... e deixou todos os contactos para eu entrar em contacto com ela. Mas eu não telefonei. Tinha a certeza de que a tia Conceição ia ligar-lhe a dizer que eu estava bem.
Um pouco mais tarde, a tia Conceição ligou-me a perguntar se estava tudo bem e a pedir desculpa por ter ido lá ter. Não sei porquê, tia!! 'Imágina!...'
Felizmente, a minha estadia no Brasil não trata só de tio Anastácio e companhia. Trata de aprendizagem. Tive longas conversas com uma das colegas de quarto, que está aqui para uma pós graduação em osteopatia, se bem me lembro. Falou-me da incompetência dos médicos brasileiros, e eu da dos portugueses. Entre outras conversas, contou-me uma coisa que me chocou muito. Contou-me que a polícia era muito corrupta. Contou-me que foi assaltada por dois polícias que mais tarde foram presos, juntamente com mais sete polícias que pertenciam à mesma rede de assaltantes. Contou-me que uma esquadra fechou poque todos os polícias dessa esquadra foram presos. E eu que me sentia segura na Avenida Paulista porque via polícia a cada esquina...
No fundo, quanto vale tio Anastácio e companhia para me proteger!!...

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Recepção

Abrem-se as portas envidraçadas e reparo logo num casal ¨assim bem fortão¨ que estava mesmo na frente da multidão e bem centralizado. O bigode do senhor não enganava. É o meu tio Anastácio! E, não fosse eu não perceber isso, o tio trazia um papel que dizia ¨ANASTACIO¨.
Bom, eu sempre pensei que esses papeis que pessoas levam para o aeroporto tivessem o nome da pessoa de quem se espera e não da pessoa que está à espera... Afinal estava enganada. Quem sou eu para contrariar o tio Anastácio!!
Esbocei um sorriso e um ades tímido, embora não se tenho visto bem porque estava tapada com malas. Mas, de um outro ângulo, uma senhora, acompanhada de uma velhota e de outro senhor, deve ter visto esses sinais e veio a correr até ao tio Anastácio enquanto gritava 'Acho que é ela!!'.
Era eu, sim. Parei logo ali a cumprimentaras pessoas, embora não tivesse a certeza de quem fosse a senhora, a velhota e o outro senhor. O tio Anastácio já quase que saltava a grade para me ajudar a carregar as malas, por isso achei por bem dizer que eu ia dar a volta até chegar ao pé deles de novo.
Fiquei com a cara pendurada cinco vezes. Continuo a teimar em dar dois beijos, quando aqui só dão um... Gente fina é outra coisa! E aqui no Braziu, esse povo tuso o que é é chique. Tal como a minha história vai comprovar.
Depois das apresentaçoes começou a guerra. 'Vem prá nossá cásá', diziam todos. O problema é que`'à nossá cásá' eram 3 casas diferentes. Ou, ainda pior, eu já tinha a minha própria cásá. Bom tudo se desenrolou e, ainda sem nada definido, a malta começou a ir em direcção a algum lado que eu não sabia qual era porque não sabia como é que tudo tinha ficado decidido. Dei por mim às voltas no parque de estacionamento e percebi que íamos para o carro do tio Manuel, o outro senhor, que, afinal de contas, é o filho da tia Lurdes, a velhota, irmã do tio Anastácio, que é irmão da minha avó, ou seja, tio da minha mãe. O tio Anastácio não me deixava lavar as malas. Mas, bem... não me importei.
Chegámos ao carro. Éramos 6 pessoas e 3 malões para seguir viagem. 'Não, não vamo aí, viemo só acompanha ocês', dizia a tia Conceição, a mulher do tio Anastácio. Sem grande confiança, o tio Manuel lá deixou escapar que talvez coubéssemos todos no carro, pelo que o tio Anastácio aceitou, sem demoras, a boleia 'Cábémo sim, bora lá.'
Pronto, lá foi o tio Anastácio no lugar da frente, à vontade, confirmando precisamente que cabiamos. Eu, a velhota, a mulher do tio Manuel e a minha tia 'bem fortona' Conceição fomos sentadas (ou deveria dizer contorcidas) no banco de trás.
E fomos para casa do tio Anastácio, a custo, uma vez que todos diziam caminhos diferentes para ir para casa e acabamos por ir dar uma grande grande volta. Com relutância, o tio Manuel, a mulher e a velhota regressaram às suas casa, extremamente xateados por eu não ter ido com eles.
Então o tio Anastácio saiu para ir buscar uma pizza para o jantar. Enquanto isso, a tia Conceição fez um chá de Mélicia (seja lá o que isso for), contou-me todas as angústias da vida dela, mostrou onde escndia o seu dinheiro todo, prometeu-me heranças, adoptou-me e deu-me um sabonete, porque eu podia precisar (não sei bem por que se lembrou dessa...).
A casa era estranha. Na verdade, era uma escola primária adaptada a casa. Uma cozinha gigante, sala enorme, uns quantos quartos, jardim e garagem (que era uma loja). A cozinha estava bastante vazia poque , segundo a tia, 'Anastácio não quer furar a parede e então não pode comprar aquele armário bonito que às vezes ocê vê na revista'.
Lá chegou o tio Anastácio (graças a Deus) com pizza. Obrigaram-me a pôr azeita por cima da pizza, por mais que eu achasse isso uma coisa estranha e que não goste de azeite. O tio também me pôs azeitonas no prato, por mais que eu não goste. Mas aí a tia salvou-me porque não me deixou comer: as azeitonas já tinham mais de um ano, já são de quando ele foi a Portugal.
De seguida obrigaram-me a ligar para a minha residência a pedir para não ficar lá, porque estava com os tios. E tive que ligar. Mas não insisti. Felizmente disseram-me que não dava, que tinha mesmo que ir. Mas a tia quis ligar outra vez, agora com ela a falar com o recepcionista para o convencer. Mas o meu anjo da guarda, desta vez, estava comigo. E o que é certo é que eles tiveram que me levar à residência.
Eis que surge mais uma aventura. O carro era amarelo torrado, não sei de que marca, mas parecia aí dos anos 30. Não tinha espelhos laterais e o banco de trás estava cobertode papelão. Os bancos da frente, bem recostados para trás, não tinham já outra posição. Mala, não havia lá disso. Lá foi a Helga, atrás, juntamente com os malões, esmagada com o peso da tia 'bem fortona' que ia nobanco da frente (ou deveria dizer o banco de cima?).
O carro lá pegou, mas não por muito tempo. Mas o tio lá conseguiu voltar a ^pô-lo a trabalhar. Não por muito tempo. E assim sucessivamente. Fiquei atravessada nos cruzamentos mais perigosos, nos sítios mais estranhos, e pior: eles não sabiam bem onde era.
A tia fortona rezou a viagem toda. Só parava quando pedia ao tio para não sair assim do carro para perguntar o caminho, deixando-nos ali sozinhas, porque podia vir um trombadinha ( aka ladrão).
Depois de muitas voltas, cheguei ao meu destino, paguei, despachei os tios, instalei-me. Mesmo quase a adormecer, vêm bater-me à porta. Tinha a tia no telefone, lá em baixo na recpção. A tia chorava e perguntava se eu não queria mesmo ir para a casa deles. Diz que achou a residencia muito esquisita e perigosa. Tentei descansá-la, mas já não ia dormir de noite de qualquer das formas. Fiquei de lhe ligar no dia seguinte. E fui dormir, descansadinha da vida. Estava, finalmente, em São Paulo.
Não percam os próximos episódios... Garanto que vale a pena.