quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Recepção

Abrem-se as portas envidraçadas e reparo logo num casal ¨assim bem fortão¨ que estava mesmo na frente da multidão e bem centralizado. O bigode do senhor não enganava. É o meu tio Anastácio! E, não fosse eu não perceber isso, o tio trazia um papel que dizia ¨ANASTACIO¨.
Bom, eu sempre pensei que esses papeis que pessoas levam para o aeroporto tivessem o nome da pessoa de quem se espera e não da pessoa que está à espera... Afinal estava enganada. Quem sou eu para contrariar o tio Anastácio!!
Esbocei um sorriso e um ades tímido, embora não se tenho visto bem porque estava tapada com malas. Mas, de um outro ângulo, uma senhora, acompanhada de uma velhota e de outro senhor, deve ter visto esses sinais e veio a correr até ao tio Anastácio enquanto gritava 'Acho que é ela!!'.
Era eu, sim. Parei logo ali a cumprimentaras pessoas, embora não tivesse a certeza de quem fosse a senhora, a velhota e o outro senhor. O tio Anastácio já quase que saltava a grade para me ajudar a carregar as malas, por isso achei por bem dizer que eu ia dar a volta até chegar ao pé deles de novo.
Fiquei com a cara pendurada cinco vezes. Continuo a teimar em dar dois beijos, quando aqui só dão um... Gente fina é outra coisa! E aqui no Braziu, esse povo tuso o que é é chique. Tal como a minha história vai comprovar.
Depois das apresentaçoes começou a guerra. 'Vem prá nossá cásá', diziam todos. O problema é que`'à nossá cásá' eram 3 casas diferentes. Ou, ainda pior, eu já tinha a minha própria cásá. Bom tudo se desenrolou e, ainda sem nada definido, a malta começou a ir em direcção a algum lado que eu não sabia qual era porque não sabia como é que tudo tinha ficado decidido. Dei por mim às voltas no parque de estacionamento e percebi que íamos para o carro do tio Manuel, o outro senhor, que, afinal de contas, é o filho da tia Lurdes, a velhota, irmã do tio Anastácio, que é irmão da minha avó, ou seja, tio da minha mãe. O tio Anastácio não me deixava lavar as malas. Mas, bem... não me importei.
Chegámos ao carro. Éramos 6 pessoas e 3 malões para seguir viagem. 'Não, não vamo aí, viemo só acompanha ocês', dizia a tia Conceição, a mulher do tio Anastácio. Sem grande confiança, o tio Manuel lá deixou escapar que talvez coubéssemos todos no carro, pelo que o tio Anastácio aceitou, sem demoras, a boleia 'Cábémo sim, bora lá.'
Pronto, lá foi o tio Anastácio no lugar da frente, à vontade, confirmando precisamente que cabiamos. Eu, a velhota, a mulher do tio Manuel e a minha tia 'bem fortona' Conceição fomos sentadas (ou deveria dizer contorcidas) no banco de trás.
E fomos para casa do tio Anastácio, a custo, uma vez que todos diziam caminhos diferentes para ir para casa e acabamos por ir dar uma grande grande volta. Com relutância, o tio Manuel, a mulher e a velhota regressaram às suas casa, extremamente xateados por eu não ter ido com eles.
Então o tio Anastácio saiu para ir buscar uma pizza para o jantar. Enquanto isso, a tia Conceição fez um chá de Mélicia (seja lá o que isso for), contou-me todas as angústias da vida dela, mostrou onde escndia o seu dinheiro todo, prometeu-me heranças, adoptou-me e deu-me um sabonete, porque eu podia precisar (não sei bem por que se lembrou dessa...).
A casa era estranha. Na verdade, era uma escola primária adaptada a casa. Uma cozinha gigante, sala enorme, uns quantos quartos, jardim e garagem (que era uma loja). A cozinha estava bastante vazia poque , segundo a tia, 'Anastácio não quer furar a parede e então não pode comprar aquele armário bonito que às vezes ocê vê na revista'.
Lá chegou o tio Anastácio (graças a Deus) com pizza. Obrigaram-me a pôr azeita por cima da pizza, por mais que eu achasse isso uma coisa estranha e que não goste de azeite. O tio também me pôs azeitonas no prato, por mais que eu não goste. Mas aí a tia salvou-me porque não me deixou comer: as azeitonas já tinham mais de um ano, já são de quando ele foi a Portugal.
De seguida obrigaram-me a ligar para a minha residência a pedir para não ficar lá, porque estava com os tios. E tive que ligar. Mas não insisti. Felizmente disseram-me que não dava, que tinha mesmo que ir. Mas a tia quis ligar outra vez, agora com ela a falar com o recepcionista para o convencer. Mas o meu anjo da guarda, desta vez, estava comigo. E o que é certo é que eles tiveram que me levar à residência.
Eis que surge mais uma aventura. O carro era amarelo torrado, não sei de que marca, mas parecia aí dos anos 30. Não tinha espelhos laterais e o banco de trás estava cobertode papelão. Os bancos da frente, bem recostados para trás, não tinham já outra posição. Mala, não havia lá disso. Lá foi a Helga, atrás, juntamente com os malões, esmagada com o peso da tia 'bem fortona' que ia nobanco da frente (ou deveria dizer o banco de cima?).
O carro lá pegou, mas não por muito tempo. Mas o tio lá conseguiu voltar a ^pô-lo a trabalhar. Não por muito tempo. E assim sucessivamente. Fiquei atravessada nos cruzamentos mais perigosos, nos sítios mais estranhos, e pior: eles não sabiam bem onde era.
A tia fortona rezou a viagem toda. Só parava quando pedia ao tio para não sair assim do carro para perguntar o caminho, deixando-nos ali sozinhas, porque podia vir um trombadinha ( aka ladrão).
Depois de muitas voltas, cheguei ao meu destino, paguei, despachei os tios, instalei-me. Mesmo quase a adormecer, vêm bater-me à porta. Tinha a tia no telefone, lá em baixo na recpção. A tia chorava e perguntava se eu não queria mesmo ir para a casa deles. Diz que achou a residencia muito esquisita e perigosa. Tentei descansá-la, mas já não ia dormir de noite de qualquer das formas. Fiquei de lhe ligar no dia seguinte. E fui dormir, descansadinha da vida. Estava, finalmente, em São Paulo.
Não percam os próximos episódios... Garanto que vale a pena.

3 comentários:

MS disse...

Oh minha linda...
Não sei se hei-de ter pena de ti ou inveja. Mas de facto a tua chegada foi bastante atribulada...Lol.
A tua tia "bem fortona" deve ser uma moca..
Espero que não apanhes nenhuma trombadinha e que tudo te corra bem por terras de Vera Cruz.
Um grande beijo! :)
Marisa Soares

i disse...

Bem, o que eu me ri com este post! Ainda me estou a rir! Só tu, só tu, só tu!! vivó tio Anástácio (com pronuncia brasileira) e a tia "fortona". Boa sorte biscoita! espero notícias!

P.S. tens que mudar isto pq só dá para bloggers comentarem

Unknown disse...

Helguinha, não sabia que ias embora... miga boa sorte aí no Brásiu... imagino a tua cara no carro com a tia em cima :) hihihi juro k imagino akele riso k fazes nestas situações... dá noticias beijo gande e boa sorte...